sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O mundo das idéias

Em divagações vesperais, solitário, escondendo-me do castigante frio que nos tem visitado nos últimos dias, ou melhor, nas últimas semanas, permito-me ser levado por pensamentos múltiplos, até que me encontro a pensar no mundo das idéias. Ao falar do mundo das idéias, não me refiro àquele do filósofo Platão, aquele local distante, como que na Lua, mas analiso o mundo sub lunaria, terrestre, o mundo dos homens, mundo tecnológico, científico, filosófico, o mundo político, social e familiar. E quem governa esse mundo não é a força física, atlética, muito menos a força bélica ou política, mas a força do pensamento, do raciocínio, das idéias; o resto é conseqüência.
São as idéias que fazem o herói ou o fanático, que moldam o caráter de um construtor ou de um revolucionário, que regem os princípios de um cristão ou de um herege, que conduzem as metas de um educador ou de um manipulador, que "constroem" um homem ou um monstro. As ações, no início, podem até ser semelhantes, mas as idéias é que fazem a diferença, e as conseqüências mais ainda. Idéias postas como meta e princípio de ação chamam-se ideais. Foram idéias, por exemplo, de "pão e circo" que fizeram a decadência do Império Romano, assim como o ideal de disciplina e austeridade havia feito a sua grandeza. Da mesma forma como os ideais cristãos transformaram os bárbaros, violentos e destruidores, em pacíficos e ordeiros agricultores, construtores de uma sociedade considerada, por muitos, quase perfeita e dos grandes monumentos góticas do Velho Mundo, que, ainda hoje, os que restam, encantam a todos que os contemplam.
Assim, idéias de grandeza e de puritanismo de raça fizeram Hitler e o seu hediondo nazismo; idéias igualitárias, materialistas e atéias de Marx Hegel e Feuerbach geraram o comunismo frio e cruel; idéias fanáticas geram, hoje, os temíveis homens-bomba do Oriente Médio; tudo isso porque as idéias não permanecem na cabeça ou no escritório, por conseguinte elas descem às ruas e às praças, infiltram-se e revelam-se na sociedade, disseminando-se e contaminando a todos, muitas vezes com avassaladores resultados. Obviamente, se tenho como conceito de vida a idéia materialista de que o homem é apenas 70 quilos de carne e osso e que não há alma e nem um Deus remunerador, o que me impediria de satisfazer todas as minhas paixões, ainda que à custa da destruição do meu próximo?
Portanto, cabe aos educadores de nosso tempo formar nos educandos idéias sadias, ou melhor, fazê-los chegar a conclusões de idéias sadias, bem fundamentadas nos princípios morais (que moldam o caráter de cada um) e nos valores éticos (que constroem uma sociedade ilibada); o resto é superficialidade. Educação sem convicções é formalismo; disciplina apenas sob vigilância é militarismo; imposição sem ideal é autoritarismo.As idéias são sementes que, semeadas na ocasião propícia, fertilizam nas ações. Quem cultiva boas idéias colherá boas ações e ajudará a construir este mundo de idéias e de ideais, grandes e nobres; ajudará a construir um mundo melhor.