sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Alma brasiliense

Perde-se, com o passar dos anos, como acontece como muito vocábulos da língua portuguesa, o sentido puro do que seja a Pátria e do senso de patriotismo. Neste exemplo, especificamente, há quem acredite existir até um interesse, de determinado(s) grupo(s), promotores de uma confusão ideológica, numa mitificação de valores essenciais à vida e à formação da sociedade. Mas não atentam para a necessidade de identificação que um povo tem, desde sempre, das mais priscas eras, a ponto de desenvolverem-se movimentos extremistas, por causa desse zelo, dessa exigência da alma humana, desse orgulho que o homem traz consigo desde o ventre materno, que é esse nacionalismo.
A origem desse sentimento nasce junto à necessidade do homem de viver em sociedade. Nenhum homem esgota em sua vida e com as suas aptidões todas as virtualidades da alma humana. Para bem manifestar a grandeza e a beleza da alma humana, na exaustão de suas possibilidades, o homem necessitou multiplicar e diversificar-se. Logo, a perfeição do homem vê-se na humanidade desdobrada, embora ela seja insuficiente. Para bem exibir diante do universo e das galerias angélicas toda a riqueza do animal/racional, ou da alma feita à imagem e semelhança de Deus, necessitou-se, ainda, recorrer à História e ao contraponto das civilizações, diferenciar os agrupamentos humanos em tipo, com línguas, costumes e cultura diversificados. Daí, o fundamento natural da pátria, onde se atende a uma vocação comum, nutre-se uma cultura comum, expressa não apenas pela língua comum, mas por todo o jogo de símbolos, de significações multiplicadas resultantes das alegrias comuns e dos sofrimentos comuns, imersos na profundidade das almas por sinais comuns.
Percebe-se, então, esse envoltório humano, cultural, sociológico, histórico, geográfico tal um campo de forças que nos penetra e que se cruza dentro de nós, fazendo-nos ser como somos, conforme sentimos e amamos. Nossos envoltórios, a família, o bairro, a pátria, são obras emanadas de nossas almas e são elas que refluem e modelam nossas almas. Há por fora de nós um enorme Brasil exterior; há dentro de nós um Brasil interior de sentimentos e de virtudes que devem ser cultivadas e apuradas para que o Brasil exterior seja melhor e mais Brasil, cada vez melhor, para formar as almas de seus filhos.Nestes dias, precisa-se cultivar essa piedade, esse respeito pelo grande quinhão que nos coube na prodigiosa aventura do gênero humano, não para excluir-se e fechar-se, mas para que o amor pátrio seja difusivo e transforme-se em amor universal.
19/09/2005