sexta-feira, janeiro 30, 2009

Artimanhas malignas

Há algum tempo, o sociólogo italiano Massimo Introvigne, diretor do Centro de Estudos sobre as Novas Religiões, em, Turim, concluiu que o boom de seitas e novas religiões nos países ocidentais é bem menor do que o fenômeno de quem crê sem pertencer ou praticar uma religião específica. A exposição do ilustre sociólogo se baseia na realidade européia, encontrando contrastes significativos no resto do mundo, inclusive nos países mais pobres.
No Brasil há uma distinção, talvez decorrente do temperamento do bom povo brasileiro. Aqui, a carência social e de assistência espiritual leva as pessoas, principalmente as de fé tíbia ou credulidade excessiva, a procurarem os “promotores” do misticismo ou, até mesmo, charlatões que empreendem um movimento religioso alternativo, paliativo espiritual para os que buscam conforto para a alma e uma solução rápida para os seus problemas; semelhante jargão publicitário poderia ser usado à entrada desses estabelecimentos onde, por um modesto dízimo (muitas vezes), consegue-se paz de espírito e tranqüilidade de consciência; só não confirmaram, até agora, se se alcança a salvação. Mas isso não lhes importa. O que as pessoas querem é viver bem neste mundo... A situação é grave.
Deus louvado, se tudo não passasse de uma mera concorrência empresarial que se tivesse aberto no país. Ao contrário, esse fenômeno causa uma desordem social muito ampla, atingindo todos os setores, abalados com as divergentes interpretações da moral e da ética. O povo desorientado e submisso é tudo o que querem os organizadores das diversas seitas que se infiltram por todos os cantos. Na Itália, só agora começam atentar para isso, porque o pluralismo religioso é mais recente onde está a sede da Igreja Católica, registrando “apenas” pouco mais de 300 novas denominações de seitas (cf. Introvigne).
Quanto à livre crença, o mal dos últimos tempos, é perniciosa à salvação do homem, e não à Igreja Católica ou a algum movimento específico. Esse mal, cujas origens decorrem do pecado original, é a presunção que domina o coração do homem, como a que gerou a revolta do ‘primeiro anjo que caiu do céu’. Basta crer em Deus. A criatura, por si só, sente-se capaz de encaminhar-se na vida espiritual e alcançar a salvação. Ora, se isso fosse possível, Nosso Senhor não teria deixado os meios de se obter as graças necessárias, através dos Santos Sacramentos. No entanto, é mais cômodo crer em algo superior ou transcendente, favorecido pela liberdade de pensamento e de culto, frutos das subversões ideológicas que começaram a surgir desde a Renascença. E enquanto as pessoas vão cedendo ao amor-próprio ou se distraindo com a diversidade de modalidades religiosas, o tempo avança e, aqueles que pensam estar se aproximando de Deus, muitas vezes podem estar se distanciam mais da Perfeição.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Esperança renovada

Os olhos do mundo voltaram-se para a América do Norte, na última semana, atentos e esperançosos, para assistir à posse do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama. Muitos acreditam ser o início de uma nova fase da história, por tratar-se de uma nação cujo domínio se estende por quase todos os quadrantes da terra, de alguma forma, seja pela influência ideológica, política ou cultural. As aspirações de um novo tempo se reforçam pela opressão causada pelo governo anterior, em que, por diversas vezes, suas atitudes despóticas causaram mal estar entre as nações e afrontou os direitos humanos.
Nos primeiros dias, Obama já determinou medidas que sugerem, destemidamente, uma de suas metas, resgatar a dignidade humana de tantos que sofrem a tirania de um sistema em que se misturam os interesses políticos, econômicos e religiosos. Aliás, os Estados Unidos vivem uma situação peculiar em sua história: mantido por um sistema econômico administrado, em grande parte, por clãs judaicos, tem no poder um descendente de mulçumanos; “primos” que se distanciaram há milênios e que, no curso dos séculos, tomaram posições energicamente hostis que, em nossos dias, refletem amargamente.
No momento de crise em que se inaugura o governo de Barack Obama, renova-se a esperança, tanto naquele país, como naqueles outros onde a influência da América do Norte determina sua sorte. E no afã de mudanças imediatas, muitos poderão, talvez, se decepcionar, dada a dificuldade com que muitos processos nas relações internacionais, de políticas econômicas, ambientais, sociais, entre outras, possam se desenvolver.
Há 45 anos, no dia 11 de abril de 1963, o Beato João XXIII promulgava a Encíclica “Pacem in Terris”. O documento pontifício veio à lume enquanto a Guerra Fria vivia seu auge, às vésperas de um confronto que poderia ser fatal para o ocidente e para o oriente. E no correr da pena do Papa Bom, ia-se traçando, de forma profética – como posteriormente observou seu predecessor, João Paulo II -, “a fase seguinte da evolução das políticas mundiais”. Definia o Santo Padre, naquele instante temeroso, o conceito do “bem comum universal”, defendendo a necessidade de uma autoridade pública internacional capaz de promovê-lo.
Exortava, ainda, o Santo Padre que “devem os poderes públicos da comunidade mundial considerar objetivo fundamental o reconhecimento, o respeito, a tutela e a promoção dos diretos da pessoa humana, com ação direta, quando for o caso, ou criando, no plano mundial, condições em que se torne mais viável aos poderes públicos de cada comunidade política exercer as próprias funções específicas” (nº 138).
Desde então, procura-se sempre esse perfil nos governantes e instituições. Mas, talvez, somente agora ela começa a se delinear na figura do jovem presidente dos Estados Unidos, negro, de origem adversa à de seus predecessores da Casa Branca, enfim, um novo homem, com novas propostas e atitudes que, se realmente forem honestas e bem fundadas nos princípios éticos e morais, poderão ajudar a “Paz na Terra” almejada por João XXIII, em que a fraternidade e a caridade entre as grandes e pequenas nações sejam equiparadas.
Ao final do Documento, elevava o Papa uma oração pela paz no mundo, “com ardentes preces ao Redentor divino que no-la trouxe. Afaste ele dos corações dos homens quanto pode pôr em perigo a paz e os transforme a todos em testemunhas da verdade, da justiça e do amor fraterno. Ilumine com sua luz a mente dos responsáveis dos povos, para que, junto com o justo bem-estar dos próprios concidadãos, lhes garantam o belíssimo dom da paz. Inflame Cristo a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da sua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz” (nº 170). É essa mesma oração que o mundo eleva até Deus, neste momento, esperançoso no governo de Barack Obama, não pelos seus méritos apenas, mas pela graça de Deus que tudo pode.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

O poder dos astros

Nesta época do ano, é muito comum a exploração da ingenuidade de uns e da fé de outros com profecias sobre os meses que se seguirão. Bruxos e pitonisas concordam e discordam em suas previsões, ora otimistas, ora pessismistas, aguçando a curiosidade do público que os assiste. Ilude, sim, os tolos a maneira subjetiva como descrevem suas visões, fruto, simplesmente, de sua imaginação e supino charlatanismo. "Quão impotente é o sistema [astrológico] para comparar as formas de disposições dos homens com os nomes das estrelas!" (Hipólito, in “Refutação de Todas Heresias” 4:37). Há, na verdade, casos de previsões cuja credibilidade torna-se indiscutível pela forma como ocorreu e se confirmou. Na Bíblia, três reis acorreram a Belém, “avisados” pelo fulgor de uma estrela; diversos santos da Igreja também tiveram esse poder de prever o futuro, como São João Bosco, Beato João XXIII, Beato Pio de Pietralcina, estes mais recentes.
Para melhor compreendermos o fenômeno das previsões com relação aos astros, pois deles é que se valem os profetas de nossos dias, recorremos a São Tomás de Aquino. Ele afirma como absolutamente certo o princípio geral de uma influência universal dos corpos celestes sobre todos os eventos corporais da terra, incluídos os eventos fisiológicos concernentes aos animais e aos homens. A influência admitida restringe-se aos eventos corporais. Na “Suma Contra os Gentios”, São Tomás afirma ser "impossível que a operação intelectual esteja sujeita aos movimentos celestes" (III. 84). Da mesma forma, o aquinatense nega qualquer influência dos astros sobre nossa vontade, como se vê no referido tratado: "É preciso absolutamente compreender que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos astros". Desta forma, excluem-se do raio de influência dos astros justamente as faculdades que especificam o homem, ou seja, o intelecto e a vontade. Mais além, o Doutor Angélico afirma, com igual certeza, que a influência dos corpos celestes sobre os atos humanos é indireta e jamais necessitante, muito menos se indaga, nem uma única vez, se o axioma ou postulado astrológico fundamental é fundado ou não: a importância decisiva, sobre todo o futuro de um homem, da configuração do céu no momento de seu nascimento (mapas astrais).
Ao mencionar os patronatos estrelares dos sete dias da semana, observa que se pode, sem perigo para a fé, adotar ou rejeitar essa teoria, admitindo, em princípio, os astrólogos predizerem corretamente o futuro dos homens, desde que não tenham em vista os atos humanos livres. Ele alerta, com grande importância para o tema, que a impressão das estrelas produz seu efeito na maior parte dos homens, a saber, naqueles que não resistem a suas paixões, levando-nos a compreensão de uma influência astral sobre o temperamento da pessoa, que pode ser dominado pelo intelecto e pela vontade; daí se enganarem amiúde nas predições particulares.Por fim, a sentença do grande doutor da Igreja: não é supersticioso nem ilícito buscar prever pelos astros as secas, as chuvas etc. É supersticioso e ilícito buscar prever, pelos astros, as ações livres humanas, lembrando o Concílio de Toledo: “Se alguém pensa que se deve crer na astrologia, seja anátema”, e a admoestação de Santo Agostinho: "O bom cristão deve precaver-se de astrólogos e outros adivinhadores ímpios".