terça-feira, março 07, 2006

Pai e Pastor

Ninguém poderá discordar deste epíteto que tão bem se aplica à pessoa do arcebispo de Mariana, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida: Pastor e Pai. Isso se deve, antes, à missão apostólica dos bispos e, depois, ao seu caráter determinado, a seduzir os outros com docilidade, associando-se um ao outro, quiçá, pela admonição de São Paulo a Timóteo: Non enim dedit nobis Deus spiritum timoris, sed virtutis, et dilectionis, et sobrietatis (“Deus não nos deu espírito de pusilanimidade, mas de fortaleza, de caridade e de prudência”). Eis as três virtudes que devem forjar a têmpera moral dos bispos: a fortaleza, a caridade e a prudência.
E não há como negar que nas atitudes do preclaro antístite primaz das Minas reflitam esses três pilares que constituem sua personalidade, ressaltando-se, contudo, a caridade, que se desponta em seu proceder como que um elo unindo, entre si, a fortaleza e a prudência, enquanto lh’o permite a fragilidade humana. Provavelmente, por isso, não poucas vezes, Dom Luciano seja mal compreendido, confundindo-se entre o dispor de sua autoridade e a compreensão paterna. Contudo, é inegável a compreensão cristã das dificuldades alheias e o desejo de que nenhuma ovelha de seu rebanho se perca.
Nascido em tradicional berço carioca, que remonta famílias aristocráticas nordestinas, desde cedo Dom Luciano mostrou-se determinado em seus propósitos e um deles, tão logo gozou do uso da razão, foi o de ser padre. Para isso, além da graça divina, contribuiu deveras a formação religiosa que lhes legou seus pais, proporcionando-lhe boa educação em colégios católicos, até que ingressou na venerável Companhia de Jesus. Determinara ser mais um soldado na legião aliciado por Santo Inácio de Loiola, sedento por tudo fazer para a maior glória de Deus e salvação das almas.
Durante sua formação sacerdotal, sem tardança se notaram suas capacidades intelectuais, despontando-se como primoroso filósofo, seguindo, então, para a Cidade Eterna onde prosseguiu seus estudos, ordenou-se presbítero, doutorou-se e retornou ao Brasil, já após o Concílio Vaticano II, sendo designado à formação de religiosos no escolasticado da Companhia de Jesus. Muito sensível às necessidades humanas, logo se compadeceu pela situação de muitos que se lhe apresentavam carentes de assistência espiritual e material, quando não pôde deixar de atender esse apelo que o inseriu entre aqueles que optaram pelos pobres.
A partir daí, envolveu-se com as organizações de classes, as CEBs, não se deteve ante questões políticas (quando o país vivia sob a austeridade de um governo militar) e acabou junto ao episcopado, emprestando seu brilho àquela instituição. E foi lá, na CNBB, que o Papa Paulo VI o resgatou para o múnus episcopal, em 1976, designando-o auxiliar do arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, com quem trabalhou até sua nomeação para o arcebispado de Mariana, em 1988. Enquanto isso, ocupou cargos de relevo na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e na Conferência Episcopal Latino-americana, além de membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz e do Conselho da Secretaria do Sínodo dos Bispos.
Dom Luciano, ao dedicar especial atenção aos mais frágeis, sempre encontrou dificuldades, seja por parte de instituições e até por parte dos poderes constituídos, seja em decorrência da incompreensão daqueles outros menos sensíveis. No entanto, sempre foi resoluto em seus propósitos, sem intimidar-se ante qualquer insinuação ou ameaça, confiante em São Paulo de que “Deus não nos deu espírito de pusilanimidade, mas de fortaleza, de caridade e de prudência”.Por isso, sempre seguiu adiante, assistido pela graça, sem colocar a luz em lugar das trevas, nem as trevas no lugar da luz; sem chamar o mal de bem, nem o bem de mal, conforme pediu a Deus o bispo que o sagrou há 29 anos. Por isso, sempre seguiu a diante, na constância da fé, na pureza da dileção, na sinceridade da paz. Por isso, sempre ouve, por onde quer que passe, a admiração de seu rebanho exclamar: Pastor e Pai.
30/10/2005