Causa-nos espanto o espírito anticlerical que muita gente tem demonstrado durante a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, desde altas autoridades até pessoas desprovidas de claro discernimento. Quando João Paulo II aqui esteve, em 1980, a realidade era outra; ele foi recebido calorosamente pelos fiéis que o acompanharam em sua peregrinação por diversos estados e à sua voz estiveram atentos. Hoje, no entanto, a realidade é outro. Embora os números apontem a maioria da população brasileira como católica, infelizmente muitos se mostram hostis ao Santo Padre e, pior ainda, à doutrina da Igreja. Nada mais triste do que ver as pessoas sem referências e quando essas se apresentam dão-lhe as costas.
Enquanto escrevo estas linhas, completam-se dois dias que o Vigário de Cristo está conosco, em nossa terra. As manifestações de apreço não têm lhe faltado, desde que se desembarcou na Terra de Santa Cruz. Enquanto isso, no entanto, não faltam aqueles que, contaminados pelo pragmatismo hodierno, doutorados pela cartilha do relativismo, criticam desde o discurso do Papa (que, é bom lembrar, nada mais é do que a voz da Igreja de sempre; ele apenas reafirma o que sempre se professou e se defendeu), até o protocolo diplomático e o cerimonial litúrgico preparado para sua visita. Enfim, é uma lídima sanha diabólica que suscita a revolta a partir de meros detalhes, para que a essência não seja percebida pelos levianos e, muito menos, tocados pela graça.
Mas, apesar de tudo, parece que o Espírito Santo vem tocando o coração enrijecido de muita gente; até a imprensa (grande responsável por alimentar a antipatia dos incautos) já reconhece, após o primeiro dia da estadia de Bento XVI no Brasil, que "as impressões enganam". E vemos que toda a dignidade do Papa é, antes, de Cristo, que O fez seu vigário na terra, numa série ininterrupta que vem do Príncipe dos Apóstolos. Tendo sido tirado dentre os homens, com todas as suas fragilidades, foi conduzido ao altar, ornado com a graça do sacerdócio e elevado à sua plenitude, a Providência o fez chefe da Igreja universal: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela". Ficaria Pedro sem sucessor legítimo, teria a Santa Igreja naufragado em meio às divisões humanas, falhara a promessa de Cristo, se não fosse a presença do Santo Padre, confirmação dessa promessa.
O múnus do Papa, além do que lhe compete como Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano e de Servo dos Servos de Deus, é, nestes dias conturbados, o de assegurar a ortodoxia da Igreja, norteando todas as soluções que devam ser buscadas para os problemas do mundo moderno. É daí que provém a esperança dos autênticos católicos ao receberem Bento XVI no Brasil, para contemplar, com amor e veneração, o guia de suas almas nos caminhos da vida eterna, ardente anelo dos que peregrinam neste Vale de Lágrimas.
Seja bem-vindo, Santo Padre!