sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Um rio de lamas... de dinheiro

O que faltava para completar (e complicar) os episódios que levaram à formação de uma CPI no Congresso Nacional, o que está prendendo a atenção de grande parte dos brasileiros nas últimas semanas, o que faltava no elenco dos personagens entrou em cena, por último, quando pensava aproximar-se o grand final: uma caftina.
Assemelham-se os escândalos a episódios históricos e romanceados, envolvendo o poder, os nobres e, como numa época em que em que o patamar da mulher se encontrava sempre abaixo ao patamar do homem, uma delas se envolve na trama do poder com elementos sedutores da sensualidade, formando o tríplice contentamento da natureza decaída: o poder, o dinheiro e o prazer carnal; o poder, como o mundo, a seduzir; o dinheiro (como instrumento do demônio) tentando; e a carne... é fraca.
No drama que se desenrola em Brasília, não diferente de uma escola teatral renascentista, em que a interpretação vai além de uma simples encenação da peça, apresentam-se o poder e toda a sua entourage, os “mecenas” da política, ou melhor, do poder e a messalina usufruindo de ambos. Para uns, o aparecimento da Sra. Jane não passa de uma especulação sensacionalista, até de auto-promoção; para outros ela pode ser uma fonte preciosa. Não que seu depoimento, se for intimada a fazê-lo, colocará um final na questão. Suas palavras poderão envolver mais pessoas, complicando ainda mais a situação.
E tudo isso por causa da ambição, de todas as formas como for possível se envolver: a ambição pelo poder, a ambição pelo dinheiro. O poder, pelo qual os homens começaram, desde sempre, a guerrear; o dinheiro, como aquela pela qual Judas vendeu o seu Rabi. Isso sempre existiu, seqüela do pecado original dos primeiros pais; sempre existiu onde envolve a luta pelo poder. Mas no Brasil, onde a ambição e a corrupção sempre encontravam campo vasto para florescer, a cada dia mais é impossível não protestar justiça e decência.Num país onde as diferenças sociais são muitas e enormes, isso tudo é inadmissível, primeiro por questões históricas, quando episódios semelhantes deveriam servir de paradigma para que não se repetissem, segundo porque brada a ira dos céus o rio de dinheiro que corre a desaguar nas contas dos poderes, enquanto programas voltados para a saúde, educação e assistência social, principalmente, são entravados ou se arrastam devido à burocracia legal. Quanto se poderia ter sido feito por essas áreas com esse dinheiro?! Mas, pensando bem, conforme um sábio adágio como tudo o que é mal conseguido, é mal sucedido, melhor esse dinheiro espúrio não tenha vindo infectar mais ainda a chaga social, purulenta, que tanto incômodo causa à estrutura étnica brasileira, pois estaria contaminando muitas instituições sérias, honradas, com o câncer da corrupção. Assim, todos soçobrariam nesse rio de lamas que se formou e que, até há pouco, corria silencioso nas galerias subterrâneas da política. Só que, como “nada fica encoberto sob o sol”, esse esgoto escoa agora a céu aberto e todos podemos execrá-lo.
17/08/2005