O célebre poeta brasileiro Vicente de Carvalho, em seu "Poemas e Canções" (São Paulo, 1967, página 1), assim canta a "Esperança":
"Só a leve esperança em toda vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência resumida,
Que uma grande esperança malograda."
E a esta quadra o escritor prossegue com o seu soneto, numa fácil e correta observação psicológica, concluindo seus versos de forma melancólica e pessimista.
"Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca pomos onde nós estamos."
De fato, o homem vive de esperança. Dá-se um rápido e pequeno balanço à nossa própria vida e encontra-se sempre a esperar alguma coisa boa. Melhoria no emprego, saúde, férias, comprar algo que lhe aguça o ímpeto consumista, conquistar a benevolência de outrem ou sua profunda e decisiva simpatia etc. Só com isso, com a esperança, se vive; sem ela tornar-se-ia impossível suportar o pesa da vida.
Por isso, o poeta, depois de bem observar, conclui, amargo, não ser a vida toda, em suma, outra coisa senão "uma grande esperança malograda". Para muitos é assim; mas para outros a vida é mais risonha, oferece bons momentos, atende a alguns anseios. Porém, ao fim, tudo passa. E, o que vem raro, vem como foi sonhado. É aí que Vicente de Carvalho se mostra um pessimista radical, para quem a vida não passa de um engodo, sem nenhum sentido. E somos forçados a concordar com ele, desde que permaneçamos encarcerados nos horizontes terrestres.
Por outro lado, a verdadeira vida, a do cristão, volta-se para bens reais e elevados, embora invisíveis, todavia prometidos por Quem pode prometer e sustentar em sua peregrinação. A verdadeira vida também se alimenta da Esperança. Num outro ponto de vista, os bens são invisíveis, futuros, além do horizonte, mas certos e saciantes. Eles não nos decepcionarão. Antes, ultrapassarão de muito a expectativa: "Nem olhos jamais viram, nem ouvidos jamais ouviram, nem coração jamais sondou o que Deus preparou para os que O amam" (I Cor 2,9).
Para alcançar essa segunda virtude teologal, urge professar a primeira: a Fé. Por ela é que sabemos existir esses bens inefáveis; sabemos que Quem os prometeu é infinitamente poderoso, infinitamente bom e absolutamente fiel. Vivendo disto, vivemos da Esperança e sem ela não se pode viver. Com a Esperança, a vida não só tem sentido sempre, como se torna, a cada dia mais, caminho, degrau, em todas as coisas, nas alegrias e nas tristezas, nos triunfos e nas amarguras, desde que tudo seja feito e suportado com os olhos, mirando além do horizonte, sub specie æternitatis.
A vida vale a pena ser vivida e isso porque a Esperança nos dá alento e sentido a ela, permitindo-nos passar pelos bens temporais sem perder os eternos. Só assim se chegará, um dia, à plenitude da graça e gozar da visão beatífica, junto Daquele que se esperou a vida toda.Aí está como esse alento da vida sustenta, eleva, arrebata e, por fim, aquieta e alegra. Por isso, São Paulo diz estarem os cristãos "salvos em esperança" (Rom 8,24), exortando-os a serem "alegres na esperança" (Rom 12,12). Assim, por mais um desses paradoxos do cristianismo, este "vale de lágrimas" se converte em vale de alegria, escondida, sim, mas profunda, real, alegria que ninguém poderá nos tirar: in spe gaudentes.
"Só a leve esperança em toda vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência resumida,
Que uma grande esperança malograda."
E a esta quadra o escritor prossegue com o seu soneto, numa fácil e correta observação psicológica, concluindo seus versos de forma melancólica e pessimista.
"Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca pomos onde nós estamos."
De fato, o homem vive de esperança. Dá-se um rápido e pequeno balanço à nossa própria vida e encontra-se sempre a esperar alguma coisa boa. Melhoria no emprego, saúde, férias, comprar algo que lhe aguça o ímpeto consumista, conquistar a benevolência de outrem ou sua profunda e decisiva simpatia etc. Só com isso, com a esperança, se vive; sem ela tornar-se-ia impossível suportar o pesa da vida.
Por isso, o poeta, depois de bem observar, conclui, amargo, não ser a vida toda, em suma, outra coisa senão "uma grande esperança malograda". Para muitos é assim; mas para outros a vida é mais risonha, oferece bons momentos, atende a alguns anseios. Porém, ao fim, tudo passa. E, o que vem raro, vem como foi sonhado. É aí que Vicente de Carvalho se mostra um pessimista radical, para quem a vida não passa de um engodo, sem nenhum sentido. E somos forçados a concordar com ele, desde que permaneçamos encarcerados nos horizontes terrestres.
Por outro lado, a verdadeira vida, a do cristão, volta-se para bens reais e elevados, embora invisíveis, todavia prometidos por Quem pode prometer e sustentar em sua peregrinação. A verdadeira vida também se alimenta da Esperança. Num outro ponto de vista, os bens são invisíveis, futuros, além do horizonte, mas certos e saciantes. Eles não nos decepcionarão. Antes, ultrapassarão de muito a expectativa: "Nem olhos jamais viram, nem ouvidos jamais ouviram, nem coração jamais sondou o que Deus preparou para os que O amam" (I Cor 2,9).
Para alcançar essa segunda virtude teologal, urge professar a primeira: a Fé. Por ela é que sabemos existir esses bens inefáveis; sabemos que Quem os prometeu é infinitamente poderoso, infinitamente bom e absolutamente fiel. Vivendo disto, vivemos da Esperança e sem ela não se pode viver. Com a Esperança, a vida não só tem sentido sempre, como se torna, a cada dia mais, caminho, degrau, em todas as coisas, nas alegrias e nas tristezas, nos triunfos e nas amarguras, desde que tudo seja feito e suportado com os olhos, mirando além do horizonte, sub specie æternitatis.
A vida vale a pena ser vivida e isso porque a Esperança nos dá alento e sentido a ela, permitindo-nos passar pelos bens temporais sem perder os eternos. Só assim se chegará, um dia, à plenitude da graça e gozar da visão beatífica, junto Daquele que se esperou a vida toda.Aí está como esse alento da vida sustenta, eleva, arrebata e, por fim, aquieta e alegra. Por isso, São Paulo diz estarem os cristãos "salvos em esperança" (Rom 8,24), exortando-os a serem "alegres na esperança" (Rom 12,12). Assim, por mais um desses paradoxos do cristianismo, este "vale de lágrimas" se converte em vale de alegria, escondida, sim, mas profunda, real, alegria que ninguém poderá nos tirar: in spe gaudentes.