quarta-feira, outubro 15, 2008

Preciosidade colonial em São Gonçalo do Brandão

Uma das preciosidades da arquitetura e arte coloniais que ainda resta em Conselheiro Lafaiete é a capela da localidade de São Gonçalo do Brandão, na zona rural do município. Após a demolição de sua nave, na década de 50 do século XX, restou apenas a capela-mor e a sacristia, recentemente restauradas por iniciativa da própria comunidade, que conseguiu o patrocínio do Banco do Brasil. No distrito de São Gonçalo, os moradores identificaram a importância daquela que é uma das mais antigas capelas da freguesia de Carijós e buscaram recursos para recuperá-la e conservá-la.
O povoado de São Gonçalo do Brandão tem suas origens no início do século XVIII, provavelmente quando os portugueses Manuel Pereira de Azevedo (Brandão) e Bernardo Martins Pereira aqui chegaram, por volta de 1720, e se fixaram naquelas terras, onde fundaram suas fazendas. A antiga capela de São Gonçalo, atualmente, é o único monumento histórico existente naquele povoado.
No século XVIII, iniciou-se a formação do povoado em torno da fazenda, devido ao acréscimo da família do proprietário daquelas terras e outras pessoas que foram se mundando para aquela localidade. A antiga capela, com belíssimo altar, serviu, por longos anos, para os exercícios religiosos dos moradores daquela povoação. Pouca cousa encontramos sobre aquele templo, porém só o retábulo do altar é um documento de valor imensurável.
No livro de registro de batizados, casamentos e óbitos da freguesia de Carijós, de 1728 a 1743, nele aparecem, no início da década de 1730, registros de sacramentos administrados naquela capela. A capela de São Gonçalo esteve como filial de Nossa Senhora da Conceição até 1911, quando a igreja de São Sebastião, do então bairro de Lafayette, tornou-se curato, começando a desmembrar-se da Matriz da Conceição. Há uns poucos anos quando criou-se a paróquia de Nossa Senhora da Luz, a capela de São Gonçalo passou a ser uma de suas filiais.
Durante o paroquiato do Monsenhor Antônio José Ferreira, quando São Gonçalo ainda pertencia à paróquia de São Sebastião, foi construída uma nova igreja, sem demolir o templo antigo. Atualmente, aquela comunidade está aplicada à paróquia de Nossa Senhora da Luz, do bairro Areal.
A capela está localizada dentro do cemitério, nos fundos da nova igreja, mais ampla, capaz de comportar o número de fiéis, construída na década de 50. Após a demolição da nave do templo, a porta foi adaptada ao arco-do-cruzeiro, no qual é possível observar a pintura marmorizada em seu interior, recuperada recentemente. O altar é todo confeccionado em madeira, com camarim e dois nichos laterais. O retábulo, parte mais alta do altar, é simples, mas sugere que os ornamentos eram mais trabalhados na pintura, que se deteriorou nos anos em que a capela esteve abandonada, chegando quase a cair. Há uma semelhança com o altar-mor da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Passagem, o que, além do estilo rococó, leva a crer que possivelmente sejam obras de um mesmo artista. Na sacristia existe um lavabo completamente inacabado, encimado pela data “A. 1807”.
Há poucos anos, a comunidade se reuniu, junto com o padre João Batista Barbosa, que na época era responsável pela igreja, e buscou recursos para a obra. O trabalho foi executado pelo Grupo Oficina de Restauro, de Belo Horizonte, tendo à frente a restauradora Maria Regina Reis Ramos. A restauração, orçada em R$ 60 mil, foi patrocinada pelo Banco do Brasil S/A.
Naquela localidade, entre os séculos XVIII e XIX, teve um artífice, Manoel Pereira Brandão (o neto), que em 1790 foi contratado pela Irmandade do Santíssimo, da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, para que pusesse abaixo a taipa do frontispício velho e que se cobrisse e se forrasse o acrescentamento para as torres e se mudasse o coro e que se pusessem as portas nas ditas torres e que se continuasse a escada de madeira para a torre e se pusesse os sinos em cima, que se mudasse a Pia e lhe pusesse porta com fechadura e se tapassem as sineiras da torre em que está a Pia Batismal, em razão do prejuízo que faria a água que por elas entrava; que se mudasse as grades para baixo e se fizesse o lavatório para a sacristia da Fábrica. Esse mesmo artista, em 1825, foi contratado para outras obras na Matriz, como a construção de duas sacristias, novos púlpitos, ladrilhar as sacristias de tijolo, entre outras outras. Talvez ele tenha trabalhado na capela de São Gonçalo, edificada por seu avô, Manoel Pereira de Azevedo, tronco da família Pereira Brandão em Carijós.


Os fundadores da igreja
A família Pereira Brandão foi uma das primeiras que se estabeleceram em Carijós, nos primórdios do século XVIII. Manoel Pereira de Azevedo veio para o Brasil já com sua família constituída. Aliás, por muito tempo, creu-se que seu nome era Manoel Pereira Brandão. A pesquisadora Maria Efigênia da Paixão foi quem encontrou seu registro de casamento e batizado dos filhos em vasta pesquisa realizada sobre esse clã.
O filho de Manoel, por nome Theodózio Pereira Brandão, em 1756, obteve sesmaria (um pedaço de terra concedido pelo governo, na época da colônia, para que fosse cultivado) junto à capela de São Gonçalo. A concessão aparece nos livros paroquiais desde 1730. Nessa época, na capela já se celebravam a Santa Missa e administravam-se sacramentos.
Manoel Pereira de Azevedo era natural da freguesia de São Miguel do Urró, Vila de Arouca, bispado de Lamego, filho de Lucas Pereira e de Maria Brandoa. A genealogista Maria Efigênia da Paixão localizou sua ascendência, tendo ele se casado em Aveiro, a 7 de maio de 1704, com Jerônima do Pinho, filha de Estevão João e de Antônia Tavares. Jerônima do Pinho foi batizada em São Miguel do Urro, a 10 de dezembro de 1680. Na visita canônica feita, em 1733, pelo Comissário da Santa Cruzada, vigário colado de Catas Altas do Mato Dentro e Visitador Ordinário da comarca do Rio das Mortes, Dr. Domingos Luiz da Silva, o tronco dos Brandão figura na devassa como “Manoel Pereira Brandão, de São Miguel de Orror [sic], casado, 56 anos, morador em São Gonçalo”.

Retábulo e altar da primitiva capela