quinta-feira, junho 25, 2009

Disciplina necessária

Tem causado comentários diversos a Portaria do Juiz da Infância e da Juventude de Patos de Minas, que proibiu a permanência de menores de 16 anos fora de casa após as 23h. A medida não é inusitada, visto outras cidades do interior e até de outros Estados já terem imposto regras eficientes, evitando o envolvimento de crianças e adolescentes em transgressões. Em Conselheiro Lafaiete, no início da década de 90, a juíza Valéria Rodrigues - salvo engano – adotou semelhante atitude, creio que com êxito.

Como se esperava, aplausos e críticas têm sido levantados de todos os lados. As críticas, no entanto, são as que mais nos causam admiração, pois só alguém alienado da realidade em que vivemos pode ainda acreditar na inocência de tantos menores que, soltos pelo mundo – quase sempre vítimas de desestruturas familiares e de desajustes sociais -, envolvem-se em pequenos furtos, agressões e, principalmente, com o tráfico de drogas.

A decisão judicial já comprovou que essa disciplina é capaz de conter os índices de criminalidade. Esse “toque de recolher”, como alguns denominam, além de coibir o envolvimento de menores na delinquência, auxilia os pais, despidos cada vez mais de sua responsabilidade sobre os filhos menores, seja pela insubordinação destes ou até mesmo pela incoerência sugerida por uma dúbia interpretação da legislação pertinente. Com isso, reafirma-se a pátria autoridade de educar, de impor limite aos filhos, mesmo que, para isso, sejam necessárias medidas que não sejam simples censura, mas um ato de proteção às crianças e adolescentes.

Ao vir à tona um tema tão presente na atualidade, em todas as esferas, vale lembrar que o respaldo jurídico apenas é insuficiente para proteger os menores. A atenção dos pais é primordial, seguindo-se o equilíbrio na harmonia familiar e o constante acompanhamento de tudo o que faz, seja na escola, nas brincadeiras em casa ou com os colegas de rua, no computar (para aqueles que lhe tem acesso), buscando perceber seus conceitos em suas experiências ou diante do que assiste na TV, por exemplo. Os pais são os primeiros, necessários e indispensáveis educadores de seus filhos, responsabilidade esta que não pode ser relegada, muito menos atribuída a outrem, nem mesmo a tios ou avós (exceto em determinados casos).

Medidas adotadas pela Justiça, impondo horário para a permanência de menores fora de casa, desacompanhados, constituem um instrumento de intimidação mais para os pais, chamados a assumirem a sua autoridade e à responsabilidade de educadores, de formadores do caráter de seus filhos, dentro dos princípios morais e religiosos eficazes. Só assim serão moldados lídimos cidadãos responsáveis, aniquilando os delinquentes em potencial que se formam à mercê da irresponsabilidade dos pais, aliada à decadência social.

quinta-feira, junho 18, 2009

"Ridendo castigat mores"

O segundo volume da Coleção do Teatro Brasileiro, da WWW Sua Editora, do Rio de Janeiro, trouxe a comédia em três atos “A tradicional família mineira”, do teatrólogo Cleiber Andrade. O conceituado escritor, de uma ampla formação humanista, permitiu-se discorrer a pena ao sabor de um bom humor específico sobre os conceitos norteadores dos hábitos e princípios de bicentenários clãs. Seguindo a mesma linha de Martins Pena e Aluízio Azevedo, o autor lafaietense como que deu uma pausa em seus estudos, na criação de dramas como “Zero Hora”, “Três dias sem Deus”, “Concerto em Si-bemol” – só para citar alguns – e na composição poética a que se entrega com tanto primor, deu uma pausa para “brincar” com usos e costumes de uma aristocracia falida, mas devotada à conservação de modos obsoletos e à veneração de seus ancestrais, além de manias diversas, decorrentes sabe-se lá do quê.
São indispensáveis os elogios à obra de Cleiber Andrade, mesmo tendo as autoridades em literatura já os terem feito com muita competência, pelo vasto conhecimento literário que possuem. Mas não há como deixar de admirar a facilidade com que toma de um tema, simples que seja, e consegue enredá-lo, transformando-o numa perfeita trama, seja pela acentuação dramática, seja na desopilação emocional que o humor proporciona. Em “A tradicional família mineira”, principalmente os que puderam conviver com pessoas pertinazes nos apegos às tradições de família, por mais insignificantes ou estranhas que sejam, vão identificar algum conhecido ou mesmo parente. Os discursos prolixos enaltecendo a ascendência – às vezes questionáveis -, a exaltação de um parente que se projetou na sociedade, os conceitos equivocados, a beatice acendrada, entre outras características das personagens, trabalhou-as muito bem o autor, constituindo uma lídima comédia de costumes, com o toque peculiar do teatrólogo e o retoque caricatural que lhe é permitido.
Ler “A tradicional família mineira” de Cleiber Andrade, mais do que se distrair com uma deliciosa peça ao estilo da comédie-française, é um convite à reflexão de nossos conceitos também. A evolução dos tempos, as revoluções de comportamento e uma banalização dos costumes e até do pensamento muitas vezes podem facilmente conduzir o indivíduo ao ridículo, a um contra-senso sem precedentes, indo de um extremo ao outro, sob o casulo da liberdade de expressão, ou de uma excentricidade sem precedentes, tão somente pelo desejo de se fazer notar, o que leva os fracos e desarmados nessa batalha cultural se acastelarem, escudando-se com seus conceitos e preconceitos. Mas com sua peça, Cleiber não dá mão àqueles mendicantes infelizes da atenção alheia. Numa censura subliminar, ele atenta para o perigo a que se incorre ao manter-se inflexível como os Moura do Amaral e os T. de Mendonça, e com maestria reafirma a divisa de Molière, escrita por Jean de Santeuil, talvez inspirado na “Ars Poética” de Horácio: “Ridendo castigat mores”.

quinta-feira, junho 11, 2009

Uma questão de reconhecimento

Uma tênue diferença distingue o reconhecimento que se deve ter para com os antepassados do “culto” que os orientais, especialmente, sugerem. Esse reconhecimento advém mais do sentimento de gratidão, e não apenas de uma ação benemérita, embora ela seja, quase sempre, o instrumento pelo qual chegamos ao seu autor. Ao deparar-se com a Pietá numa das capelas laterais da Basílica de São Pedro, no Vaticano, logo vem à mente o nome de Michelangelo; na peregrinação à Basílica do Bom Jesus, em Congonhas, é impossível olvidar os mestres do barroco mineiro, Aleijadinho e Athayde; da mesma forma como a arquitetura grandiosa de Brasília evoca Niemeyer. Esses vultos que se celebrizaram, especificamente, pelo dom da arte têm seu nome perpetuado na lembrança de todos aqueles que conhecem e admiram sua obra.
A referência em que muitas pessoas se tornam, cada uma em seu campo de atuação, é um reflexo que, naturalmente, deseja-se espelhar; se não é possível, ao menos passa-se a reverenciar sua memória, num ato de gratidão e de reconhecimento. Desta forma, tornou-se comum dar aos logradouros públicos, aos edifícios, repartições, projetos etc. dar o nome dessas pessoas que, de alguma forma, notabilizaram-se pelos seus feitos ou até mesmo pelo seu simples jeito de ser. Esse reconhecimento que se lhe presta é uma extensão do sentimento de gratidão que, na iniciativa de alguém, se extravasa numa pública manifestação, por mais singela, ou pessoal, que seja essa demonstração.
O modus vivendi que vai se institucionalizando entre os povos torna-se uma medida emergencial, enquanto os valores vão se perdendo, junto com ele os princípios e as indicações que norteiam a formação social. O afã em se recompor, em recuperar o tempo perdido, em reaver os prejuízos pecuniários distraem o homem numa ilusória sensação de estar como que velejando em águas tranqüilas, distanciando-se mais e mais de seu mundo real, de seu torrão surrealista, da identidade genética impressa na sua formação, em seus hábitos, nas suas idéias. Com isso, perdem-se, também, o conhecimento e o reconhecimento de sua cultura e dos promotores dela.
“As relações entre as gerações alteraram-se de tal maneira que já não favorecem, como antes, a transmissão dos conhecimentos antigos e da sabedoria herdada dos antepassados”, destacou o Santo Padre Bento XVI numa de suas alocuções em recente viagem à África. Um abismo vai se abrindo, cada vez maior, entre as gerações, dificultando a compreensão de suas atitudes e de seu pensamento. Vai-se rompendo o elo que as une, e as referências vão se desaparecendo no oceano do esquecimento humano, por entre as brumas do passado. Há de chegar o dia em que o sol da fraternidade aqueça as relações enrijecidas dos homens, evapore a névoa da indiferença e traga à nitidez todo esse horizonte da história que tão facilmente se o deixa de contemplar.

sexta-feira, junho 05, 2009

Luto na Casa Imperial


A tragédia ocorrida no início da semana, quando o avião que fazia a linha Rio de Janeiro/Paris desapareceu, enlutou o coração de muitas famílias brasileiras, inclusive de Conselheiro Lafaiete. Entre os passageiros do funesto vôo 4478 da Air France, também estava Sua Alteza Imperial e Real Dom Pedro Luiz Maria José Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orleans e Bragança, Príncipe do Brasil, Príncipe de Orleans e Bragança, quarto na sucessão dinástica ao Trono e Coroa do Brasil, presidente de honra da Juventude Monárquica. Os monarquistas receberam, consternados, a notícia do desaparecimento daquele em quem depositavam as esperanças de continuidade de liderança do movimento no Brasil, sucedendo a seus tios Dom Luiz de Orleans e Bragança, que neste sábado registra mais um natalício, Dom Bertrand, e a seu pai Dom Antônio Maria.
Dom Pedro Luiz contava com 26 anos de idade, tendo nascido no Rio de Janeiro, a 12/1/1983, primogênito de Dom Antônio Maria de Orleans e Bragança e de Dona Christine, princesa de Ligne. O jovem príncipe sempre se mostrou comprometido com a tradição da família e a responsabilidade que lhe competia enquanto sucessor dos direitos dinásticos. Durante a campanha para o plebiscito de 1993, ainda menino, esteve ao lado de seu amoroso pai, trabalhando pelo “esclarecimento” das massas sobre a realidade do sistema monárquico. Na modéstia da vida familiar – ao contrário do que boçais anarquistas propagam de fantasiosas regalias -, o Príncipe do Brasil foi educado dentro dos princípios do nacionalismo e da Santa Religião, que sempre nortearam a formação dos lídimos sucessores dos fundadores de nossa Pátria.
Em 1999, Dom Pedro Luiz foi aclamado presidente de honra da Juventude Monárquica do Brasil, possuidor que era das virtudes notáveis para aquela geração que buscava as mais acrisoladas referências de integridade e devotamento à causa. De presença discreta nas rodas sociais, mas sempre marcante pela sua inteligência e cultura, jamais se jactou de sua estirpe; ao contrário, tinha consciência de sua responsabilidade, tendo afirmado, certa vez: “A gente carrega esse fardo e precisa dar exemplo”. Graduado em Administração de Empresas pelo Ibmec do Rio de Janeiro, pós-graduado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, acompanhava atentamente a economia brasileira, chegando a comentar, sem nenhum desafeto, sobre a política adotada pelo atual presidente da República, “por diminuir o fosso entre os brasileiros”; comentário desapegado de qualquer paixão, senão pelo bem-querer de seu povo.
O Príncipe do Brasil residia em Luxemburgo, onde trabalhava no renomado Banco Paribas, de grande prestígio na Europa, além de prestar consultoria financeira para algumas empresas. Vinha sendo reconhecido nas casas reais do Velho Mundo pela sua distinção, decorrente de uma sóbria galhardia e apurado senso crítico. Era, ainda, detentor da Grã-Cruz das Imperiais Ordens de Pedro Primeiro e da Rosa.
O seu desaparecimento deixa um sentimento de perda muito dorido para os movimentos monarquistas e admiradores da Família Imperial. Nada mais resta, senão rezar pelo conforto de seus idolatrados pais, Dom Antônio e Dona Christine, e pelo seu descanso eterno junto de Deus Nosso Senhor. Lembrando o célebre Padre Vieira, a quem tantas finezas deve a Dinastia de Bragança, “é verdade que morreu, mas por meio da morte eternizou a idade, melhorou a gentileza, canonizou a discrição” (Sermão nas exéquias de Dona Maria Ataíde, 1649, VII). Seu desaparecimento cristalizou o vigor de sua juventude, o viço de seu donaire, as virtudes que ornavam o seu caráter. “Não teve de que testar, porque todos os bens que possuía os levou consigo. A sabedoria e a virtude não se deixam em testamento, porque se levam: e nós todos a matar-nos, pelo que se há-de deixar!” (Sermão para as exéquias do sereníssimo Príncipe de Portugal Dom Teodósio, 1654, I).
Resquiescat in pace.