sexta-feira, novembro 07, 2008

Cultura da pornografia

Na última semana, durante o lançamento de um filme no Rio de Janeiro, o produtor da película, o conhecido ator Pedro Cardoso, acusou acremente “alguns diretores brasileiros de promoverem a pornografia na televisão e no cinema, obrigando a classe artística a participar de tais cenas”. O tema que vem sendo discutido há muito, penso que desde o apogeu dos teatros de revista, torna-se mais agressivo a cada dia, conquistando o cinema e a televisão. O que no início era apenas nudez parcial, chegou às insinuações lascivas, quando não desvarios eróticos. “A pornografia tornou-se agora um modo de atrair o público. (...) A minha tese é de que a nudez impede a comédia e mesmo o próprio ato de representar. Quando estou nu, sou sempre eu a estar nu, nunca o personagem. Ao despir-se do figurino, o ator despe-se também do personagem”, afirmou o ator.
O discurso não é moralista. A indiferença com que os legisladores tratam do caso é arrepiante. O Estado permite a corrupção dos valores na sociedade. Pior ainda, a naturalidade com que os pais de família compartilham com os filhos (quantos deles menores!) das sessões de televisão, em suas casas, sem orientá-los sobre esse desordenamento dos sentidos. Os pais, ora por não tratarem em família de um tema corriqueiro em toda roda de conversas, ora por não verem problema algum em os filhos crescerem convivendo com essas situações e figuras que, certamente, serão responsáveis pelo desequilíbrio afetivo e a incontinência emocional, são responsáveis por essa situação.
A cada dia mais se dissemina a cultura da pornografia, em detrimento da dignidade humana e da santificação. É o flagelo que açoita a todos, subjugando-os ao domínio da sensualidade, que, aliás, rege todas as convenções das relações humanas, a partir do culto ao corpo, o rigoroso cuidado com a beleza e a obediências aos ditames das frivolidades da moda, a patrocinar a imodéstia dos trajes. Daí resultam a falta de respeito entre pais e filhos, a infidelidade dos cônjuges, a ruína dos casamentos, a violência contra mulheres, a perversão sexual vitimando crianças e indefesos, enfim, destruindo a capacidade de ver no próximo o reflexo da beleza ímpar da criação de Deus. É a restauração de uma cultura pagã e a conquista de novos sequazes em todos os meios da sociedade, indistintamente.
Embora de concepção filosófica e religiosa peculiar, o escritor Miguel Torga, em seu livro “A Criação do Mundo” descreve, em “O Sexto Dia”, uma situação que se verifica facilmente hoje, em decorrência da cultura da pornografia: “De geração para geração a moral ia mudando. Maneiras condenadas num dia, no dia seguinte entravam na rotina. Atos ainda ontem praticados em transgressão eram-no hoje em permissividade. E curioso é que não se notava qualquer alegria no rosto dos beneficiados. Pelo contrário. Cada vez pareciam mais tristes. Libertos de mil peias, com todos os caminhos do prazer abertos, no fundo viviam murchos, como que desempregados da vida. Dispensados do esforço de lutar, de empreender, de imaginar, e da obrigação de assumir qualquer responsabilidade, vegetavam abulicamente no quotidiano”.
Esse é o quadro que está sendo pintado pela falta de disciplina, pela imodéstia, pela corrupção dos valores, pela omissão dos pais e pela indiferença dos governantes. São as conseqüências de um estado laico, cuja benesse, velada por uma falsa concepção de liberdade, nada mais é do que um salvo-conduto para a perdição.