sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Mês de maio, Mês de Maria

Apesar da azáfama do dia-a-dia, há instantes em que o homem parece retirar-se desse cenário tumultuado e buscar uma forma de alento para seu ânimo, muitas vezes fragilizado por uma apostasia que vai se generalizando em todos os meios. E o mês de maio é um desses momentos propícios à interiorização, a partir de simples reminiscências, parecendo ouvir-se, ainda, ao longe, o toque de um sino, sentir um aroma de sacralidade e até o burburinho de crianças alegres e ansiosas parece tomar conta do ambiente de sua imaginação. É o mês de maio, dedicado à Virgem Maria.
É provável que uma das primeiras oportunidades que se tem nesta vida para desenvolver a espiritualidade nos seja dada ainda na infância. E as celebrações do mês de maio são uma delas, seguramente. A princípio, é apenas o momento de se prestar homenagens à Medianeira de todas as graças, muitas vezes até cumprindo um capricho dos pais, uma herança que vem passando de geração a geração. Mas, ao meditar a grandeza do momento, ver-se-á que nada mais é do que a expressão sincera do que um católico espera: poder um dia contemplar, no páramo, a doce mãe, advogada dos pecadores. E a nenhuma criança pode ser tirada essa oportunidade terrena, de coroar a Virgem Maria, assim como desejaria coroá-la no céu.
Naquele momento em que todo esse anseio e essa alegria pueril se transluz nas figuras pequeninas que, vestidas a caráter, levam seu tributo a Maria, tudo tem um significado. Desde a procissão que caminha ao altar preparado para o ato, significando a caminhada da humanidade em busca da Perfeição, até as balas e doces distribuídas no fim (tão combatidas), cujo significado, para aquelas crianças, nada mais é do que as graças que Deus as concede, por intercessão de sua Mãe Santíssima.
O Mês de Maio foi instituído pelo papa Pio VII, em 21 de março de 1815. Na diocese de Mariana, foi introduzido pelo santo bispo dom Antônio Ferreira Viçoso. As primeiras coroações se realizaram naquela arquiespiscopal cidade, por volta da década de 1840, introduzidas que foram pelas Filhas de São Vicente de Paulo, que trouxeram o costume da França. Em 1882, dom Antônio Maria Correia de Sá e Benevides, que sucedeu a dom Viçoso, reorganizou e restaurou as celebrações de maio.
Em nossa região, ainda se tem a oportunidade de assistir às celebrações de maio. Nas diversas paróquias da cidade, diariamente, acontece a coroação de Nossa Senhora, com orações, cânticos, enfim, uma série de manifestações. Enquanto o mundo avança em seu curso natural, ainda se pode parar por um momento e mergulhar nesse ambiente, até certo ponto de nostalgia, e relembrar aqueles momentos que só a percepção, ainda que limitada, de uma criança pode descrever, como tão bem se expressou o maestro queluziano José Maria da Rocha Ferreira, ao recordar os meses de maio de sua infância:
"Mês de Maria!... Chusmas de anjinhos...
sons de órgãos... Espirais de incenso...
E a Virgem a sorrir
do alto do trono...

No coro, embriagam-me de misticismo
Donzelas a cantar:
'Queremos a Maria
Flores oferecer.'

Mês de Maria!... - teus arcanos mistérios
aceleram, em meu peito, as pulsações do coração
emocionado...

Quando saí da igreja, mãos dadas com minha mãe,
os zéfiros noturnos absorviam as
últimas volutas fugidas
dos incensários oscilantes.

E hoje - tantos anos após! - os ecos
Ainda repetem:
'Queremos a Maria...
queremos a Maria...flores oferecer'."
19/05/2005