sexta-feira, maio 11, 2007

Brasil católico

Nos últimos dias, o catolicismo no Brasil tem sido analisado de vários aspectos. O motivo é a visita do Papa Bento XVI, que chega num momento em que as discussões sobre aborto, eutanásia, contraceptivos, liberdade sexual, além de corrupção, negociações diplomáticas, etc., são temas de discussões na sociedade e no meio político. Chega, então, o chefe da instituição mais antiga do mundo ainda de pé, com sua posição austera e antagônica às proposições modernas. Sua doutrina é milenar. Mesmo com o discurso adaptado aos dias atuais, a essência ainda é a mesma, desde os primórdios do cristianismo, passando pela Idade Média de grande importância para a Igreja, o renascimento do neo-paganismo, o barroco da exuberância sacra e artística, o advento das políticas sociais, com o progresso do pensamento, a queda de impérios e o surgimento de novas nações.
O Papa chega ao país considerado de maioria católica. No entanto, esses números baseiam-se apenas por um senso eclesiástico que conta os batizados, confirmações e casamentos realizados pela Igreja; mas é incapaz de registrar aqueles que não são praticantes ou que se mudaram de religião. Aliás, é interessante como as pessoas são suscetíveis a mudar de opinião, pois é isso o que acontece com quem deixa a Igreja Católica pela Igreja Pentecostal, ou IURD, Adventista, entre outras tantas que o comércio da fé tem lançado no mercado. E observe que as agremiações tradicionais protestantes, como a Luterana e a Anglicana, participam muito discretamente, ou quase nada, dessa concorrência. O motivo? É porque, como a Católica, elas possuem um princípio doutrinário firme; não tendem a modismos ou a interpretações que convenham à captação de novos fiéis, muitas vezes à custa da ignorância das pessoas.

Aí, então, entende-se a realidade brasileira. O clichê "no Brasil nada se leva a sério" se confirma até nas questões concernentes à fé e, para os crentes, à salvação de sua alma. O brasileiro não quer responsabilidade; ele quer viver a vida descontraído, sem obrigação. Por isso, vêem-se católicos que defendem o aborto, o amor livre, o uso de contraceptivos e preservativos e tantas outras coisas que, no confessionário, são pecados, desde a categoria dos veniais até mortais. Mas eles não se importam com isso. Eles professam, na verdade, o liberalismo. Importa-lhes o Deus interior, a sua forma de pensar, ou seja, o amor próprio. Enfim, são católicos de circunstâncias.

Assim, o papa veio, o papa ir-se-á embora. O brasileiro continuará a proceder da mesma forma. A sua voz já não ressoa pelo orbe como a do representante de Cristo na Terra. O que defende é demasiado austero para os tempos atuais. Só mesmo um milagre - quem sabe por intercessão de Santo Antônio Galvão? - fará as pessoas reverem seus conceitos e, guiados por uma Constituição elaborada à luz do Evangelho, constituírem uma sociedade perfeita.


(Publicado como Editorial da edição 854 - 12 a 18/5/2007 do Jornal Correio da Cidade, de Conselheiro Lafaiete - MG)

Bem-vindo, Santo Padre


Causa-nos espanto o espírito anticlerical que muita gente tem demonstrado durante a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, desde altas autoridades até pessoas desprovidas de claro discernimento. Quando João Paulo II aqui esteve, em 1980, a realidade era outra; ele foi recebido calorosamente pelos fiéis que o acompanharam em sua peregrinação por diversos estados e à sua voz estiveram atentos. Hoje, no entanto, a realidade é outro. Embora os números apontem a maioria da população brasileira como católica, infelizmente muitos se mostram hostis ao Santo Padre e, pior ainda, à doutrina da Igreja. Nada mais triste do que ver as pessoas sem referências e quando essas se apresentam dão-lhe as costas.

Enquanto escrevo estas linhas, completam-se dois dias que o Vigário de Cristo está conosco, em nossa terra. As manifestações de apreço não têm lhe faltado, desde que se desembarcou na Terra de Santa Cruz. Enquanto isso, no entanto, não faltam aqueles que, contaminados pelo pragmatismo hodierno, doutorados pela cartilha do relativismo, criticam desde o discurso do Papa (que, é bom lembrar, nada mais é do que a voz da Igreja de sempre; ele apenas reafirma o que sempre se professou e se defendeu), até o protocolo diplomático e o cerimonial litúrgico preparado para sua visita. Enfim, é uma lídima sanha diabólica que suscita a revolta a partir de meros detalhes, para que a essência não seja percebida pelos levianos e, muito menos, tocados pela graça.

Mas, apesar de tudo, parece que o Espírito Santo vem tocando o coração enrijecido de muita gente; até a imprensa (grande responsável por alimentar a antipatia dos incautos) já reconhece, após o primeiro dia da estadia de Bento XVI no Brasil, que "as impressões enganam". E vemos que toda a dignidade do Papa é, antes, de Cristo, que O fez seu vigário na terra, numa série ininterrupta que vem do Príncipe dos Apóstolos. Tendo sido tirado dentre os homens, com todas as suas fragilidades, foi conduzido ao altar, ornado com a graça do sacerdócio e elevado à sua plenitude, a Providência o fez chefe da Igreja universal: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela". Ficaria Pedro sem sucessor legítimo, teria a Santa Igreja naufragado em meio às divisões humanas, falhara a promessa de Cristo, se não fosse a presença do Santo Padre, confirmação dessa promessa.

O múnus do Papa, além do que lhe compete como Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano e de Servo dos Servos de Deus, é, nestes dias conturbados, o de assegurar a ortodoxia da Igreja, norteando todas as soluções que devam ser buscadas para os problemas do mundo moderno. É daí que provém a esperança dos autênticos católicos ao receberem Bento XVI no Brasil, para contemplar, com amor e veneração, o guia de suas almas nos caminhos da vida eterna, ardente anelo dos que peregrinam neste Vale de Lágrimas.

Seja bem-vindo, Santo Padre!

Abuso de menores

O Jornal Correio da Cidade de Conselheiro Lafaiete, na edição 853 - 28/4 a 5/5/2007, publica uma alarmante reportagem sobre o número de abusos de menores na região nos últimos meses. O tema, que choca e alerta para o risco que, indistintamente, todas as famílias correm, hoje já é debatido mais abertamente, sem os pudores que, mesmo em prejuízo das frágeis vítimas, tentavam encobrir os casos. Mas era uma época em que o zelo para com o "bom nome" e a "honra da família", por si, já era inibidor de situações que hoje perdem o controle, a começar, dos próprios pais.
Algumas pesquisas indicam que, na maioria das vezes, a violência começa dentro de casa. No entanto, essa conclusão deve ser compreendida em sentido amplo. Começa, sim, em casa, quando os pais se omitem na formação de seus filhos, desde pequenos, quando se dão as primeiras noções de "boas maneiras", de como se assentar, como conversar, como se comportar. A partir daí vai-se indicando o caminho a percorrer, distinguindo o certo do errado. Há alguns anos, menino brincava com menino e menina com menina. Machismo? Não! É para que, na fase em que a criança começa a despertar para as "curiosidades" de sua natureza, já se evite que essas descobertas sejam compartilhadas sem se saber o que é o quê.
Os filhos, em nossos dias, são criados livres em todos os aspectos, principalmente com acesso a áreas de risco, como a internete. Se antes tudo o que era ruim se aprendia na rua, agora "gradua-se" em perversão e "doutora-se" em delinqüência dentro da própria casa, nos "telecursos" que a mídia oferece; os meios de informação, assustadoramente, tornam-se corruptores de menores dentro da própria casa, sob os olhares dos pais, sejam eles ingênuos, sejam eles omissos.
A responsabilidade, portanto, é dos pais ou tutores. Filhos não devem ser criados soltos, mas, sim, ser assistidos durante todo o processo de crescimento e, antes, de formação, enquanto são instruídos e têm o caráter moldado. Infelizmente, essas pobres vítimas (pobres no sentido de desprotegidas) já nascem assim, no seio de uma família desestruturada. Pessoas desequilibradas, com taras sexuais que bradam a ira dos céus, continuarão a existir por uma série de outros problemas morais e até traumas que possam vir acumulando ao longo da vida. Esses infelizes devem ser contidos pela polícia; mas as suas vítimas, quase sempre menores, devem ser orientadas e protegidas pela família ou por quem seja capaz de fazê-lo, sem causar maiores traumas do que a ausência dos pais já causa.

domingo, março 25, 2007

A verdadeira filosofia

Mais uma vez, o Papa Bento XVI apontou o norte sobre a verdadeira filosofia, tão adversa em seus conceitos, em nossos dias, perdendo-se em devaneios de pensadores equivocados que, facilmente, se esquecem daqueles que retamente os precederam. E o Santo Padre, durante sua alocução na audiência pública da última quarta-feira, dia 20, indicou o cristianismo como a “verdadeira filosofia”, citando São Justino, um dos Padres da Igreja que viveu no segundo século.
Enquanto o mundo se rende ao relativismo, o Sumo Pontífice sugere uma aliança entre a fé e a razão – lembrando-se inclusive da magistral encíclica “Fides et Ratio” de seu predecessor, o Servo de Deus João Paulo II. O Papa discorre claramente sobre os laços existentes entre o cristianismo primitivo e a filosofia grega, contra os falsos mitos pagãos, daí citar São Justino, cuja figura e obra “marcam a opção decisiva da Igreja primitiva pela filosofia e não pela religião dos pagãos”, contra quem os primeiros cristãos recusaram qualquer compromisso.
No entanto, é interessante observar o quanto, em nossos dias, as pessoas – principalmente as que se apresentam como cristãs – facilmente se entregam aos falsos ídolos. O problema se agrava no momento em que, além de uma mera admiração, passa-se a proceder, a se conduzir, pelos moldes daquela falsa divindade que se mostra como protótipo de homem. E justamente esses são condenados por São Justino como “armadilhas diabólicas no caminho para a verdade". Ao contrário, a filosofia A filosofia representou "a área privilegiada de encontro entre paganismo, Judaísmo e Cristianismo", disse o Papa, concluindo que, “num tempo como o nosso, marcado pelo relativismo no debate sobre o valores e sobre a religião”, as lições de São Justino “não devem ser esquecidas”.
Quando escreveu a “Fides et Ratio”, em 1998, João Paulo II, abre sua encíclica definindo bem a correlação entre essas duas virutdes: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio”. A partir daí, pode o homem aprofundar-se no seu íntimo, vislumbrando nele a grandeza de Deus, sentindo a intervenção divina no caminhar da humanidade.

sexta-feira, março 16, 2007

Língua mater

Na exortação apostólica pós-sinodal "Sacramentum caritatis", o Papa Bento XVI deu um alento de vida à cultura eclesiástica. O Santo Padre pediu para que não se perca o uso do latim na liturgia, "particularmente quando delas participam fiéis de diferentes países e idiomas, hoje cada vez mais freqüentes".
Quando digo que sua declaração é um alento, deve-se à terrível perseguição empreendida contra a cultura religiosa, em todos os seus aspectos, pior ainda, dentro da própria Igreja, por pessoas certamente com pouca ou nenhuma formação humanista, imperceptível até ante a necessidade de um meio de comunicação que possibilite a convivência entre pessoas de nacionalidades diversas. Esses iconoclastas, geralmente inimigos ferozes do "capitalismo selvagem", antagonicamente preferem fortalecer o império norte-americano, optando pela língua inglesa. A perseguição ao latim tanto existiu, com grande influência ainda em nossos dias, que contam-se os poucos religiosos que tenham domínio da língua mater.
Essa realidade foi mais agressiva na América Latina. Por causa de uma necessidade pastoral, adotando o vernáculo nas celebrações, para melhor entendimento e participação dos fiéis, baniram o idioma de Cícero e de Virgílio, definitivamente, do curso eclesiástico e, nesse ínterim, também do currículo escolar. A isso seguiram-se, na Igreja, traduções ambíguas dos textos latinos, que até hoje estão sendo retificados; no Brasil, em particular, reformas ortográficas distanciando as palavras de suas referências etimológicas e de sua correlação com aquela que gerou o português, exaltado por Bilac como a "última flor do Lácio".
Ouvi de um sacerdote, certa vez, referindo-se às difíceis fases da manutenção da disciplina clerical ao longo da história, que "quando um padre cai, arrasta consigo uma multidão". Sem nos atermos ao mérito da afirmação, de fato, com a decadência cultural do clero, verificou-se uma dispersão e até desaparecimento de referências religiosas, consideradas por eles como "antigas", "ultrapassadas", "longe da realidade em que vivemos". Manifestações peculiares da fé popular, herança dos povos ibéricos, perderam-se pela simples vontade de que não se fizesse isso ou aquilo. A beleza do teatro eclesiástico a que se assistia nas cerimônias religiosas, tendo como pano de fundo a riqueza barroca de nossas igrejas, perdeu-se quase por completo; em muitos lugares, nem nos dias festivos. Isso porque, ao verem a miséria, debruçaram-se sobre ela, sem olhar para o alto.
O pedido do Santo Padre refere-se ao uso do latim na liturgia. Aliás, seus antecessores também o fizeram, desde Paulo VI. Mas a palavra de Bento XVI, pela sua posição firme quanto à ortodoxia da Igreja, ressoa com mais austeridade. Por isso, Deus permita, que o clero (a partir de seus formadores) busque associar aos estudos eclesiásticos a cultura humanista, o que incentivará sua busca na sociedade em geral, porque a Esposa Imaculada de Cristo ainda - como sempre o será - é um fanal a guiar a humanidade, padecente e pecadora, confortando-a com a sua doutrina e com a beleza da criação.

O Anticristo

Detive-me, outro dia, diante de um texto de um sacerdote católico, padre Castellani, respeitado pensador argentino, em que descreve o panorama em que surgiria o tão comentado Anticristo. O texto, publicado em 1953, nos apresenta situações que não nos são estranhas, pois parecemos vivê-las. Ei-lo:
“O Homem do Pecado tolerará e se aproveitará de um cristianismo adulterado... Imporá por todas as partes o reino da iniqüidade e da mentira, o governo puramente exterior e tirânico, a “liberdade” desenfreada dos prazeres e diversões, a exploração do homem; e seu modo de proceder hipócrita e sem misericórdia. Haverá em seu Reino uma estrondosa alegria falsa e exterior, cobrindo o mais profundo desespero.
Em seu tempo acontecerão os mais estranhos distúrbios cósmicos, como se os elementos se houvessem revoltado. A humanidade estará numa grande expectativa e reinará grande confusão e dissipação entre os homens. Rompidos os laços de família, de amizade, de lealdade e bom relacionamento, os homens não poderão confiar em ninguém, e correrá no mundo como um tremor frio, um universal e ímpio ‘salve-se quem puder’. Será atropelado o que há de mais sagrado e nenhuma palavra terá mais fé, nem pacto algum terá vigor, senão pela força. A caridade heróica de alguns fiéis, transformada em amizade até a morte, manterá no mundo ilhotas de fé; porém, mesmo ali, ela estará continuamente ameaçada pela traição e pela espionagem. Ser virtuoso será um castigo em si mesmo e como uma espécie de suicídio”.
Parece-me evidente que os processos políticos atuais geraram um mundo sem lideranças. Não há verdadeira liderança nos atuais países porque todo o jogo político local obedece a ordens que não entendemos nem ouvimos. E não há, também, uma liderança mundial, porque o lugar ainda está vago. Seria o lugar dele, do Anticristo? Quando este homem do pecado determinar que chegou a hora de aparecer, será certamente ovacionado por toda a humanidade, pois falará a mesma linguagem, terá o mesmo pensamento de todos. Sua ideologia, sua política, sua ciência, tudo corresponderá ao que os homens pensam e praticam já hoje. Daí temermos que o mundo esteja pronto.
Não estou aqui, qual pitonisa desvairada, a dizer que o fim do mundo está próximo, ou que o Anticristo seja tal ou tal pessoa. O que nos apresentam as linhas do padre Castellani é uma alerta para que nos conscientizemos do perigo que nos cerca. Impotentes que somos diante dessa situação, só nos resta suplicar a misericórdia divina e, antes que cedamos a alguma sedução do mal, pedir: “abi ira tua libera nos, Domine”.

Verdades à tona

Em meio a inúmeras publicações sensacionalistas, para não dizer falsas, tem aparecido boa cousa no mercado, não obstante, muitas vezes, nos seja difícil adquiri-los, em decorrência de uma tiragem reduzida que acaba se esgotando nos grandes centros, isso quando não ficam pela Europa e nenhuma editora daqui se interessa traduzi-la. E alguns temas têm surgido em boa hora, revendo certos momentos da vida dos homens e dos povos que servem como pistas deixadas nos caminhos para a História.
Assim aconteceu com mais uma publicação que, vindo de onde não se esperava, elucida a participação do Papa Pio XII (1939-1958) nas tratativas para conter a perseguição nazista. Ion Mihai Pacepa, antigo chefe da espionagem romena a serviço da KGB, é o autor de um artigo divulgado por uma revista norte-americana, fazendo revelações interessantes que inocentam o Eugenio Pacelli das acusações de conivência com o governo nazista. O trabalho de Mihai Pacepa torna-se mais uma pista, um marco, uma fonte que deverá estar presente, doravante, em toda publicação sobre as acusações sofridas por aquele lídimo Papa da Paz, depois de sua morte.
Todas as defesas escritas, fotos, documentos, com que se tentava convencer os homens de bem de que Pio XII nunca aceitara o Nazismo e nunca fora negligente para impedir o massacre dos judeus ficam como em segundo plano, diante da força do testemunho desse homem. Ion Mihai Pacepa esteve diretamente envolvido na falsificação dos documentos que produziram, em Moscou, a peça teatral "O Vigário", em 1963, que suscitou a difamação de Pio XII. Com suas revelações, agora não há mais como alguém manter as críticas a Pacelli sem aparecer como desinformado e atrasado. Mais uma vez, aparece o comunismo internacional como uma religião do inferno atacando à morte a única Religião verdadeira. Mais uma vez vemos a que ponto chegava a maldade e a mentira daqueles que eram apontados como os salvadores da humanidade, no entanto, nada mais foram do que exploradores e escravizadores dos homens.
Estas farsas conseguiram inculcar no consabido, na opinião pública, que só faz repetir como papagaios aquilo que é manipulado a partir dos centros de domínio da humanidade, que outrora passava por Moscou e hoje parte da ONU, do G8, da Bildeberg e de outras reuniões dos poderosos do planeta: é assim que vai-se perdendo a guerra na luta contra o aborto, obrigados a engolir uma moral anti-cristã, destruidora da família, dominados por um mundo pervertido, comandado pelas forças do mal. Contudo, às pessoas de bom senso, fica a certeza de que Nosso Senhor é quem nos trará a vitória, a seu tempo, se perseverarmos na vida da graça, na oração e no combate que nos é dado a pugnar.

Pena de morte

Propositalmente, deixamos passar o tempo para comentarmos a triste morte do pequenino João Hélio, no Rio de Janeiro, sob o olhar desesperado de sua mãe. Sua morte não é conseqüência, apenas, da violência de nossos dias; é mais uma reprise da matança dos inocentes que, desde os primeiros dias da era cristã, vem se repetindo por causa do interesse, do poder, da satisfação do mal, levando, enfim, à selvajaria social, à “globalização da barbárie”, como o senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, denominou o momento que vivemos, em inflamado discurso, na tribuna do Senado.
O assassinato de uma criança de 6 anos chocou a Nação e a emoção causada trouxe à tona, em certos meios, o debate sobre a pena de morte. A mídia cuidou em divulgar o caso do menino João Hélio, mas quantos outros tantos sofrem, todos os dias, em casa, na sociedade, no seu íntimo? Quantos foram mortos de forma brutal e quantos se definham aos poucos, até não terem mais forças para o seu último suspiro? O caso de João Hélio foi um alerta à sociedade que, após um mês, já não se lembra tanto mais dele, senão sua mãe que afoga no âmago os mais sentidos suspiros de sua soledade.
Tomando a proposta de pena de morte para uma breve análise, há apenas um ponto de tangência com a ordem moral e que poderia ser assim formulado: na sua luta contra o crime, sobretudo quando o índice de criminalidade se acha em assustadora elevação, pode o Estado usar de meios mais enérgicos, inclusive da pena capital, para restaurar a tranqüilidade e a segurança pessoal no seio da sociedade? Não se pode aplicar uma pena tão severa, se não se deu à sociedade condições plenas para dela não necessitar, em hipótese alguma. As desordens morais, infelizmente, avistam-se nas esferas do poder, alimentando a indignação das classes mais baixas, que apelam pela irreverência e pela subversão.
Há uma responsabilidade muito grande em se aplicar a pena capital, senso, este, impossível de ser abstraído pelos atuais governantes, em quase todo o mundo. Pio XII, o lídimo Papa da Paz, em seus escritos insistiu diversas vezes contra a “liceidade da pena capital”. Não se pode, em nome de uma gelatinosa complacência com os perversos, desarmar e desproteger os inocentes, como tentam fazer algumas organizações; como disse o célebre Gustavo Corção certa vez: “eles realmente — esses amolecedores de tudo — não fazem a menor idéia do verdadeiro e infinito valor da vida humana”. Por outro lado, não se pode, muito menos, lançar mão de recursos extremos que, nas atuais circunstâncias, não fariam justiça.
Por isso, o martírio do pequeno João Hélio há de servir para alerta de nossa sociedade e de sufrágio pela conversão de tantos que semeiam o mal. Assim como Nosso Senhor, no alto do patíbulo, pediu a Deus que perdoasse os seus algozes, seria conveniente a sociedade, ao invés de bradar pela pena de morte, pedir a conversão de tantos criminosos, assim como Santa Catarina de Sena converteu o jovem Tuldo, na véspera de sua execução, e Santa Terezinha o famigerado Pranzini. Todos são chamados à conversão e podem ser instrumentos para a salvação do próximo, mais do que para a condenação.

Tradições religiosas da Semana Santa

Na contemplação da imagem do Cristo ensangüentado e com a cruz às costas, muitos corações endurecidos cedem à contrição
Minas Gerais é uma região rica em tradições religiosas. O destaque é para o Tempo da Quaresma, culminando com a Semana Maior, a Semana Santa. Em muitas cidades, ainda se conservam tradições que remontam ao oceano, trazidos pelos colonizadores. São atos de piedade, muitos deles paralitúrgicos, que sempre contribuíram para alimentar a fé, principalmente dos mais humildes. Apesar da investida bestial, inclusive de alguns membros do clero, contra esses costumes, muitos, por enquanto, conseguem assimilar a importância dessas solenidades, conservando-as e até restaurando-as, onde travou-se a batalha contra os valores culturais e contra a espiritualidade do povo humilde.
Mas não é a intenção deste artigo julgar ou questionar as atitudes dos outros, senão procurar entender todo esse aspecto religioso peculiar do qual se reveste este período, com maior fervor em determinadas localidades e cerimônias específicas. Genericamente, vive-se esta época em função da prática da meditação sobre a morte, humanamente entendida (e não teologicamente), às vezes até em prejuízo da celebração da redenção do homem, que culmina com a ressurreição de Cristo. Porém, deve-se observar que o ambiente e as prescrições religiosas levam a isso; o jejum, o recesso das festas (embora poucos observem, hoje, esse costume), o recolhimento a que os altares nas igrejas, revestidos de panos roxos, convidam, simbolizam o recato pela paixão e morte de Jesus e a admoestação para a prática de penitência, quando, então, o homem volta-se para o seu interior e, mirando o sofrimento do Cristo, enxerga a sua miséria.
É na contemplação da imagem do Redentor ensangüentado e com a cruz às costas que muitos corações endurecidos cedem à comiseração, reconhecendo, misteriosamente, as suas fraquezas e, penitente, põe-se a acompanhar aquele que como um titã, elevado sobre os ombros dos fiéis, avança pelo mar de pecadores que o acerca. É a procissão do Senhor dos Passos, um dos mais antigos costumes oriundos de Portugal, talvez a primeira cerimônia extra-litúrgica de que se tem notícia, antes de se começarem a realizar as procissões do encontro e do enterro. Em Lafaiete, acredita-se que em meados do século XVIII já se fazia a "Festa de Passos", promovida pela Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, que funcionava na Matriz. A comemoração, em um dos domingos da Quaresma (portanto, antes da Semana Santa), constava de celebração da Santa Missa e procissão com a imagem do Senhor dos Passos, que percorria os passos (pequenos oratórios públicos), onde se fazia breve meditação sobre a Paixão. Esses passos se localizavam um no Largo da Matriz (onde hoje está o prédio da Escola de Música), outro na rua do Carmo (atual avenida Prefeito Mário Pereira, nas imediações do imóvel de número 97) e na rua Direita (atual rua Comendador Baêta Neves, nas proximidades do nº 241); não se sabe se teve mais algum passo, pois são sete os Passos da Paixão. Há referência, também, na última década do século XVIII, no livro de registros de casamentos da freguesia de Queluz, de uma ermida do Senhor dos Passos na Vila.
A imagem do Senhor dos Passos, da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, é uma autêntica peça do barroco mineiro. O artista plástico e restaurador Carlos Magno Araújo, que a restaurou há alguns anos, suspeita que ela seja obra de um santeiro que existiu na região de Ouro Preto, na primeira metade dos setecentos, dada a similitude com outras obras identificadas como sendo dessa oficina. A imagem em roca possui um semblante assaz expressivo, num misto de dor e de compaixão. No rosto, há indícios de que as gotas de sangue sejam rubi, algo pouco comum naquela época nesta região, com semelhantes casos apenas em Ouro Preto, São João del Rei e Sabará.
O fervor religioso, associado à figura do Senhor dos Passos, está intimamente ligado a promessas feitas em virtude de pestes e calamidades. Daí que, para além desta procissão, em períodos mais difíceis, como em tempos de seca ou de alguma epidemia, sua imagem era levada à rua, como forma de "aplacar" o que entendiam ser a ira divina. Todas estas manifestações têm uma carga simbólica acentuada. Na procissão do depósito, por exemplo, a imagem do Cristo ia velada, representando a passagem do Cenáculo para o Monte das Oliveiras, no silêncio da noite, quando a amargura pela hora que se aproxima rodeava o Divino Mestre; apenas quando o préstito chegava à igreja onde ficaria depositada a imagem até o momento da Procissão do Encontro, tirava-se o velário para a veneração dos fiéis. Quando começou a realizar o depósito, também, da imagem de Nossa Senhora das Dores, procedia-se da mesma forma.
A Procissão do Encontro, costume este que só foi introduzido em Minas no século XIX, ainda hoje continua a reunir milhares de pessoas que se reúnem para assistir a essa marcante cena da história da redenção: o instante em que o filho, a caminho da morte, se encontra com sua mãe. Toda a movimentação remete os espectadores a uma época que se confunde entre a veracidade dos tempos bíblicos e o teatralismo lúgubre, peculiar do barroco, como herança mística da Idade Média.
O préstito conduz o andor com a imagem do Senhor dos Passos. Por cinco vezes o cortejo é interrompido diante dos Passos (o total de sete passos conta-se com a igreja onde estava depositado e a outra onde será recolhido); ali se medita a Paixão, por meio da leitura de um texto ou o canto dos famosos "Motetos dos Passos"; aliás, a música sempre teve função relevante nas solenidades religiosas. Até há bem pouco tempo, cantavam-se os motetos de autoria de Antônio de Pádua Falcão, que viveu em Tiradentes (MG) entre os séculos XIX e XX, mas há referências de execução das peças do mineiro Manoel Dias de Oliveira em tempos remotos. Também, na região, compuseram músicas para essa ocasião os compositores João Horta, em Itaverava, e Arlindo Ramos, em Queluz. Em um desses passos da Paixão, a Verônica intervém no drama e, piedosa, apresenta o pano onde se estampara a face ensangüentada de Cristo, com o qual a limpara. Nesse momento, ela busca em Jeremias a expressão da sua dor: "Ó vós todos que passais por este caminho, atendei e vede se há dor igual à minha dor" (Lam 1,12).
No chamado Encontro, o sermão está relacionado com a comovente cena, cabendo ao orador, com sua retórica, arrancar a contrição de seus ouvintes, inspirados pela descrição daquele drama. Ao final, aproximam-se os andores; a imagem do Senhor dos Passos passa adiante e, como que desolada, conduzem a da Senhora das Dores por entre o povo até o Calvário.
Assim se faz(ia) em Minas, onde as montanhas são como expressões diversas da espiritualidade deste bom povo, sempre procurando aproximar-se mais do Céu.

quinta-feira, abril 27, 2006

Os arcebispos de Mariana

Comemorando o centenário de sua elevação a Província Eclesiástica
1º de maio de 1906. Aos repiques festivos dos sinos da Sé Catedral da “urbs cellula mater” se uniam o bimbalhar das campanas das demais igrejas do bispado primaz das Gerais: o Santo Padre o Papa Pio X criara a Província Eclesiástica de Mariana, pelo decreto “Sempiternum Humani Generis” da Sagrada Congregação Consistorial.
Contava o Brasil com apenas duas arquidiocese – São Salvador da Bahia e São Sebastião do Rio de Janeiro, às quais se submetiam pouco mais de uma dezena de dioceses. Os distantes territórios dessas circunscrições eclesiásticas dificultavam, deveras, as ações pastorais necessárias para o progresso espiritual dos católicos e manutenção da disciplina.
A Diocese de Mariana, criada pelo papa filósofo Bento XIV, a 6 de dezembro de 1745, pela bula “Candor Lucis Æternæ”, com pouco mais de 40 freguesias, contava, no limiar do século XX, 300 paróquias e em torno de 500 sacerdotes. Novamente, assim como há 160 anos antes, dificultavam o governo diocesano os longínquos limites do bispado, favorecendo a dispersão do rebanho. Mas, nos primórdios da última centúria do segundo milênio da cristandade, a realidade da Igreja no Brasil era outra; não mais dependia das concessões do padroado; ao contrário, já lhe traçava suas metas. O episcopado começava a se relacionar mais proximamente, tendo se reunido pela primeira vez em 1890, preparando-se para o Sínodo Episcopal que se realizou em Mariana, em 1907, para as dioceses do Sul, e em 1911, na Bahia, para as dioceses do Norte. É nesse contexto que São Pio X cria a Arquidiocese de Mariana.
A Província Eclesiástica é um agrupamento de dioceses vizinhas, promovendo a ação pastoral comum dessas igrejas particulares, “de acordo com as circunstâncias de pessoas e lugares, e para se estimularem as relações dos Bispos diocesanos entre si” (cf. CIC cân. 431). Ao ser criada, a Arquidiocese de Mariana teve como sufragâneas as dioceses de Goiás, Diamantina e Pouso Alegre. Com o passar dos anos, outros bispados foram criados e lhos anexaram, como Uberaba e Campanha (1907), Araçuaí (1913), Porto Nacional (1915), Caratinga e Guaxupé (1916), Luz (1918), Belo Horizonte (1921), Juiz de Fora (1924), Leopoldina (1942), São João Del Rei (1960) e Itabira (1965), algumas destas passando à circunscrição de outras províncias eclesiásticas que também foram instituídas com o passar dos tempos. Atualmente, apenas Caratinga, Governador Valadares e Itabira/Coronel Fabriciano são suas sufragâneas.
Com a criação da Arquidiocese de Mariana, o então bispo Dom Silvério Gomes Pimenta, foi elevado à dignidade de arcebispo, pela bula “Cum nos alias”, de 6 de dezembro de 1906. A solene imposição do pálio (insígnia da plenitude do ofício episcopal) aconteceu durante as celebrações do Sínodo Episcopal, em Mariana, a 6 de agosto de 1907, pelo Emmº. Cardeal Arcoverde, arcebispo do Rio de Janeiro, durante cerimônia na mesma Sé onde, 159 antes, se erguera o áureo trono episcopal de Minas.
O primeiro arcebispo, Dom Silvério Gomes Pimenta, nasceu em Congonhas do Campo, a 12 de janeiro de 1840, filho de Antônio Alves Pimenta e Porcina Gomes de Araújo. Órfão de pai aos 9 anos, com cinco irmãos menores e sua mãe, passou sua infância em meio à privação, ao trabalho, às dificuldades decorrentes de sua cor parda e ao desejo de estudar, o que levou seu tio a matriculá-lo no Colégio Matosinhos, em sua terra natal, cursando latim, francês, filosofia e geografia, concluindo-os com notória competência. Sem condições para continuar os estudos, recorreu ao santo bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, que o atendeu, chamando-o ao Seminário, em 1855, e ordenando-o padre a 20 de julho de 1862. As virtudes do jovem sacerdote logo se tornaram conhecidas por todos, como lente dedicado no Seminário, pela sua atuação na imprensa e orador eloqüente. Com a morte de Dom Viçoso, em 1875, foi eleito Vigário Capitular, cujo governo provisório à frente da Diocese mereceu elogios do novo bispo, Dom Antônio Maria Corrêa de Sá e Benevides, de quem foi Vigário Geral e eleito bispo auxiliar em 1890, com o título de Câmaco. Dom Benevides morreu em 1896, sucedendo-o na cátedra marianense o pardo Dom Silvério. No entanto, o governo da Diocese já se encontrava em suas mãos desde que fora eleito bispo auxiliar. Dom Benevides, devido às agruras da enfermidade, constantemente se ausentava da sede do Bispado para ir se tratar na corte. A humildade, a sabedoria, a prudência, o patriotismo e o amor à Santa Igreja fizeram de Dom Silvério um grande homem, ilustre prelado, cidadão honrado, cultor das letras, sem se descuidar, durante toda a sua vida religiosa, do progresso espiritual e intelectual de seus diocesanos.
Empreendeu várias obras para a maior glória de Deus e o engrandecimento da Santa Igreja. Trabalhou pela manutenção do seminário e abertura de novos colégios em sua diocese, incentivou e promoveu obras sociais de assistência aos doentes, velhos e à infância desvalida, organizou o patrimônio das igrejas, empreendeu veementes esforços para regularizar a administração do Santuário de Congonhas, dedicou-se à criação de novas dioceses. Suas Cartas Pastorais e visitas às freguesias fomentaram a piedade dos católicos, animaram o clero no ministério sacerdotal (não obstante as ovelhas arredias, as quais, muitas, retornaram ao rebanho) e transpuseram as alterosas de Minas, tornando-o conhecido além delas. Dom Silvério granjeou a admiração de quantos o conheceram, tornando-se amado e venerado por todos. Foi ele quem abriu o processo de beatificação de seu predecessor e protetor, Dom Viçoso.
Como reconhecimento de suas virtudes, o Imperador Dom Pedro II concedeu-lhe, quando ainda era Vigário Geral da Diocese, as comendas da Ordem de Cristo, em 1881, e Ordem da Rosa, em 1889. Recebeu o título de Conde Palatino, Assistente ao Sólio Pontifício, concedido pelo Papa, e a Comenda da Ordem da Coroa, em 1920, por benevolência do Rei da Bélgica, em gratidão ao auxílio que o arcebispo mandou àquele reino, por ocasião da Primeira Guerra. Membro correspondente da Academia Filosófica de Santo Tomaz de Aquino, em Roma, por seus conhecimentos filosóficos, foi eleito membro efetivo da Academia Brasileira de Letras, em 1919, recebido no ano seguinte, pelo Conde Carlos de Laet, ocupando a cadeira 19.
A personalidade literária de Dom Silvério ficou marcada por seus livros e cartas pastorais, gozando o arcebispo acadêmico da fama de poliglota, conhecedor que era do latim, grego, hebraico, além das línguas vivas que usava correntemente. Publicou poesias em latim. Sua obra maior é a “Vida de Dom Viçoso”, relatando, com muita unção e pureza literária, a vida daquele que foi, sem dúvida, seu maior benfeitor. Como jornalista, o arcebispo fundou e dirigiu, em Mariana, o “Bom Ladrão”, “O Viçoso”, “O Dom Viçoso”, editados sob sua orientação e dirigidos pelos padres José Severiano de Resende, um dos maiores intelectuais que Minas conheceu, e Luís Espechit. Os versos latinos, as cartas pastorais e os artigos na imprensa granjearam-lhe fama, sendo comparado ao Padre Manuel Bernardes e a Frei Luís de Sousa. E foi esse renome que o levou à Academia Brasileira de Letras.
Dom Silvério morreu em Mariana, a 30 de agosto de 1922, sendo enterrado na Sé.
Após sua morte, foi eleito Vigário Capitular da Arquidiocese o arcebispo titular de Beirute e seu auxiliar, Dom Antônio Augusto de Assis. A 23 de fevereiro daquele ano, o arcebispo de São Luiz do Maranhão, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, havia sido transferido para a Igreja Titular de Verissa e eleito auxiliar, com direito a sucessão, do arcebispo de Mariana, mas, como não havia tomado posse ainda, teve que esperar novas bulas da Santa Sé, que só foram despachadas a 10 de novembro de 1922. Dom Helvécio tomou posse por seu procurador, o Vigário Capitular, a 26 de novembro de 1922, e no mesmo dia fez sua entrada solene na Catedral.
O segundo arcebispo chegou à Mariana com fama de “progressista”. Lima Júnior descreve interessante episódio, nas páginas de um romance em que relata costumes da Cidade-Mãe, sobre a chegada de Dom Helvécio. Havia uma tradição, dos tempos do primeiro bispo, Dom Frei Manuel da Cruz, sobre a entrada do bispo na cidade de Mariana. Eram cerimônias revestidas de grande brilhantismo, além do que prescrevia o Pontifical Romano, como que revivendo os faustuosos dias em que se ergueu o Áureo Trono Episcopal nas Minas Gerais. Porém, mesmo contrariando o Cabido, arriscando uma querela com aquela egrégia instituição, Dom Helvécio não aceitou o ultrapassado cerimonial. Chegou a Mariana pelos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil, paramentou-se na sala do chefe da Estação e rumou, em solene préstito, à Sé, onde foi entronizado.
O temperamento aparentemente reacionário do prelado capixaba, nascido em Anchieta (ES), em 1876, formado pelos padres salesianos, gozava de um espírito empreendedor. Instituiu associações para trabalharem em prol das vocações sacerdotais e religiosas, fundou colégios e hospitais em várias cidades, promoveu a vinda de congregações religiosas para a arquidiocese, reorganizou a administração pastoral e financeira da arquidiocese, criou as foranias eclesiásticas, construiu o prédio do Seminário Maior São José e um novo Palácio Arquiepiscopal, denominando-o Vila Getsêmani; concluiu as obras da Igreja de São Pedro dos Clérigos, onde instalou o Museu de Arte Sacra; transferiu a Câmara Eclesiástica, que se encontrava mal acomodada no velho palácio, para a Casa Capitular, doada pelo Cabido à Mitra, entre outras significativas melhorias.
Burlescas e más lembranças, fomentadas por um espírito anticlerical (antagonicamente até mesmo pelo clero), intentam, debalde, conspurcar a memória do insigne arcebispo que tantos benefícios proporcionou à Igreja Particular de Mariana e a Minas, como a expansão industrial na zona metalúrgica, incentivada e aplaudida por Dom Helvécio.
Por ocasião de seu Jubileu de Prata sacerdotal, a 18 de agosto de 1926, o Papa Pio XI concedeu-lhe o título de Conde, elevado à dignidade de Assistente ao Sólio Pontifício.
Uma enfermidade que o acompanhou por muitos anos tentou privá-lo de seu múnus, ante o que foi-lhe concedido um bispo auxiliar, em 1947, sendo eleito o Padre Daniel Tavares Baeta Neves, que já trabalhava como seu secretário. Dom Daniel exerceu o seu ministério, ao lado do amado arcebispo, “cor unum et anima una” – como era o seu lema, até 1958, quando se transferiu para a Diocese de Januária. Para substituí-lo, foi removido da Diocese de Pouso Alegre (MG), como bispo auxiliar com direito a sucessão, Dom Oscar de Oliveira, assumindo o arcebispado após o falecimento de Dom Helvécio, a 25 de abril de 1960.
Nascido em Entre Rios de Minas (MG), em 1912, e formado no Seminário de Mariana, Dom Oscar conhecia bem o seu presbitério; fora cura da Catedral e professor no Seminário Maior. Seu governo iniciou-se em um momento de graves transformações, em decorrência do Concílio Ecumênico, crises políticas no país e alterações comportamentais. Contudo, nada disso prejudicou o seu ministério e, quando tentaram impor-lhe alguma pecha que não condizia com sua conduta, logo se via nele o lídimo sucessor dos Apóstolos, primando pela missão de conduzir sua Igreja Particular à unidade com a Igreja Católica, constituindo um só rebanho e um só pastor a caminho da Jerusalém Celeste.
Assim como os seus predecessores, zelou pelos seminários e fomentou a Obra das Vocações Sacerdotais. Preparou a criação de duas novas dioceses e erigiu novas paróquias. Construiu um outro prédio para o Seminário Menor, escolas, faculdades e hospitais. Na Sé, reuniu os restos mortais dos bispos de Mariana na cripta que fez construir no subsolo do templo e conseguiu a restauração do bicentenário órgão de tubos. Cuidou do acervo histórico da arquidiocese, alertando sobre sua importância e orientando sobre a sua preservação, abriu museus, organizou o arquivo eclesiástico, reunindo na Cúria os livros de registros paroquiais, evitando que desaparecessem. Dispensou especial atenção aos veículos de comunicação, como auxiliares no processo de evangelização, através da Rádio Difusora de Congonhas e do jornal “O Arquidiocesano”. Escritor apreciado e sensível poeta, publicou diversos livros, além de artigos em jornais e revistas. Foi recebido pela Academia Mineira de Letras e pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto Histórico de Minas Gerais e de São Paulo, além de outras instituições congêneres.
Cumprindo a uma disposição canônica, Dom Oscar renunciou ao governo da arquidiocese, ao completar 75 anos de idade, sendo substituído por Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, que tomou posse a 28 de maio de 1988. Dom Oscar retirou-se para sua terra natal, onde faleceu a 24 de fevereiro de 1997.
Nascido em tradicional berço carioca, que remonta famílias aristocráticas nordestinas, a 5 de outubro de 1930, desde cedo Dom Luciano mostrou-se determinado em seus propósitos e um deles, tão logo gozou do uso da razão, foi o de ser padre. Para isso, além da graça divina, contribuiu deveras a formação religiosa que lhe legaram os seus pais, Cândido Mendes de Almeida e Emília Mello Vieira Mendes de Almeida, proporcionando-lhe boa educação em colégios católicos, até que ingressou na venerável Companhia de Jesus. Determinara ser mais um soldado na legião aliciado por Santo Inácio de Loiola, sedento por tudo fazer para a maior glória de Deus e salvação das almas.
Durante sua formação sacerdotal, sem tardança se notaram suas capacidades intelectuais, despontando-se como primoroso filósofo, seguindo, então, para a Cidade Eterna onde prosseguiu seus estudos, ordenou-se presbítero, doutorou-se e retornou ao Brasil, já após o Concílio Vaticano II, sendo designado à formação de religiosos no escolasticado da Companhia de Jesus. Muito sensível às necessidades humanas, logo se compadeceu pela situação de muitos que se lhe apresentavam carentes de assistência espiritual e material, quando não pôde deixar de atender a esse apelo que o inseriu entre aqueles que optaram pelos pobres.
A partir daí, envolveu-se com as organizações de classes, as CEBs, não se deteve ante questões políticas (quando o país vivia sob a austeridade de um governo militar) e acabou junto ao episcopado, emprestando seu brilho àquela instituição. E foi lá, na CNBB, que o Papa Paulo VI o resgatou para o múnus episcopal, em 1976, designando-o auxiliar do arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, com quem trabalhou até sua nomeação para o arcebispado de Mariana. Enquanto isso, ocupou cargos de relevo na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e na Conferência Episcopal Latino-americana, além de membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz e do Conselho da Secretaria do Sínodo dos Bispos.
Como arcebispo primaz de Minas, Dom Luciano deu um novo impulso pastoral, organizando a arquidiocese em cinco regiões, promovendo assembléias, reestruturação dos conselhos arquidiocesanos e dos seminários, elaboração de planos de evangelização, investimento na expansão do setor de comunicação e nas obras sociais, sem se esquecer da necessidade de preservação do patrimônio histórico e cultural que se encontra sob a tutela da Igreja, guiando o seu rebanho como um fanal, predito por seu antecessor no dia de sua posse: “Vem ele iluminar do cimo destas altaneiras montanhas com a Luz de Cristo, Cristo Luz do Mundo”.
Esses são os preclaros antístites que dignificam a descendência apostólica dos primeiros príncipes da Igreja, dando mostras de denodada dedicação ao múnus episcopal que lhes foi confiado à frente da arquidiocese-mãe de Minas, glória fúlgida da Esposa Imaculada de Cristo.
27/04/2006

Páscoa

A Santa Igreja se prepara hoje para a grande festa do cristianismo, a Páscoa, em que se conclui o mistério da Redenção. E para melhor celebrá-la, nesta noite se celebra a Vigília Pascal, na qual se convergem todas as celebrações da Semana Santa e, mais ainda, de todo o Ano Litúrgico. Lembrando a grande noite de vigília do povo hebreu no Egito, aguardando a hora da libertação (Ex 12), nela celebram os cristãos a sua própria redenção pelo mistério da Ressurreição de Cristo. Por ela se realiza a grande Páscoa ou Passagem da morte para a vida, ou do estado de perdição para o estado de salvação. É a vitória final de Deus, em Cristo, sobre o pecado, sobre o mal e sobre a própria morte. Na mística, os cristãos apropriam-se da graça desta passagem pelo Batismo, daí,a liturgia batismal nessa celebração.
Chamada pelo santo Bispo de Hipona como “a mãe de todas as vigílias”, a Vigília Pascal é uma soleníssima celebração, muito rica de simbolismo global e de símbolos particulares: as trevas, a luz, a água, o círio pascal, a cor alegre dos paramentos, a manifestação de alegria através do canto e do bimbalhar dos sinos. Integram-na quatro partes, que são a liturgia da luz, com a bênção do fogo novo; o rito da Palavra, quando se relata toda a história da redenção; a liturgia do batismo, com a bênção da água; e, por fim, a celebração eucarística.
Com Cristo ressuscitado, a Luz brilhou nas trevas. Daí a celebração do fogo novo, ou fogo virgem, com o qual se acende o círio pascal, que simboliza o Redentor, conduzido em procissão e diante do qual se canta o Precônio, anunciando solenemente a ressurreição. Todos são convidados a terem nas mãos velas acesas, imitando aqueles servos de que fala o Evangelho (Lc 12, 35-37), os quais esperam, vigilantes, o seu Senhor, que os fará sentar à sua mesa. No rito da Palavra, narram-se os gestos maravilhosos de Deus na história da salvação, desde a Criação do mundo até ao grande gesto da “Nova Criação”, pela ressurreição de Cristo, início e primícias de um mundo novo. As leituras são intercaladas por aclamações, a última das quais é o canto do “Aleluia”. Ao canto do Glória, os sinos, que se encontravam silenciados desde a Quinta-feira Santa, anunciam festivamente a vitória de Cristo.Outro momento importante da Vigília é a liturgia batismal, com o canto da Ladainha de Todos os Santos, bênção da água batismal e aspersão dos fiéis. Nessa ocasião, todos renovam as promessas do batismo, professando publicamente a sua fé. Finalmente, a celebração da Santa Missa, em que a participação de todos ao banquete eucarístico é a mais sincera oferta que se faz a Deus, de um coração puro e contrito, a regozijar pela vitória da Graça sobre o Pecado.
09/04/2006

O testamento e a malhação de Judas

Uma das manifestações populares lusitanas, que se inseriu no folclore brasileiro, é a Malhação de Judas, no Sábado de Aleluia. Judas, apóstolo traidor, cognominado Iscariotes por ser oriundo de Carioth, cidade ao sul de Judá, já um ano antes da Paixão de Jesus teria perdido a fé no Mestre, mas continuava a acompanhá-lo por comodidade e para ir furtando do que ofereciam aos apóstolos. Obcecado pelo dinheiro, antes de se afastar de Cristo, resolveu entender-se com os sinedritas - membros do Sinédrio, conselho supremo dos judeus. Judas assistiu ainda à última ceia, em que Jesus revelou a sua traição, mas foi logo ao encontro dos inimigos de Cristo para cumprir o que tinha combinado e receber 30 dinheiros. Consumada a traição, arrependeu-se, quis restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.
É a esse trágico fim que um costume originário da Península Ibérica foi radicado em toda a América Latina, desde os primeiros séculos da colonização européia. No Brasil, ilustra esse costume antigo o julgamento de Judas, sua condenação e execução. Antes do suplício, alguém lê o “testamento” do traidor de Jesus, escrito em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais, com graça oportuna e humorística para quem pode identificar as figuras alvejadas, em quadras simples, com uma rima fácil e compreensível. Existe, nessa representação, uma inter-relação entre o lúdico/profano e o sagrado, através do qual é possível compreender a aproximação entre o culto religioso e uma espécie de jogo, em que a criação cultural do homem se mistura com os aspectos sagrados por ele evocados.
Em Lafaiete esse costume remonta os tempos de Queluz, não obstante à reação do clero, chegando a ser proibida a queima do Judas, na década de 30 do século passado, julgando tratar-se de uma profanação a exploração de um motivo religioso por motivo de troça. Mas essa censura não perdurou muito, sendo restaurada essa expressão folclórica nas décadas que se seguiram. A escritora Lucy de Assis Silva, em seu recente livro sobre a Rua da Chapada – “Subindo e Descendo a Ladeira” – descreve a Quinta do Judas que era “armada” no Cabo Verde, junto à capela de Nossa Senhora da Paz. Na paróquia de São Sebastião ainda se conserva o costume da queima do Judas, após a cerimônia da Vigília Pascal, a vitória de Cristo sobre o mal, sobre o pecado, sobre a morte. O escritor Gilberto Victorino de Souza chegou a compor, em versos satíricos, o testamento do traidor, que era lido antes de sua queima, legando seus bens às pessoas envolvidas na organização da Semana Santa naquela comunidade.
Uma crônica publicada em um jornal do início do século passado, quando ainda se fazia a queima do Judas na paróquia da Conceição, relata que o encarregado, como nos anos anteriores, arrecadou a quantia necessária junto às pessoas e ao comércio local para que pudesse confeccionar o boneco que, cheio de pólvora, seria queimado após a Vigília. Terminado o ato religioso na Matriz, os fiéis se dirigiram ao Largo do Carmo, onde o famigerado personagem da História Sagrada seria executado. No entanto, lá chegando, só viram o poste ficando ao chão, onde deveria estar pendurado o boneco. Sem entender, alguns procuraram saber o que acontecera e onde estava o responsável, foi quando ele chegou, completamente embriagado; gastara todo o dinheiro entregando-se à sedução de Baco. Quando apontou na esquina da rua do Rosário, cambaleando, subiu a rua do Carmo e chegando ao largo em frente à igreja, deparando-se com as pessoas que aguardavam pela malhação de Judas, gritou: “Se querem queimar alguém, queimem aí o Dr. Fulano (referindo-se a um político local da época, que também aguardava pelo espetáculo), que é tão traidor, além de ladrão, quanto Judas”. Todos se retiraram, calados, como que consentindo...
E isso nos leva a lembrar os versos do celebrado poeta padre Antônio Tomas, acerca da festa da malhação do Judas:

“À sombra da folhagem verde e escura
De um galho preso em mastro levantado
Um Judas pelo vento balançado
Da forca pende, em cômica compostura.

E um bando em frente a exótica figura
Olha e, ao vê-lo em semelhante estado
E o vozeio do povo acelerado
Um bimbalhar dos sinos se mistura.

Eu fico um tanto a meditar e penso
Ante o festivo e insólido alvoroço
Que é falta de critério e de bom senso.

Uma tolice arrematada, enfim,
Tantos Judas havendo em carne e osso
Levar-se à forca um Judas de Capim.”

11/04/2006

Dissenso político

Há palavras que, pela força das coisas, são quase banidas do nosso vocabulário quotidiano. Uma delas é, seguramente, aquela que se insere no título desta crônica, talvez por ter se tornado ato comum na conduta e nas atitudes das pessoas e das instituições, desde há muito tempo. Passa-se, então, a exaltar com a astúcia de quem promove uma revolução ideológica na sociedade a propagação de seu antônimo – consenso, utilizando-o para quase todos os fins e nos mais variados contextos; consensos políticos, sociais, sindicais, consenso sobre tudo e mais alguma coisa. Isso porque o que lhes interessa é o relativismo dos princípios e dos valores, encontrando espaço para tudo e para todos, num mundo livre, igualitário e fraterno.
Não há mal nenhum as pessoas chegarem a “consensos”. Porém, à força de repeti-lo, esquecemo-nos que, antes dele, existe, ou deve existir, o “dissenso”. Ou seja, antes de posicionarmo-nos de acordo, deve-se, portanto, existir a discussão, o debate, a apresentação de idéias e de pontos de vista diferentes. Sem medo de sermos mirados de soslaio, como se fôssemos criminosos, devemos expor nossa forma de pensar – desde que seja coerente, sem permitir que nos tolham a razão e anestesiem a nossa capacidade crítica.
E é o consenso político que me leva a deixar correr a pena, atônito ante a situação acomodada do bem-estar do neoburguês brasileiro, em que a casa (comprada a crédito), o carro (adquirido às prestações) e o telefone celular (também possuído de forma facilitada) leva-o à modorra do comodismo, sobre um leito sustentado pela miséria social, e ao marasmo de uma sociedade sem horizontes. Os brasileiros não podem ficar continuamente tolhidos pelos consensos nacionais, avistando oásis de desenvolvimento e progresso, enquanto uma pequena classe se mantém ébria em sua riqueza efêmera, intocável, e um outro determinado grupo brinca de governar, como crianças que se arvoram aos “cuidados” da casa na ausência da mãe.Não se pode admitir a existência de sentimentos de acomodação. Há de se renovar, sempre, as energias, haurindo-as nos mananciais dos princípios éticos da política e da socialização, alicerçados nos valores mais intocáveis que dizem respeito ao homem. Que se levantem tantos dissensos quantos sejam necessários, para que a ordem e a segurança sejam restaurados no País. Que se propaguem e se discutam tantos dissensos quantos sejam necessários, para que a tal democracia seja praticada, o quanto possível, com a arregimentação de todos os brasileiros, indistintos de classes e opiniões, desde que o intento comum seja o de construir uma federação política e diplomaticamente forte. Que se imponham, se for preciso, goela abaixo desses pseudoliberais travestidos de marxistas que andam por aí, os consensos a que se chegarem pelos dissensos, para que a sociedade brasileira seja restaurada sob os princípios cristãos (como nascera à sombra da Santa Cruz), marchando, aí sim, rumo ao progresso, seguros no processo de desenvolvimento que fará do Brasil uma grande nação.
22/04/2006

Quando pensam que o errado que é o certo...

Causou um certo choque, principalmente aos católicos, o anúncio da intenção da “National Geographic” de publicar uma tradução, em vários idiomas, do evangelho apócrifo de Judas. O manuscrito de 31 páginas, escrito em copta, encontrado em Genebra (Suíça), em 1983, traz muitas controvérsias, crendo os sensacionalistas até darem uma nova versão à História Sagrada.
Antes de tudo, deve-se ter claro que se trata de um manuscrito apócrifo, ou seja, sem autenticidade comprovada; daí, sem nenhum valor doutrinário. Ele não é uma fonte de revelação divina, quando muito, um mero registro de época, onde despontam alguns indícios de correntes ideológicas diferentes (leia-se heresias), que sempre intentaram contra a lídima doutrina cristã. De acordo com o que foi divulgado pela Santa Sé, o texto parece estar datado entre os séculos IV e V, ou seja, cerca de 300 ou 400 anos depois da vida de Jesus. É impossível, portanto, que seja Judas seu autor direto, mas que pode se tratar de uma cópia do “Evangelho de Judas”, citado por Santo Irineu de Lyon no ano 180.
Os Evangelhos Apócrifos sempre foram rejeitados pela Igreja, desde os seus primórdios, por serem controversos entre si e com a fé; mas, nem por isso ela os ocultou ou negou a sua existência. Ao contrário, esses textos foram publicados e estão editados pelo mundo inteiro, como a célebre Biblioteca de Autores Cristãos (BAC), no Reino da Espanha. Eles não são reconhecidos como inspirados por Deus porque simplesmente buscavam satisfazer a curiosidade de alguns ou continham lendas fantasiosas com respeito a Jesus, ou explicavam opiniões particulares de alguns grupos religiosos acerca de Cristo. Não buscavam a verdade mais profunda sobre Deus e sua obra salvadora.
Pelo teor do documento, supõe-se ter ele sido redigido pela seita gnóstica dos cainitas, apresentando Judas Iscariotes de uma maneira positiva, como uma personagem que só obedeceu a uma suposta ordem divina de entregar Jesus para que pudesse cumprir-se a obra de salvação. Isso vai de encontro ao pensamento gnóstico, de que Deus quer o mal no mundo e por isso se explica a ação dos homens maus, como Caim e Judas; ao contrário da doutrina cristã, de que a maldade nasce a partir do mau exercício do livre-arbítrio com o qual Deus nos criou, por respeitar sempre nossa liberdade. Ora, o Criador conhece todas as nossas intenções, inclusive os erros, pecados e decisões equivocadas. Às vezes se vale delas, sim, para obter um bem em seu plano providencial para o homem, mas nunca as promoveria, como acreditavam os cainitas. Os gnósticos pretendiam que a salvação fosse obtida só pelo conhecimento que temos de Deus, não por obra do amor e da misericórdia de Deus, que enviou seu Filho Jesus ao mundo.
Sem um claro discernimento, facilmente cede-se a essas proposições heréticas, que remontam há mais de dois milênios. É preciso, por isso, entender o papel e a pessoa de Judas Iscariotes e daí entender sua missão. Judas foi, como todos os demais seres humanos, um homem criado com o atributo do livre-arbítrio e ele usou de sua liberdade para fazer o mal. O fato do desígnio divino de que Jesus deveria morrer pela redenção da humanidade, não justifica dizer que Deus permitiu a Judas cair no mal e se obrigar a cumprir um roteiro histórico já determinado. Essa interpretação seria concordar com uma opção fatalista da qual não podia se subtrair de nenhuma maneira; senão, aliás, teria nascido com o selo de uma condenação fatal. Quanto ao que se sucedeu ao traidor de Cristo, em seguida à sua prisão, só Deus conhece. Qualquer ser humano pode arrepender-se de seus pecados e erros no último momento de sua existência terrena. O drama de Judas, mais que a gravidade de seu pecado em si, foi sua falta de esperança, o fato de fechar-se em si mesmo, em vez de reconhecer sua falta, chorar seu pecado e voltar ao amor de Deus, como o fez, por exemplo, São Pedro, após ter negado o Divino Mestre.
O fato de o anúncio de um Evangelho escrito por Judas Iscariotes despertar a curiosidade das pessoas, trata-se de uma curiosidade, por parte de alguns, e disposição para um combate anticristão, por parte de outros. Rasgos de simpatia pela figura de Judas pôde ser observada há cerca de 3 décadas, quando foi lançado o musical “Jesus Cristo Super Star”, buscando proporcionar àquela figura histórica um êxito midiático e comercial, numa perspectiva sociológica, comunicacional ou da própria psicologia humana.

Verdade histórica
Só os Evangelhos são considerados como obras inspiradas por Deus e se lhes reconhece uma autoridade especial, além de referência histórica. Os textos de São Marcos, São Mateus, São Lucas e São João são livros canônicos reconhecidos desde os inícios do cristianismo. Seu mérito consiste em sua antiguidade, na autoridade de quem os redigiu e que seus escritos baseiam-se no depoimento de testemunhas diretas de sua obra; testemunhas de seu ensinamento, seus milagres, a condenação, a morte, a sepultura e a própria ressurreição de Jesus. Quanto mais tardios forem alguns escritos, mais duvidosa se torna a autenticidade e fidelidade da transmissão desses fatos até nossos dias. O Novo Testamento em seu conjunto reflete a plena segurança nesta autenticidade e fidelidade. Já o Evangelho de Judas se apresenta sensacionalista e a suposta revelação de dados contradiz o essencial da fé em Jesus Cristo, tema de todos os tempos, não só de agora.
Hoje se fala nos supostos textos de Judas, amanhã se falará em Melécio e Ário; depois proporão a canonização de Lutero e, daqui a séculos, quiçá, de um Boff e Companheiros... Todos com o mesmo valor que tem o Evangelho de Judas: mera especulação. Seguir-se-ão outros tantos textos, em outras descobertas, fantasias ou opiniões particulares de grupos sectários. No entanto, permanecerá indelével a Palavra de Jesus Cristo, o Redentor e Salvador da humanidade, lídimo motivo de uma “profunda fascinação”, inclusive para aqueles que não crêem n’Ele, rejeitam-no ou tentam desprestigiar sua figura e sua mensagem. Jesus não deixa ninguém indiferente, pois, para nós, que temos o dom da fé, é o Único Salvador da História.
20/04/2006

segunda-feira, março 27, 2006

A História de JK

Há poucos dias, o Brasil acompanhava, pela TV, a história de uma das mais expressivas figuras políticas do país, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Contudo, a especulação sensacionalista empreendida por esse tipo de produção, mais uma vez, cuidou em relatar a história a seu modo, chegando a quase deixar de lado o protagonista.
Em sua primeira fase, emporcalhou os episódios a personagem fictícia de um coronel estroina, apresentando-o como um protótipo dos latifundiários que constituíam a elite política da República Velha. Enquanto isso, exibia-se o jovem Juscelino como um ambicioso (além do comum nessa fase da vida ao homem), compadecido pelos fracos e apolítico; três conceitos que se chocam numa época em que dependia, intrinsecamente, um dos outros. A ambição, muitas vezes, conduz o homem, por meio da política, à consagração, com o sufrágio das massas.
Os capítulos da minissérie que se seguiram, em sua segunda fase, destacaram o governo empreendedor e ousado de Juscelino à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, do Estado de Minas Gerais e, por fim, do Brasil. Todavia, insistiram em apresentar as realizações que já se conhecem, sem resgatar, minuciosamente, o amplo trabalho político e social, inclusive em questões específicas partidárias e regionais, que ilustram sua história e atestam o seu caráter como homem e como político.
Ao contrário, de forma inoportuna, a produção ocupou-se, infelizmente, em transmitir aos milhões de telespectadores, a imagem, por exemplo, de um Benedicto Valladares com um liame comportamental entre pândego e boçal; a União Democrática Nacional (UDN), provavelmente por ser oposição de JK, foi representada como puritana e farisaica, enquanto o Partido Social Democrático (PSD) otimista, por causa de uma admirável pseudounidade de esforços de seus correligionários, trabalhando pelo verdadeiro progresso da Nação. Uma elite social fútil e ociosa e um relacionamento íntimo extraconjugal complementaram a saga do Presidente Bossa Nova.
Se pensaram os produtores em realizar um trabalho que engrandecesse a história pátria, especificamente o presidente Juscelino Kubitschek, esse intento, mais uma vez, frustrou-se.
Pobres daqueles que dependem da TV para se instruir! Continuam, eles, graças ao equivocado enredo de uma minissérie a vagarem pelas trevas da ignorância, tenho conhecido em “JK” apenas o bom mocinho que travou luta contra o mal. Apenas isso, talvez por acreditarem ser suficiente ao povo brasileiro iludir-se com noveletas.Ainda bem, nas páginas da história pátria registram-se os grandes feitos empreendidos pelo diamantinense que conquistou o Brasil - a contragosto de muitos - e revolucionou a instituição política. Por fim, do mesmo como o Velho Profeta morreu sem chegar à Terra Prometida, Juscelino teve como castigo morrer longe de sua terra prometida, sem assistir à celebração da democracia plena no Brasil.
27/03/2006

quinta-feira, março 16, 2006

Intrujice econômica

Outro dia, conversando com um amigo acerca dos limites da ciência, ele vaticinou que a ciência tem mais dúvidas que a fé. Realmente, em algumas vezes isso diz respeito às origens do mundo e evolução do cosmos, noutras diz respeito ao homem, seleção única e irrepetível de milhões de hipóteses expulsas do caminho em direção à vida. E quando o homem se combina em sentimento, em bando, em tribo, em comunidade social ou religiosa, mais complexa se torna - para não dizer impossível - essa ciência rígida sobre comportamentos e previsões.
Ao procurar explicações claras para todas as crises, enreda-se na sua própria linguagem, mistura certezas com suposições, futuros com futuríveis, mesmo nas barras e nos números. Eis, pois, aí, um terreno minado pela surpresa constante dos mercados, pela mala às costas com que andam algumas empresas - como feirantes de rua - a ver onde se engana mais, se explora melhor, se compra barato e se vende mais caro; ainda dizem os pseudo-entendidos ser importante para um equilíbrio econômico. Tudo isso, segundo os tecnocratas, toma nomes empolgantes, modernos, inglesados, científicos, como se se tratasse da descoberta de uma nova fórmula mágica que explica e resolve todos os problemas, menos os dos mais pobres; isso em todos os países do mundo.
Em grandes linhas, temos a experiência do mercado que cria leis, livremente, segundo o apetite dos compradores - inclusive de dinheiro, e esse outro que, inspirado em Marx, parecia, no papel, apaziguar algumas utopias sociais, mas que teve, como se sabe, um estrondoso desfecho de falência, com estilhaços que ainda atingem a muitos. Continuam a esboçar-se mini-sistemas, alguns pedindo à economia o que ela menos gosta de dar: respeito pela pessoa, com ética a preceder a eficácia. O outro caminho é o da sacralização das regras cegas do mercado, salvando a economia e levando na frente quanto e quantos tenha de levar, com total impotência para oferecer a cada ser humano o digno pão de cada dia.
Recentemente, veio à lume o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, reunindo o pensar e o dizer do Evangelho, com incursões pela economia de vários tempos, incluindo o nosso. Marcando, com clareza, os terrenos da eficácia e as áreas sagradas da ética e do homem: “o destino universal dos bens está na base do direito universal ao uso dos bens. Trata-se dum direito natural, inscrito na natureza do homem. É inerente à pessoa, a cada pessoa, e prioritário a qualquer intervenção humana” (nº172).Por isso, observando o ensinamento do Magistério da Igreja, observa-se que a economia não pode ficar entregue a contas de merceeiros globais sem escrúpulos. Desde a ascensão do liberalismo, no século XVIII, os Papas foram veementes em condenar aquilo que poderia influenciar mal a sociedade, além de trazer-lhe graves prejuízos. Antevira o caos a que assistimos, hoje, com maior clareza, os papas Pio IX, Leão XIII, São Pio X e, mais recentemente, João Paulo II, ao condenar o neoliberalismo. Por isso, quão oportuna seria a leitura do Compêndio da Doutrina Social da Igreja e assimilada por aqueles que se encontram com o juízo e o coração enrijecidos pela ganância.
16/03/2006

terça-feira, março 07, 2006

Pai e Pastor

Ninguém poderá discordar deste epíteto que tão bem se aplica à pessoa do arcebispo de Mariana, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida: Pastor e Pai. Isso se deve, antes, à missão apostólica dos bispos e, depois, ao seu caráter determinado, a seduzir os outros com docilidade, associando-se um ao outro, quiçá, pela admonição de São Paulo a Timóteo: Non enim dedit nobis Deus spiritum timoris, sed virtutis, et dilectionis, et sobrietatis (“Deus não nos deu espírito de pusilanimidade, mas de fortaleza, de caridade e de prudência”). Eis as três virtudes que devem forjar a têmpera moral dos bispos: a fortaleza, a caridade e a prudência.
E não há como negar que nas atitudes do preclaro antístite primaz das Minas reflitam esses três pilares que constituem sua personalidade, ressaltando-se, contudo, a caridade, que se desponta em seu proceder como que um elo unindo, entre si, a fortaleza e a prudência, enquanto lh’o permite a fragilidade humana. Provavelmente, por isso, não poucas vezes, Dom Luciano seja mal compreendido, confundindo-se entre o dispor de sua autoridade e a compreensão paterna. Contudo, é inegável a compreensão cristã das dificuldades alheias e o desejo de que nenhuma ovelha de seu rebanho se perca.
Nascido em tradicional berço carioca, que remonta famílias aristocráticas nordestinas, desde cedo Dom Luciano mostrou-se determinado em seus propósitos e um deles, tão logo gozou do uso da razão, foi o de ser padre. Para isso, além da graça divina, contribuiu deveras a formação religiosa que lhes legou seus pais, proporcionando-lhe boa educação em colégios católicos, até que ingressou na venerável Companhia de Jesus. Determinara ser mais um soldado na legião aliciado por Santo Inácio de Loiola, sedento por tudo fazer para a maior glória de Deus e salvação das almas.
Durante sua formação sacerdotal, sem tardança se notaram suas capacidades intelectuais, despontando-se como primoroso filósofo, seguindo, então, para a Cidade Eterna onde prosseguiu seus estudos, ordenou-se presbítero, doutorou-se e retornou ao Brasil, já após o Concílio Vaticano II, sendo designado à formação de religiosos no escolasticado da Companhia de Jesus. Muito sensível às necessidades humanas, logo se compadeceu pela situação de muitos que se lhe apresentavam carentes de assistência espiritual e material, quando não pôde deixar de atender esse apelo que o inseriu entre aqueles que optaram pelos pobres.
A partir daí, envolveu-se com as organizações de classes, as CEBs, não se deteve ante questões políticas (quando o país vivia sob a austeridade de um governo militar) e acabou junto ao episcopado, emprestando seu brilho àquela instituição. E foi lá, na CNBB, que o Papa Paulo VI o resgatou para o múnus episcopal, em 1976, designando-o auxiliar do arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, com quem trabalhou até sua nomeação para o arcebispado de Mariana, em 1988. Enquanto isso, ocupou cargos de relevo na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e na Conferência Episcopal Latino-americana, além de membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz e do Conselho da Secretaria do Sínodo dos Bispos.
Dom Luciano, ao dedicar especial atenção aos mais frágeis, sempre encontrou dificuldades, seja por parte de instituições e até por parte dos poderes constituídos, seja em decorrência da incompreensão daqueles outros menos sensíveis. No entanto, sempre foi resoluto em seus propósitos, sem intimidar-se ante qualquer insinuação ou ameaça, confiante em São Paulo de que “Deus não nos deu espírito de pusilanimidade, mas de fortaleza, de caridade e de prudência”.Por isso, sempre seguiu adiante, assistido pela graça, sem colocar a luz em lugar das trevas, nem as trevas no lugar da luz; sem chamar o mal de bem, nem o bem de mal, conforme pediu a Deus o bispo que o sagrou há 29 anos. Por isso, sempre seguiu a diante, na constância da fé, na pureza da dileção, na sinceridade da paz. Por isso, sempre ouve, por onde quer que passe, a admiração de seu rebanho exclamar: Pastor e Pai.
30/10/2005

Contra-senso religioso

Um contra-senso religioso, resultante de um fanatismo doentio, é o diagnóstico primário que se faz das barbáries cometidas por mulçumanos em nome de Alá. Essa loucura que lhes domina acaba repercutindo em todos os seus atos, em sua convivência familiar e social e nas tratativas políticas e diplomáticas. Ao longo da história e, mais ainda, nos últimos tempos temos assistido a constantes catástrofes resultantes de atitudes desorientadas desses pobres filhos de Maomé.
Uma reportagem publicada, recentemente, na imprensa apresenta um caso específico, do comerciante Jihad Abu Dayade, 41 anos, estabelecido no centro de Gaza com uma loja de autopeças. O chefe de família orgulha-se de ser o genitor de Mohammad Jihad Abu Daya, que aos 18 anos ingressou no Hamas, com o seu apoio, para tornar-se um homem-bomba. Isso é um absurdo, o pai orgulhar-se da insanidade do filho, quiçá por tê-la dele herdado. Isso, sim, é o ópio de um povo, que Marx malfadadamente quis atribuir às religiões. Quanto ao pobre jovem, seu ataque acabou matando dois policiais palestinos que se encontravam no posto de controle de Erez, na Faixa de Gaza.
Lamentavelmente, o fanatismo na casa de Abu Daya não acabou após o fatídico episódio. Os outros quatro filhos do comerciante, sendo três rapazes e uma menina, de idades que variam entre 10 e 23 anos, estão todos orgulhosos do irmão. Ahmed Jihad Abu Daya, de 20 anos, inclusive, compartilha da mesma aspiração de Mohammad: explodir-se para alcançar o paraíso [sic]. Por isso, lares palestinos há inúmeros pais como Abu Daya e milhares de garotos como Mohammad. E o pai, fervoroso, já pôs o destino dos filhos nas mãos de Alá.
Para os cristãos ocidentais, que põem a vida como bem maior, o depoimento de Abu Daya é nauseante. Contudo, ele não está sozinho na Faixa de Gaza. Mais de 400 atentados suicidas foram patrocinados pelo Hamas contra civis e militares, matando centenas e ferindo milhares. Às famílias pobres o Hamas paga o enterro e presta todo tipo de assistência. Para os mais ricos, como Abu Daya, o Hamas se responsabiliza apenas pelo funeral com honras de mártir.Isso é o que acontece quando o homem se distancia de Deus. Os pobres filhos de Maomé se apegaram tanto a seu patriarca que não assimilaram a Bondade Divina e a máxima do amor fraterno que o Verbo Humanado nos trouxe, cuja correlação foi tema da encíclica do Santo Padre, recentemente. O amor perdoa. Ele não é apenas uma palavra proposta a algumas pessoas que sofrem, mas uma revelação de Deus Pai, atingindo, principalmente, a humanidade marcada pelo ódio, pela confrontação e pela vingança, desde os tempos bíblicos. Deus revela seu chamado a um amor que perdoa, não para aliviar, mas para resolver, como salvação de nossa violência humana por caminhos de paz e de reconciliação. Por isso, os católicos ainda insistem em buscar o diálogo religiosos, mesmo com os facinorosos mulçumanos, para que se alcance a paz na plenitude do amor de Deus.
07/03/2006

Aos católicos de Barbacena

Mais uma vez, sobre o orbe, viu-se a mais um ultraje contra uma cara devoção do povo católico: Maria Santíssima. E o que mais pesa ao coração de um filho amante é saber que a língua injuriosa que blasfemou contra a Maternidade Divina foi a de um sacerdote. Eis que, à estação do Evangelho, na Santa Missa celebrada no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, na noite de quinta-feira, dia 8 de dezembro de 2005, o pároco daquela freguesia, Padre José Antônio de Oliveira, num acinte à religiosidade sincera do bom povo barbacenense, reverberou contra a doutrina da Santa Igreja e, mais ainda, contra Deus Nosso Senhor, ao desmerecer uma das prerrogativas de Maria Santíssima, concebida sem a mancha do pecado original, imaculada; para o pobre sacerdote, a Mãe de Deus, a Rainha dos Céus, a Mãe do Rendentor, por isso co-redentora da humanidade, não passa de uma Maria de Nazaré, sem merecimento algum.
Mas, Deus louvado, o que pensa e regurgita o insano pároco da Piedade não é o que nos assegura as Sagradas Escrituras e a Tradição, preciosas fontes da Revelação Divina, aquele perene tesouro donde os Santos Padres retiram as jóias caras e mimoseiam, de tempos em tempos, os católicos com essas verdades de fé. E, entre esses dogmas se encontra o da Imaculada Concepção de Maria, proclamado pelo Beato Pio IX, a 8 de dezembro de 1854, confirmando, o Magistério da Igreja, o que as Sagradas Escrituras e a Tradição já asseguravam desde os mais remotos tempos: aquela que seria destinada a ser a Mãe do Salvador foi concebida sem o pecado original, apanágio dos filhos de Eva.
Não seria possível que a Filha predileta do eterno Pai, aquela que deveria elevar-se entre o céu e a terra como co-redentora, tivesse sido, mesmo por pouco tempo, filha da ira e do pecado. Não seria possível que a Mãe do eterno Filho, aquela que deveria dar-lhe a sua própria carne e o seu próprio sangue, para que Ele se fizesse homem, tivesse sido contaminada pelo demônio. Não seria possível que a Esposa do Espírito Santo tivesse sido escrava do inferno e manchada da culpa original. Assim, como Ester se livrara da morte por vontade de Assuero, embora fosse judia, Maria Santíssima foi criada, por vontade de Deus, como assegura São João Crisóstomo, "ex omni parte inculpata". A dignidade de Mãe de Deus exige que ela seja sempre pura, não só sempre virgem, mas nunca tocada pela sombra do mal, a começar pelo mal hereditário do pecado original.
E tal prerrogativa, singular, decorre de sua missão: Mãe de Deus, Mãe do Salvador, cuja invocação ecoa pelos séculos, repetindo-se por toda a eternidade, e ressoará para sempre pela multidão sem número de anjos e de santos, confirmando a profecia: "Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes" (Lc 1,48). O privilégio da concepção de Maria, livre de toda jaça, é o prelúdio de toda uma oblação a Deus, coroada com o "fiat" desprovido de qualquer pretensão, senão a de fazer a vontade dAquele que é o seu Senhor: "Ecce ancilla Domini" (Lc 1,38).
Regozija, por isso, a humanidade toda, pois, se pelo seu sim Maria tornou-se miraculosamente a Mãe de Deus, a Mãe do Salvador, ela tornou-se, pelo mesmo fato, Mãe de seu Corpo Místico, de todos aqueles que vivem da vida de Jesus neste mundo e na eternidade. Por isso, a Mãe de Deus não pode ter outra missão e santidade senão a de sua Maternidade Divina, porque ela realiza uma tal missão e uma tal santidade em tal plenitude. Ela está associada a seu Filho e à obra dEle mais do que os Apóstolos e os maiores santos; está associada como aquela por quem se realiza os mistérios da Encarnação redentora; está associada como a que foi capaz de dizer "sim" à vontade de Deus de se fazer homem para salvar os homens, para reinar sem fim (e pela cruz) na casa de Jacob. Evidentemente, Maria é a única criatura cuja associação ao mistério do Filho de Deus encarnado, redentor, atinge essa profundidade e intimidade. E não seria associada a tal ponto se não estivesse totalmente preservada em seu próprio corpo imaculado.
São Luís Grignom Maria de Monfort diz que "a Santíssima Virgem, sendo necessária a Deus, ela o é muito mais aos homens para chegarem ao seu fim último". O grande santo mariano explica que Deus necessitou dela, pois foi o meio do qual se serviu para vir a nós. E nós necessitamos dela para chegarmos até ele. "A missão de Maria é a de povoar o céu de santos, preencher os lugares vazios pela queda dos anjos apóstatas. Todas as almas que aspiram a perfeição, a santidade, não se santificarão, senão na medida em que dela (de Maria) receberem as graças abundantes de que precisam" (Padre Dayet). Assim, quanto mais unidos a Maria, mais dependeremos de seu socorro e tanto mais dele haveremos de receber. Maria nos é necessária.
Quanto ao motivo do feriado, questionado pelo pobre pároco da Piedade, deve-se ao fato de um costume, ou melhor, uma reverência aos costumes religiosos. Para quem não sabe, principalmente ao pobre pároco, Nossa Senhora da Conceição era padroeira do Reino de Portugal, onde, aliás, os reis eram aclamados, e não coroados, pois somente Aquela, da Vila de Viçosa, fora coroada como Rainha de Portugal. Ademais, no século XVII, quase dois séculos antes do Beato Pio IX proclamar o Dogma da Imaculada Concepção de Maria, Dom João IV, rei de Portugal, o fez. O Brasil, filho de Portugal, também conservou esta devoção, tomando-a como padroeira, no Império, cujo reconhecimento se fez pela República: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. Em Minas, a Virgem Imaculada também é a padroeira do Estado, sendo Ela a padroeira da igreja onde está instalada a Sé de Mariana.
Aqueles que pensam poder passar sem ela, como parece pensar o pobre pároco do Santuário da Piedade, estão na ilusão, pois ela é a medianeira de todas as graças: ad Jesum per Mariam. Pobre pároco da Piedade que, a soçobrar em suas misérias, não lança mãe dEssa intercessora permanente junto ao Trono do Altíssimo, que, certamente, mesmo a desconhecendo como tal, Ela, a Virgem Soberana, a Rainha do Clero, está, com certeza, continuamente sussurrando ao ouvido do Eterno Pai: “Tende misericórdia desse filho que, por muito amar a Trindade Divina, nada mais vê ao seu redor, nem esta que por ele se compadece e pede a Sua infinita misericórdia”.
Por isso, fiéis católicos de Barbacena, uni-vos numa corrente de oração, num ato de misericórdia, pela conversão do pobre pároco do Santuário da Piedade, Padre José Antônio de Oliveira.
09/12/2005