sexta-feira, julho 06, 2007

"Summorum Pontificum"



Será publicado amanhã, dia 7, o documento "Summorum Pontificum", do Santo o Padre o Papa Bento XVI, reafirmando o indulto perpétuo de São Pio V para a liturgia chamada tridentina. O Rito de São Pio V, que a Igreja Católica usava até 1969 (com algumas reformas, a últimas das quais datada de 23 de junho de 1962) foi substituído pelo "Novus Ordo" de Paulo VI, resultante da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Com o novo documento, o Papa estende a toda a Igreja de Rito Latino a possibilidade de celebrar a Missa e os Sacramentos segundo livros litúrgicos promulgados antes do Concílio, sem necessidade de permissão do bispo.
A publicação do documento vem acompanhado por uma "longa carta pessoal do Santo Padre a cada Bispo", reafirmando a possibilidade de o sacerdote que desejar celebrar a Santa Missa no antigo Rito, sem necessidade de autorização hierárquica (licença ou indulto) de um bispo. Os livros litúrgicos redigidos e promulgados após o Concílio continuarão, contudo, a constituir a forma ordinária e habitual do Rito Romano. O ritual resultante da reforma litúrgica conciliar instituía uma nova forma de celebrar a missa, não o uso do latim, mas o uso do Rito de São Pio V ainda era enaltecido pelos documentos pontifícios, inclusive por Paulo VI.
Deve-se atentar, contudo, que o "Summorum Pontificum" não significa um retrocesso, não será abolida a Missa Nova e readmitida a liturgia antiga, embora seja esse o desejo de tantos e o que, aliás, tem servido de empecilho para a reaproximação de grupos conservadores que resistem às reformas do Concílio e continuam realizando seu ministério fiéis à Igreja, porém à margem dela, gozando unicamente dos benefícios que lhes proporcionam os sacramentos, exilados da comunhão eclesial "cum Petro et sub Petro".
E aos progressistas de plantão, que entendam, se lhes for possível, essa reafirmação do indulto perpétuonão se trata de forma semelhante à possibilidade que eles têm de celebrar a Eucaristia do modo como lhes convêm, seja como a Missa Conga, a Missa Afro, a Missa dos Quilombos, Missa Sertaneja e tantos outros pseudos-ritos sem nenhuma origem apostólica, como a tem o Ritual Tridentino. Infelizmente, o documento pontifício ainda não apresenta o Rito de São Pio V como uma forma de unidade litúrgica, mas já é um grande passo, ao colocar, como o Santo Padre mesmo diz em seu documento, "à disposição dos fiéis os tesouros espirituais, litúrgicos, culturais e estéticos ligado ao Rito antigo".

segunda-feira, julho 02, 2007

Uma imperatriz santa

A ostentação que comumente se supõe quando se refere ao sistema monárquico não dita o modo de vida daqueles que, outrora, eram considerados Vigários de Cristo na terra. Dessas casas de origens milenares acenaram, muitas vezes, o progresso do mundo, a exaltação da arte, o discernimento das idéias, como também se ergueram grandes estadistas - não obstante a tirania, muitas vezes, querer tomar-lhe o ânimo - e floresceram santos. Isso mesmo, santos, pessoas virtuosas cuja conduta indicava aos seus súditos a audácia de passar por este mundo com o olhar voltado para a eternidade.
E o Brasil, no seu curto império, que durou apenas 67 anos, teve uma dedicada mãe que, vinda de uma das mais importantes casas européias, filha do último Imperador do Sacro Império, dedicou seus derradeiros nove anos de vida a esta Terra de Santa Cruz, como mãe extremosa e imperatriz devotada à dignidade de sua posição e às responsabilidades de esposa e mãe. Trata-se da primeira Imperatriz do Brasil, Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo, Arquiduquesa de Áustria. E dela temos o exemplo, além do que nos lega a história, de uma regra de vida que traçou para si mesma, cujos excertos transcrevemos a seguir:
"Desde o despertar, o meu primeiro pensamento será a lembrança da presença de Deus; minhas primeiras palavras serão: Oh! Santíssima e adorável Trindade, eu Vos dou meu coração e minha alma, Vos adoro com todos os coros dos Anjos. (...) Jamais o respeito humano impedirá de declarar-me com altivez a favor da Santa Religião Católica. (...) Meu coração será eternamente fechado ao espírito do mundo; como também longe de mim os gastos inúteis, o luxo pernicioso, os adereços indecentes, as vaidades mundanas e as vestimentas escandalosas. Minha virtude tão necessária será sempre a modéstia, para conservar a pureza de meu coração, sem a qual não saberei agradar a Deus. (...) Após meus exercícios de piedade, empregarei o resto do meu tempo a observar os deveres de meu estado e os cuidados que lhe são ligados. (...) Nas conversas falarei com bastante prudência, para não falar demais e para nada dizer que possa ferir alguém. (...) Tendo-me sido dados todos os momentos da vida para fazer o bem, empregá-los-ei segundo os desígnios de Deus. (...) Eis Jesus Cristo, meu divino Senhor, as resoluções que Vós fizestes a graça de me inspirar. Eu Vo-las ofereço com meu coração. Abençoai-as e dai-me as ajudas necessárias para colocá-las em prática. Assim seja."
Essa "santa", cuja vida foi um constante espargir de bondade e a morte um martírio necessário para que a dignidade da Casa Imperial do Brasil fosse resgatada da imprudência e dos desvarios, nasceu para a eternidade a 11 de dezembro de 1826, no Palácio da Quinta da Boa Vista.