sexta-feira, fevereiro 20, 2009

A licenciosidade do carnaval

Há muito o carnaval no Brasil perdeu o sentido de entretenimento apenas. Ainda que as origens dessa comemoração sejam pagãs, posteriormente convertidas em uma espécie de “despedida” dos folguedos para se iniciar o tempo de penitência, por um período foi de muita brincadeira e alegria por aqui. Hoje, porém, a licenciosidade impera no reinado de Momo.
Para incentivar mais ainda a promiscuidade no carnaval, se não bastassem as letras insinuantes das músicas e a nudez explorada sob todos os aspectos, o governo contribui de forma eficaz. O tema pode estar saturado, mas deve-se sempre retomá-lo, por constituir-se uma apologia à libertinagem as campanhas que propõem um “prazer seguro”. Isso é um escárnio a uma sociedade que pensara ser formada em princípios morais e religiosos sólidos; entretanto, os ingênuos e oportunistas, quando não dissolutos, cedem ao canto da sereia que os atrai aos escolhos, enquanto se permitem às vagas dos pensamentos corrompidos e das pretensões impuras.
Nessa campanha não se perde nenhuma oportunidade. Em todas as ocasiões e pelos meios de comunicação o escândalo promovido é mais repugnante ainda, colocando crianças e adolescentes à mercê dos insensatos, promotores de uma ilusão barata, de uma confusão, misturando os conceitos que definem a educação sexual, da sexualidade, da afetividade, noutras dimensões além de uma mera informação. Percebe-se que não compreendem que educar, na verdade, é ajudar a crescer, a discernir e a escolher, a respeitar e a comunicar. A campanha de educação sexual que se tem assistido por aí parece andar, para muita gente, unida à convicção de que a atividade sexual não tem limites e é um direito para quem assim o quiser, seja adolescente, jovem ou adulto. Por isso, defende-se a distribuição de preservativos durantes carnaval a todos, inclusive aos adolescentes e jovens, que se enfileiram nesse "cordão" da licenciosidade.
A sexualidade é uma força e um dinamismo de vida que não se esgota na relação sexual, mas se exprime numa relação pessoal alargada e enriquecida de mil maneiras, que traduzem em doação, respeito e ajuda mútua. A atividade sexual, a qualquer nível, é sempre humana e humanizadora, por isso não se pode separar da afetividade. Nunca se fará educação sexual apenas informando ou somando saberes diversos; muito menos essas campanhas surtirão algum efeito nesse sentido, ao possibilitarem a desordem dos sentidos. O verdadeiro processo de educação visa a realização de um projeto de crescimento e de fidelidade, cada vez mais necessário e urgente, requerendo atenção e competência. Que estejam todos atentos.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Ao balouçar do vento

Assistimos, em nossos dias, a uma confusão de idéias e de valores como jamais se viu. Uns atribuem esse fenômeno ao imediatismo da comunicação, outros à liberdade de expressão, dando a cada um o direito de falar o que quer e o que pensa. Realmente, ambas são responsáveis por essa catástrofe. O imediatismo da comunicação é deveras eficiente, tanto que o tempo parece-nos mais veloz; os dias passam como um suspiro e os anos se vão a um leve aceno. A liberdade de expressão é um direito natural, porém quando se sabe expressar e o faz com prudência. Hoje, no entanto, somos obrigados a escutar as levianas colocações e proposições dos boçais que se postam nas tribunas e nas esquinas, a berrar uma miríade de asneiras, sem nenhum nexo no raciocínio ou capacidade de argumentação, desfilando pela imprensa, televisão e, pior, pela internete.
A falta de discernimento do conhecimento é o maior responsável por essa tragédia. O ensino está acessível a uma grande parte da sociedade; já não é privilégio de determinada classe. Isso não basta. O sistema educacional deve ser eficiente e adequado à capacidade daqueles a que se destina. Os estudantes, os universitários, precisam ser estimulados a se aprofundarem nos estudos. É inadmissível a omissão dos órgãos competentes, a indiferença de instituições de ensino preocupadas mais com o rentável empreendimento, a irresponsabilidade dos pais em não impor limites aos filhos e exigir-lhes maior aproveitamento nos estudos.
O resultado vemos por aí: profissionais incompetentes, pessoas de conceitos levianos, incapazes de raciocinar, de argumentar, de defender sua opinião com um sólido pensamento. O resultado disso observa-se na confusão de idéias, na falta de princípios, responsáveis pela corrupção dos valores e das instituições. O resultado disso constata-se na lividez das propostas, ora supérfluas, ora absurdas, com pouca, ou nenhuma, consistência, capaz de corresponder à necessidade do que se propõe ou à expectativa de quem a anseia. O resultado disso é a instabilidade dos momentos, a frivolidade dos anseios, a oscilação da opinião ao balouçar do vento.
Uma grave crise grassa a humanidade, a crise social, que atinge todos os meios de formação do homem, ou seja, a família, a escola, o local de trabalho, inclusive os meios de convivência social. Um mundo de valores efêmeros consome um outro, de uma convicta ortodoxia, de princípios sólidos e valores inabaláveis que, por ser firme como um carvalho, tomba sob o temporal de opções e de contradições, de interesses e preconceitos, aliciando o amor-próprio por meio das tibiezas morais. Dessa forma, sobre a ignorância de tantos, edifica-se um novo mundo, mais alheio e distante dos veros sentidos, essenciais para o resgate dos lídimos valores que restaurarão a dignidade do homem e a sua capacidade de pensar.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

A polêmica em torno de Dom Williamson

Desde há muito, tenho evitado comentar os desenlaces acerca da aproximação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Santa Sé. Essa omissão deve-se ao fato de não me permitir nenhum juízo confuso, até mesmo por tê-la conhecido bem proximamente, nem tampouco fazê-lo de forma temerária. Deus louvado, o Decreto pontifício divulgado em 21 de janeiro, em que suspende a excomunhão dos bispos sagrados por Dom Marcel Lefebvre, em 1988, é um passo significativo e de grande importância para que as tratativas possam avançar de forma mais fraterna, inter pares.
Mas, no auge das comemorações, surge a figura de Dom Richard Williamson, um dos bispos beneficiados com o Decreto. O que teria sido uma entrevista sem muita abrangência para um canal de televisão sueco acabou se tornando um barril de pólvora. O prelado, ao comentar sobre o holocausto dos judeus na Segunda Grande Guerra, teria contestado o número de vítimas que geralmente é divulgado. A propósito, esse comentário mal explicado não é a primeira que se o ouve. Porém, sempre que o fazem reportam-se ao holocausto promovido pelo regime comunista no leste europeu e, mais recente, pelas guerras no Oriente Médio.
A declaração de Dom Williamson, contudo, veio à tona simplesmente por causa da redenção oferecida pelo Santo Padre. Caso contrário, ela teria passado de forma despercebida; basta observar que, salvo engano, ela foi gravada em setembro de 2008.
A celeuma provocada por sua opinião pessoal acabou refletindo sobre a Fraternidade, à qual pertence, no momento em que se consegue romper uma barreira que dificultava o diálogo com Roma. Pior ainda, aqueles que se opõem a essa aproximação dos considerados “tradicionalistas” (aliás, denominação um pouco equivocada, se levar em conta a definição correta de “tradição” e, mais ainda, sua correlação com o Magistério da Igreja), os opositores desse diálogo lançaram mão da figura de Dom Williamson como um protótipo de toda a Fraternidade.
O bispo já se retratou, inclusive escreveu ao Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, desculpando-se pelo infeliz comentário e lamentando-se pelo sofrimento acarretado ao Beatíssimo Padre. Deve-se observar, todavia, que o comentário de Dom Williamson não foi simplesmente leviano. Na entrevista falava-se sobre diversos temas, como política mundial, sociedade contemporânea, enfim, impressões sobre o mundo moderno. Pelo que li de sua entrevista, o comentário não foi de uma tonalidade anti-semítica; uma observação apenas sobre contrastes de tratamento que se dá a assuntos específicos, unicamente por interesses políticos.
Diz o ditado que “há males que vêm para o bem”; esse também talvez seja mais um. Com isso, todos os envolvidos nesse caso devem se posicionar e assumir um posicionamento claro. O superior geral da Fraternidade, Dom Bernard Fellay, mostrou-se disposto ao diálogo e, humildemente, suplicou ao Santo Padre a remissão das penas que o Decreto de 1º de julho de 1988 lhes impusera, a ele e aos demais bispos, Dom Bernard Tissier, Dom Alfonso de Galaretta e Dom Richard Williamson. Mais ainda, o superior já deu mostras que não permitirá divisões entre os seus.
A divergência de opiniões no seio da Fraternidade, doravante, será benéfica. Desta forma, separar-se-á o joio do trigo e se conhecerá quem está disposto a ficar cum Petro, sub Petro.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Vítima da reforma ortográfica

No início do ano letivo, o departamento em que trabalho, numa instituição de ensino, mandou confeccionar uma faixa de boas-vindas aos alunos. Uma simples frase causou dúvidas e transtorno. Como se escreve, após a reforma ortográfica: bem-vindo ou benvindo? De acordo com as regras do hífen, que são as mais complexas e variáveis da reforma, passar-se-ia a grafar “benvindo”. Desta forma, então, foi confeccionada a faixa.
Posta em lugar adrede, a inscrição causou espécie: “Acadêmicos, sejam benvindos!”. No departamento, logo começaram as inquirições sobre a inscrição. Uma professora de português foi consultada e acusou o erro também. No entanto, a regra não é clara quanto a isso. Assim, buscamos esclarecimento à Academia Brasileira de Letras, responsável pela língua pátria.
Qual não foi nossa surpresa, quando recebemos a seguinte resposta: “Pelo novo acordo, o prefixo bem só não terá hífen se o segundo elemento for um derivado de fazer ou querer: benfeito (a), benfeitor, benfazejo, benfeitoria, benquerer, benquisto, benquerença etc. O advérbio bem é usado com hífen em todos os outros casos: bem-administrada, bem-elaborada, bem-estar, bem-criado, bem-falante, bem-ditoso, bem-aventurado, bem-humorado, bem-vindo(s), bem-te-vi, bem-sinalizado, bem-sucedido, bem-nascido etc.”
Realmente, a inscrição estava errada. Razão disso, a controvertida reforma ortográfica, especificamente acerca do uso do hífen. A resposta dada pela ABL não consta em nenhum manual que, até o momento, encontra-se disponível. Pelo visto, assim como a legislação brasileira, a reforma terá exceções surpreendentes, contradizendo umas às outras. Ademais, o acadêmico Evanildo Bechara, considerado maior entendido da reforma já adiantou: “É claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz”.
Pelos próximos anos, certamente, muitas dúvidas nos abordarão. Consola-nos o fato de, no Brasil, a assimilação da reforma ser mais fácil do que nos outros países. O motivo são as reformas anteriores que tivemos, e que foram, de certa forma, suavizando o impacto que causará em Portugal, onde a última reforma ortográfica aconteceu no limiar da República, em 1911. Aliás, naquela época, os lusitanos ultrapassavam os brasileiros com uma revisão da língua que só conseguimos superá-la cerca de trinta anos depois. Por ora, resta-nos irmos adaptando, acostumando e aprendendo mais com os deslizes ortográficos.