Resisti, a princípio, comentar os últimos episódios políticos em Conselheiro Lafaiete. O motivo? Vergonha. Nunca na história da cidade um administrador público foi “convidado a prestar esclarecimentos”, buscado em sua casa, às 6h (da manhã, para que fique bem claro), sobre irregularidades em sua administração. Nunca. Foi a primeira vez. Aqueles de quem, noutros tempos, os órgãos competentes suspeitaram e as línguas ferinas acusaram de mau gerenciamento do erário, podem hoje se sentir honrados com isso, pois pela punição deduz-se a hediondez do crime. Até então, nenhum deles foi preso por isso. Enquanto, aquele que se jactou de uma lisura, transparência, retidão, que, agora constata-se, talvez nunca tenham existido, é “convidado a prestar esclarecimentos” à Polícia Federal. “O pior celerado é aquele que oculta suas mãos manchadas de sangue e incita o ódio contra os inocentes” (Bossuet in “Discours sur l’histoire universelle”, 1682).
Chega a causar-nos comiseração dos órfãos desorientados, das viúvas inconsoláveis, dos credores desesperados que ficam de um sistema que, mero reflexo do atual governo da República, permitiam-se à quimera de que viviam na rica Pasárgada do Império Persa, por serem “amigos do rei”... E os abutres que se travestiam de dedicados fâmulos, agora aguardam, em largos rodopios, o momento de se debruçar sobre a fétida carnagem que resta desse latrocínio moral, pela violência com que foi atacada a ingenuidade de muitos, oxalá até daquele que foi “convidado a prestar esclarecimentos”.
Na manhã do dia 26 de março, após ter caído o pano de cena na Câmara, encerrando os trabalhos da Comissão Processante, expressei, neste mesmo espaço, a indignação da falta de energia dos vereadores que a compuseram. Eles cerraram os olhos e preferiram a omissão, obviamente por interesses pessoais. E hoje, neste mesmo espaço, ocupo-me com este tema apenas para lembrar que ninguém é “convidado a prestar esclarecimentos”, da forma como foi, e por lá permanecer, se não houver indícios de seu comprometimento com o que se investiga. Ora, se ele permitiu e até se beneficiou, deve ser castigado. Se foi omisso – pior ainda, por covardia, deve ser censurado. Se não sabia do que estava acontecendo, deve ser desterrado por incompetência, pois o homem que não se cerca de pessoas confiáveis, que não tem conhecimento do que se passa sob o seu teto, é um pascácio ou um alienado. E vem-nos à lembrança o provérbio popular, assaz grosseiro, que bem justificaria sua “inocência”: “quem com porcos se mistura, farelos come”.
A certeza que nos consolou há pouco mais de um mês efetivou-se na última semana: “nihil diu occultum”. A verdade começa vir à tona.