A Igreja Católica vive, nesta época do ano, o Tempo da Quaresma. É um tempo em que os fiéis são convidados à prática da penitência, à conversão, à santificação, enfim, um tempo que revivifica as almas, reconduzindo-as às fontes abundantes da vida.
Além dos exercícios de piedade que a Santa Igreja aconselha para durante a Quaresma, outros, oriundos da devoção popular e preservados ao longo dos séculos são praticados pelos católicos. Um desses costumes, pouco conhecido em nossos dias, é o da Encomendação das Almas, que se fazia durante as sextas-feiras deste tempo litúrgico.
Essa tradição vinda dos países ibéricos tinha por finalidade rezar pelas almas do Purgatório. Por se tratar de um ritual para-litúrgico, era feita sem a presença do clero, sendo mantida apenas por leigos. A cerimônia iniciava-se no portão de algum cemitério e, durante o percurso da procissão que se formava, faziam-se sete paradas, entre cemitérios, igrejas ou oratórios, cruzeiros e encruzilhadas. No local, tocava-se a matraca, convidando os presentes ao silêncio e para acordar os que estivessem em casa dormindo, chamando-os para rezar pelos mortos. Em seguida, o coro (geralmente eram os músicos quem organizavam essas encomendações) cantava uma música cuja letra pedia oração pelos mortos, seguindo-se a recitação do "Réquiem æternam dona eis, Domine..." (Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno...). Novamente tocava-se a matraca e o préstito se deslocava para outro lugar.
Desse ritual lúgubre, que não ficou isento de lendas e superstições, apenas os homens participavam, cobertos de alvas túnicas e encapuzados. No coro, as partes de vozes femininas eram cantadas por um menino cantor, fazendo o tiple, e um tenor em falsete fazia a parte de contralto.
Em Minas, onde a Encomendação das Almas foi muito difundida no século 18, fizeram até música própria para esse ritual. O capitão Manoel Dias de Oliveira, falecido em 1813 na Vila de São José del Rei, numa harmoniosa peça a 4 vozes, com acompanhamento de madeiras, trompas e baixo, usou o seguinte texto: "Alerta, mortais! Alerta! / Que é tempo, como está visto, / Que a paixão de Jesus Cristo / Sua morte faz lembrar. - E porque duvidais, / Como é certo, mandar Ele / Que oreis por todo aquele / Que ele veio libertar. - Lembrai-vos daqueles / Que, em pranto desfeito, / Já sentem o efeito / Da triste agonia. - Dai-lhes, por piedade, / O socorro vosso / Por um Padre-nosso e Ave-Maria".
Em nossos dias, já não se conhece mais esse tipo de sufrágio pelas almas, senão nos lugares onde ainda conservam essa tradição. Sua prática, também, não mais impressiona as pessoas, como naquela época em que elas, desprovidas de luz elétrica, eram acordadas no meio da noite pelo som da matraca, pelo murmúrio da reza e o plangente canto. Essa cena tétrica deu origem a muitas delas. Uma delas conta que uma certa pessoa, não contendo sua curiosidade e correndo à janela para ver o que se passava na rua, teria recebido, de um dos acompanhantes do cortejo, uma vela. Percebendo, somente no dia seguinte, que recebera uma canela de defunto...Coisas de antanho que se vão perdendo com o tempo.
Além dos exercícios de piedade que a Santa Igreja aconselha para durante a Quaresma, outros, oriundos da devoção popular e preservados ao longo dos séculos são praticados pelos católicos. Um desses costumes, pouco conhecido em nossos dias, é o da Encomendação das Almas, que se fazia durante as sextas-feiras deste tempo litúrgico.
Essa tradição vinda dos países ibéricos tinha por finalidade rezar pelas almas do Purgatório. Por se tratar de um ritual para-litúrgico, era feita sem a presença do clero, sendo mantida apenas por leigos. A cerimônia iniciava-se no portão de algum cemitério e, durante o percurso da procissão que se formava, faziam-se sete paradas, entre cemitérios, igrejas ou oratórios, cruzeiros e encruzilhadas. No local, tocava-se a matraca, convidando os presentes ao silêncio e para acordar os que estivessem em casa dormindo, chamando-os para rezar pelos mortos. Em seguida, o coro (geralmente eram os músicos quem organizavam essas encomendações) cantava uma música cuja letra pedia oração pelos mortos, seguindo-se a recitação do "Réquiem æternam dona eis, Domine..." (Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno...). Novamente tocava-se a matraca e o préstito se deslocava para outro lugar.
Desse ritual lúgubre, que não ficou isento de lendas e superstições, apenas os homens participavam, cobertos de alvas túnicas e encapuzados. No coro, as partes de vozes femininas eram cantadas por um menino cantor, fazendo o tiple, e um tenor em falsete fazia a parte de contralto.
Em Minas, onde a Encomendação das Almas foi muito difundida no século 18, fizeram até música própria para esse ritual. O capitão Manoel Dias de Oliveira, falecido em 1813 na Vila de São José del Rei, numa harmoniosa peça a 4 vozes, com acompanhamento de madeiras, trompas e baixo, usou o seguinte texto: "Alerta, mortais! Alerta! / Que é tempo, como está visto, / Que a paixão de Jesus Cristo / Sua morte faz lembrar. - E porque duvidais, / Como é certo, mandar Ele / Que oreis por todo aquele / Que ele veio libertar. - Lembrai-vos daqueles / Que, em pranto desfeito, / Já sentem o efeito / Da triste agonia. - Dai-lhes, por piedade, / O socorro vosso / Por um Padre-nosso e Ave-Maria".
Em nossos dias, já não se conhece mais esse tipo de sufrágio pelas almas, senão nos lugares onde ainda conservam essa tradição. Sua prática, também, não mais impressiona as pessoas, como naquela época em que elas, desprovidas de luz elétrica, eram acordadas no meio da noite pelo som da matraca, pelo murmúrio da reza e o plangente canto. Essa cena tétrica deu origem a muitas delas. Uma delas conta que uma certa pessoa, não contendo sua curiosidade e correndo à janela para ver o que se passava na rua, teria recebido, de um dos acompanhantes do cortejo, uma vela. Percebendo, somente no dia seguinte, que recebera uma canela de defunto...Coisas de antanho que se vão perdendo com o tempo.
01/03/2005