sexta-feira, outubro 31, 2008

Referências no mundo

A história, mestra da vida, sempre destacou as personagens que protagonizam seus episódios. Uma galeria de vultos célebres, que se notabilizaram e se cristalizaram nas crônicas, seja pelo bom feito à humanidade, seja pela forma negativa como perpetuaram sua lembrança, indica à posteridade os rumos a seguir. Em todas as nações, em todas as instituições, na família, na sociedade, há sempre aqueles lembrados como referência, bússola para a humanidade. Pelas páginas historiográficas, esses nomes pompeiam os relatos, instigando a tantos que buscam compreender a atualidade no processo de formação da humanidade, desde a criação, tirar mor proveito do exemplo que esses briosos construtores nos legaram.
Essas referências, no entanto, escasseiam-se cada vez mais nos dias em que vivemos; entenda-se, contudo, enquanto referências edificantes. Ao contrário, a pusilanimidade que eleva os tiranos em montes de soberba e de crueldade, sujeitos a um desabamento iminente, essa, antagonicamente, se fortalece. De repente, os registros do presente discorrem mais uma análise crítica dos fatos, do que o relato, menos parcial possível, para o futuro. A voz dos bons já não se ouve bem. O bombardeio de escândalos, de injustiças e de alvoroço fugaz dos ímpios que se põem à frente (isso mesmo, eles se postam, não são conduzidos pelos seus feitos) não nos permite ouvir os justos.
Os museus vão se tornando cada vez mais um local das mais remotas lembranças, um acervo da primitiva antropologia social. Nas praças, monumentos seculares a ponteiam, sem emparelhar-lhes os que se deveriam erigir em reconhecimento aos célebres do nosso tempo. E os ignóbeis que se atrevem a elevar sua própria herma, a indiferença dos justos cuida em derrubá-los, desaparecendo sob a poeira do tempo. Mais dez lustros, nem uma réstia de sua presença se refletirá mais na história. Muitos que se sublevaram e edificaram sua imagem, impondo-a à vista de todas, subjugando a sensatez, ruíram-se da forma mais banal na vala comum dos esquecidos. Debalde tentaram perpetuar-se mesmo gravando seus nomes a golpes de cinzel no mármore da história; ele se calcificou.
A juventude, principalmente, não tem referência. Talvez cultue seus ídolos momentâneos - um desportista, ou cantor, até mesmo um artista de TV. Mas aquele ícone, cujas qualidades, virtudes, tentará refleti-las em sua conduta, em seu pensamento, ah, esse é sempre mais escasso. Daí a responsabilidade dos pais, dos educadores, em tentar apontar-lhes os verdadeiros exemplos a serem seguidos, os lídimos construtores de nosso tempo. Só assim, será possível resgatar os valores que fortalecerão o ânimo da geração presente, distinguindo-a, quem sabe, com o epíteto de “a restauradora”, num mundo marcado pela indiferença, pelo laicismo, pelo relativismo.