sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Os pecados capitais

Existem, na doutrina da Igreja Católica, sete pecados considerados capitais, isso porque, como os define São Tomás de Aquino, deles se originam inúmeros outros pecados. O Doutor Angélico analisa, em sua obra, a experiência acumulada sobre o homem ao longo de séculos. Se o filosofar tomista é sempre voltado para a experiência e para o fenômeno, mais do que em qualquer outro campo, é quando trata dos vícios que seu pensamento mergulha no concreto, pois, reportando-se a Dionísio, malum autem contingit ex singularibus defectis ("para conhecer o mal é necessário voltar-se para os modos concretos em que ele ocorre").
A definição dos pecados capitais ocorreu no século IV, em um processo considerado por alguns historiadores eclesiásticos de organização da experiência antropológica, ao ser feita uma tomografia da alma humana. Então, no que diz respeito aos vícios, surge a doutrina dos pecados capitais, por São Gregório Magno e São João Cassiano, definindo-a com base nas fontes da Revelação, e São Tomás os enumera como: orgulho, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Até hoje, embora um relativismo moral "absolva" a consciência de muitos, a Igreja ainda insiste na observância contra esses delitos. Em seu Novo Catecismo, lê-se sobre a doutrina dos sete pecados capitais, fruto da "experiência cristã" (ponto 1866).
É interessante observar que a lembrança desses pecados em um exame de consciência não só prepara o católico para a confissão, mas também serve como fonte de identificação para o defeito dominante que determina os outros, chamado de pecado hegemônico. Essa doutrina, que, como tantas outras descobertas antropológicas dos antigos, está hoje esquecida, bem poderia ajudar ao homem contemporâneo em sua desorientação moral e antropológica. Os pecados capitais vão além do nível individual. Iniciando-se no coração da pessoa, eles se concentram em determinados ambientes, instalando-se em determinadas instituições.
Para melhor situar essas faltas em nossos dias, temos o exemplo da corrupção que vigora nos meios políticos, que se identifica como a avareza, aniquilando o interesse generoso e correto para o desenvolvimento e os cidadãos da nação, em prol de benefícios financeiros próprios. Na realidade urbana, o aumento da violência relaciona-se à ira e à gula, esta representada pelo uso de drogas e o consumo exagerado de bebidas. Aliás, o Príncipe dos Apóstolos já alertava os primeiros cristãos: "Vigiai e sede sóbrios", fortalecendo o espírito a fim de evitar que os pecados capitais tomem conta da vida das pessoas.
Estudar e entender os pecados capitais é um grande proveito para o progresso espiritual e santidade do católico, ao reconhecer suas fraquezas e, por meio de práticas penitencias, buscar viver as virtudes cristãs. Entretanto, só com humildade, a exemplo de tantos santos, alcançar-se-ão as virtudes. Santa Teresa D'Ávila considerava a humildade como o chão das virtudes: "Qualquer virtude sem humildade cai, pois fica no ar sem ter em que se prender; assim ela não cresce, tão pouco se desenvolve".É por depender da humildade que os homens abrem mão das virtudes, da graça divina, e continuam a rastejar pelos vales dos vícios...
05/01/2006