sexta-feira, abril 25, 2008

Pelo mundo afora

A recente visita do Santo Padre aos Estados Unidos foi como um reafirmar da posição da doutrina da Igreja Católica, muitas vezes dissonante da voragem de um mundo capitalista, que tem como almenara dessa ideologia perniciosa a América do Norte. Durante sua estadia nos Estados Unidos, Bento XVI apresentou-se como o lídimo Vigário de Cristo que foi levar conforto aos desamparados, dar direcionamento aos desnorteados, defender os oprimidos, apontar os impiedosos, pregar por uma sociedade regida pelos princípios cristãos, sob o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ninguém pode deixar de admitir a austeridade do Bispo de Roma, o Pedro de nossos dias, destemido, ao se indignar com o mau procedimento de alguns padres, repreendendo-os com energia; ao alertar as autoridades daquela grande Nação da importância de um caminhar pari passu com outros países, com atenção especial para aqueles considerados do terceiro mundo; ao falar de paz no fórum das mais expressivas lutas pela ordem mundial, assegurando o bem-estar da humanidade, a Organização das Nações Unidas; ao reafirmar aos seus bispos o múnus episcopal e descortinar para o seu rebanho um mundo que, sem Cristo, não superará as ansiedades políticas e sociais que tanto tormentam.

"Petrus autem taceat". Penso, contudo, que um dos mais significativos momentos da visita do "doce Cristo na Terra" - nas palavras de Santa Catarina de Sena - aos Estados Unidos foi quando se silenciou diante do Ground Zero. Genuflexo, em oração, foi um dos mais altissonantes discursos proferidos na América do Norte. O silêncio de Bento XVI era o sufrágio pelas vítimas da tragédia de 11 de setembro de 2001; era o grito contra a prepotência das grandes Nações; era o clamor pelas almas que se perdem para a voracidade da ambição, do poder, da opressão; era o protesto contra a loucura em nome de uma pseudo fé; era a oração por um mundo que se perde sem Deus.

Porém, o papa taciturno diante do Ground Zero respondia aos muitos questionamentos de um mundo paganizador. Com uma sobrenatural missão profética, advinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, naquele areópago da civilização moderna, o Patriarca do Ocidente, silente, levanta sua voz e incita a construção de um mundo mais humano e solidário, na perspectiva dos Santos Evangelhos e da doutrina católica. A Igreja pode e deve falar de tudo, porque "se estes [os discípulos] se calarem, clamarão as pedras" (Lc 19,40). Por isso a voz do Sucessor de Pedro ecoa por todo o orbe e nem os indiferentes conseguem não se deixar tocar pela graça que Nosso Senhor nos concede.

sábado, abril 19, 2008

Sob um pseudônimo

Quando o diretor do Jornal CORREIO convidou-me para ocupar este espaço, após a morte do Gilberto Victorino, optei por adotar um pseudônimo. Essa opção não foi para sentir-me à vontade para falar sobre o que quisesse, até porque qualquer irresponsabilidade traria à cena o verdadeiro autor. Desejei, a princípio, que os leitores não se deixassem influenciar pelo nome que subscreveria o texto. Depois, para que o discurso não se contradissesse com meus atos; ademais, minha conduta pessoal - enquanto não prejudica a ninguém, direta ou indiretamente - só me diz respeito. Sou um pecador; prefiro adotar este termo, por minhas convicções religiosas, sem hipocrisia. Jamais lançaria mão de minhas limitações e fragilidades para fazer apologia à libertinagem. Por isso adotei um pseudônimo.
E recebo, de certa forma surpreso, no início desta semana, um e-mail do secretário municipal de Cultura censurando a crônica da semana passada. Lamentei profundamente não ter ele compreendido o teor do texto e, pior ainda, ter se definido, ao seu livre arbítrio, nas entrelinhas, o que, aliás, desmentiu as lisonjas ao estilo literário do articulista, incapaz de se fazer compreendido. Equivocado sobre valores evangélicos, apoiado no relativismo dos princípios da caridade fraterna, sem se comprometer com a verdade - "o vosso falar seja sim sim, não não; porque tudo o que passa disso vem do Maligno" (Mt 5,37) [note bem, esse relativismo é quem falta com a verdade, não o missivista, para que não haja dúvidas] - insinua um cinismo no discurso daquele que, até então crente de sua amizade, sente-se, desde então, como um desafeto.
Quod scripsi, scripsi. Não o fiz movido por nenhum ressentimento, até mesmo porque, confesso, não via motivos para desacreditar nos trabalhos que vinham sendo realizados pela administração municipal; cheguei a ressaltar isso, em algumas circunstâncias, impressionado pelo que observava em determinados setores. Minhas simpatias políticas, embora nem um pouco influenciadas por rubras ideologias, também não influenciaram minhas letras, porque no atual sistema nada me seduz, como já me expressei noutras oportunidades, aqui neste mesmo espaço, sob um pseudônimo. Quanto ao odor de minha carne, já sinto o ar da putrefação há tempos, não pela insolência com que é apontada, mas pelas chagas purulentas da decepção. Deus louvado, são essas mesmas vúlneras, com esse fedor repugnante, que me fazem lembrar, a todos os momentos, que nada sou. Nenhum elogio é capaz de me iludir, da mesma forma que nenhuma condição temporária me convence, muito menos do que a muitos que se dizem desapegados, por não necessitar delas para ser o que verdadeiramente sou: um miserável. E justamente por sê-lo não deveria incomodar tanto.
O secretário de Cultura, contudo, mostrou-se grato; uma grande virtude, uma obrigação moral para com aquele que o fez ser reconhecido pela sua competência. Quisera eu ter tamanha capacidade de externar o devotamento aos meus benfeitores; mas Deus sabe o quanto lhes sou grato. E talvez tenha sido essa veemente dedicação que o fez tomar para si todo o ressentimento pela frustração e indignação que abateu a todos, traduzida neste espaço. Provavelmente, tenha lhe faltado melhor discernimento, o que compreendo - como disse, pela sua crença e sua dedicação. Tanto foi sua equivocada interpretação que quis se colocar entre os que se misturaram com os porcos. Conhecendo-o bem, jamais o imaginaria misturado à vara de corruptos. Lamentável e claramente, quando cito o grosseiro jargão, aí mesmo o preclaro missivista não entendeu patavina.
Só deploro que, por algo passageiro, aquele que sempre tive em alta conta prefira a amargura do ressentimento. Não me decepciono com isso, porque sempre lhe devotei admiração e amizade sinceras, mesmo diante daqueles que tentavam menosprezá-lo - independente do seu estar no poder -, e com tal intensidade o fazia que nenhuma palavra de sua refutação me tocou, tanto por isso, quanto pelo equívoco de sua interpretação.
Saiba, portanto, o missivista, que sempre me foi tão caro, e mesmo assim o continuará sendo, que seu comentário chegou-me às mãos sem me causar nenhum tormento. Sed quod scripsi, scripsi.

sexta-feira, abril 11, 2008

Será a verdade?

Resisti, a princípio, comentar os últimos episódios políticos em Conselheiro Lafaiete. O motivo? Vergonha. Nunca na história da cidade um administrador público foi “convidado a prestar esclarecimentos”, buscado em sua casa, às 6h (da manhã, para que fique bem claro), sobre irregularidades em sua administração. Nunca. Foi a primeira vez. Aqueles de quem, noutros tempos, os órgãos competentes suspeitaram e as línguas ferinas acusaram de mau gerenciamento do erário, podem hoje se sentir honrados com isso, pois pela punição deduz-se a hediondez do crime. Até então, nenhum deles foi preso por isso. Enquanto, aquele que se jactou de uma lisura, transparência, retidão, que, agora constata-se, talvez nunca tenham existido, é “convidado a prestar esclarecimentos” à Polícia Federal. “O pior celerado é aquele que oculta suas mãos manchadas de sangue e incita o ódio contra os inocentes” (Bossuet in “Discours sur l’histoire universelle”, 1682).

Chega a causar-nos comiseração dos órfãos desorientados, das viúvas inconsoláveis, dos credores desesperados que ficam de um sistema que, mero reflexo do atual governo da República, permitiam-se à quimera de que viviam na rica Pasárgada do Império Persa, por serem “amigos do rei”... E os abutres que se travestiam de dedicados fâmulos, agora aguardam, em largos rodopios, o momento de se debruçar sobre a fétida carnagem que resta desse latrocínio moral, pela violência com que foi atacada a ingenuidade de muitos, oxalá até daquele que foi “convidado a prestar esclarecimentos”.

Na manhã do dia 26 de março, após ter caído o pano de cena na Câmara, encerrando os trabalhos da Comissão Processante, expressei, neste mesmo espaço, a indignação da falta de energia dos vereadores que a compuseram. Eles cerraram os olhos e preferiram a omissão, obviamente por interesses pessoais. E hoje, neste mesmo espaço, ocupo-me com este tema apenas para lembrar que ninguém é “convidado a prestar esclarecimentos”, da forma como foi, e por lá permanecer, se não houver indícios de seu comprometimento com o que se investiga. Ora, se ele permitiu e até se beneficiou, deve ser castigado. Se foi omisso – pior ainda, por covardia, deve ser censurado. Se não sabia do que estava acontecendo, deve ser desterrado por incompetência, pois o homem que não se cerca de pessoas confiáveis, que não tem conhecimento do que se passa sob o seu teto, é um pascácio ou um alienado. E vem-nos à lembrança o provérbio popular, assaz grosseiro, que bem justificaria sua “inocência”: “quem com porcos se mistura, farelos come”.

A certeza que nos consolou há pouco mais de um mês efetivou-se na última semana: “nihil diu occultum”. A verdade começa vir à tona.