sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Coisas da natureza humana

Chegou-me às mãos, recentemente, por curiosidade de um bom amigo desejoso de esclarecimentos, um jornaleco de determinada seita religiosa (aliás, nem sei se pode-se denominá-la seita, pois não se sabe de qual ventre foi parida) com infundados ataques contra a Igreja Católica. Não sou autoridade designada para falar em nome da Esposa Imaculada de Cristo, mas sou cristão e o fato de sê-lo me exime de todo respeito humano, impulsionando-me a defendê-la, por ser ela Mãe, como a define os Padres, Santos e Concílios.
Foram três os temas abordados de forma infeliz. O primeiro atribuía as desestruturações sociais, principalmente, dos países de terceiro mundo à calonização católica, inclusive afirmando que a Igreja não promovia e nem permitia a educação desses povos. Ora, isso não passa de parolice maldizente; esquecera-se o desditoso articulista, ou nunca soube (por tratar-se de um mal informado de quatro costados) que foi a Igreja quem promoveu a fundação das grandes universidades, ainda na Idade Média, e que às colônias dos reinos cristãos acorriam os missionários para levar a luz da Verdade e todo o tipo de formação necessária aos gentios. Ainda na mesma execrável página, o autor do tão repugnante texto não poupou críticas ao Tribunal do Santo Ofício e a questões de disciplina eclesiástica.
Nunca a Igreja, santa em seu Fundador e sempre pura na sua doutrina e na sua moral, deixou de encaminhar os seus filhos para a prática das mais belas e até das mais heróicas virtudes. E, por isso, não obstante as fraquezas da humanidade e a grande força das paixões, jamais deixou de haver entre os católicos uma grande multidão de santos, de apóstolos, de mártires, de homens de grande e nobre caráter, incapazes de baixezas e prontos a levar a cabo obras da mais elevada perfeição e da mais sublime caridade. Mas não deixa o cristão de ser um homem livre, e nem a graça do batismo, nem também a do sacerdócio aniquilam as propensões que o puxam para o mal. Mesmo no Colégio Apostólico houve quem atraiçoasse o Divino Mestre. E no correr dos séculos houve sacerdotes, bispos e até Papas, que faltaram às obrigações do seu estado.
E o que se segue daí? Que é falsa a sua doutrina? Mas nunca a esta doutrina nem à Igreja docente foi jamais concedido o privilégio da impecabilidade. Deduz-se ser impotente para produzir os frutos de virtudes, que ela própria preconiza? Ainda nos tempos mais corruptos contou entre seus filhos santos eminentes que conseguiram reagir contra a corrupção dominante e reformar a sociedade. Em lugar, porém, de admirarem estes prodígios de virtude, operados pela graça sobrenatural num sem número de almas, apesar da impetuosidade das paixões, dão-se os inimigos do catolicismo, com grande afã, a rebuscar, através dos séculos, os abusos e faltas, necessariamente inerentes à frágil natureza humana, para delas fazerem o grande cavalo de batalha na sua guerra contra a religião e para perpetuamente as estarem lançando em rosto à Igreja. Para esses homens não tem importância alguma a obra de regeneração social que ela efetuou: nem eles atentam na luta incessante que ela tem de sustentar contra tudo quanto se opõe à lei divina. Os crimes de alguns celerados, que receberam o batismo, são o grande arsenal para esses farejadores de escândalos. Por isso, não se deve dar crédito a esses pobres coitados que, sem estarem seguros na Barca de Pedro, facilmente, mais cedo ou mais tarde, se soçobrarão nas águas revoltas do oceano de dúvidas, de incompreensões e de amarguras em que navegam. Pobres loucos!
21/102/2005