segunda-feira, julho 02, 2007

Uma imperatriz santa

A ostentação que comumente se supõe quando se refere ao sistema monárquico não dita o modo de vida daqueles que, outrora, eram considerados Vigários de Cristo na terra. Dessas casas de origens milenares acenaram, muitas vezes, o progresso do mundo, a exaltação da arte, o discernimento das idéias, como também se ergueram grandes estadistas - não obstante a tirania, muitas vezes, querer tomar-lhe o ânimo - e floresceram santos. Isso mesmo, santos, pessoas virtuosas cuja conduta indicava aos seus súditos a audácia de passar por este mundo com o olhar voltado para a eternidade.
E o Brasil, no seu curto império, que durou apenas 67 anos, teve uma dedicada mãe que, vinda de uma das mais importantes casas européias, filha do último Imperador do Sacro Império, dedicou seus derradeiros nove anos de vida a esta Terra de Santa Cruz, como mãe extremosa e imperatriz devotada à dignidade de sua posição e às responsabilidades de esposa e mãe. Trata-se da primeira Imperatriz do Brasil, Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo, Arquiduquesa de Áustria. E dela temos o exemplo, além do que nos lega a história, de uma regra de vida que traçou para si mesma, cujos excertos transcrevemos a seguir:
"Desde o despertar, o meu primeiro pensamento será a lembrança da presença de Deus; minhas primeiras palavras serão: Oh! Santíssima e adorável Trindade, eu Vos dou meu coração e minha alma, Vos adoro com todos os coros dos Anjos. (...) Jamais o respeito humano impedirá de declarar-me com altivez a favor da Santa Religião Católica. (...) Meu coração será eternamente fechado ao espírito do mundo; como também longe de mim os gastos inúteis, o luxo pernicioso, os adereços indecentes, as vaidades mundanas e as vestimentas escandalosas. Minha virtude tão necessária será sempre a modéstia, para conservar a pureza de meu coração, sem a qual não saberei agradar a Deus. (...) Após meus exercícios de piedade, empregarei o resto do meu tempo a observar os deveres de meu estado e os cuidados que lhe são ligados. (...) Nas conversas falarei com bastante prudência, para não falar demais e para nada dizer que possa ferir alguém. (...) Tendo-me sido dados todos os momentos da vida para fazer o bem, empregá-los-ei segundo os desígnios de Deus. (...) Eis Jesus Cristo, meu divino Senhor, as resoluções que Vós fizestes a graça de me inspirar. Eu Vo-las ofereço com meu coração. Abençoai-as e dai-me as ajudas necessárias para colocá-las em prática. Assim seja."
Essa "santa", cuja vida foi um constante espargir de bondade e a morte um martírio necessário para que a dignidade da Casa Imperial do Brasil fosse resgatada da imprudência e dos desvarios, nasceu para a eternidade a 11 de dezembro de 1826, no Palácio da Quinta da Boa Vista.