A cada noticiário de TV ou de rádio, a cada edição de jornal, a cada atualização dos sites de notícia na internete, constata-se ser mais fácil semear o terror que a esperança. E tal a eficiência com que as empresas de notícia o fazem que corremos o risco de chegar à conclusão ser mais sedutor o caos que a harmonia. A dualidade do homem, a aparente cegueira da natureza, a explosão primária de instintos destruidores, a lentidão que se denota no avanço do que é bom e belo, conduz a muitas leituras desencantadas do mundo, da história e do homem, tido muitas vezes como um dependente incurável do instinto.
Para isso, não urge vaguear pelos planetas da abstração. Suficiente é ler os jornais, ver e ouvir os noticiários, quando, não raro, se desprende a náusea da onda opaca e sufocante de um mundo que insiste em não encontrar o rumo. Aos solavancos, a ciência e a técnica vão revelando e reabrindo sulcos. Mas o homem, o ser humano, parece marcar passo num lamaçal de violências, injustiças e desordens, ao peso esmagador de um pecado original de que não consegue se libertar.
Talvez não seja tanto assim. O que vemos, ouvimos e lemos se apresenta num determinado cenário um espetáculo narrativo de atração, porém com um quê de babel ou, mais próximo à nossa realidade, uma feira onde cada qual grita mais alto pelo seu produto. Daí facilmente nos perdemos na medição do que é real e do que é fictício, na construção que fazemos de nós mesmos e do mundo. Somos, a um tempo, autores, atores, encenadores e espectadores desse complexo concerto em que nunca estamos de fora. Em alternâncias de ordem e desordem.
Por isso, facilmente olhamos em volta e vemos em primeiro plano túmulos e lágrimas, como se o mundo começasse e terminasse nesse tom menor que tantas vezes desmobiliza a ação e desfoca o olhar sobre o hoje e o futuro. Tudo nos leva a essa contemplação lúgubre da miséria ou da vista sem fim, como no horizonte que as vagas atlânticas pode nos descortinar: o nada, o vazio, o sem-fim. E não buscamos o alento, não observamos atentos à nossa volta o que a natureza, o que Deus nos reserva.
Noé, quando temia perder-se no abandono, a frágil ave lhe trouxe um ramo de oliveira. E, mais próximo à nossa realidade, o profeta Jeremias, assistindo aos mais trágicos dias da história de sua pátria, numa espécie de fim do mundo que se vislumbrava em Jerusalém, conseguiu distinguir vida em meio à destruição: "Vejo um ramo de amendoeira". A pureza de seu coração e a confiança no Deus a quem devotava todo o seu coração fizeram-no contemplar o bem, o belo, o bom. "Viste bem, Jeremias! Viste bem", é o que lhe responde o Criador. Que saibamos, também, cultivar em nós um olhar de esperança, radicado na fé, vindo do fundo dos tempos. É só isso o que nos resta fazer num mundo em que muitos aspectos parece agonizante. Que tenhamos a limpidez e a inocência do olhar de uma criança.