quinta-feira, janeiro 03, 2008

Erva daninha

Tem sido crescente o surgimento de novas agremiações religiosas evangélicas no Brasil, especificamente. A cada dia, uma portinha se abre, encimada por uma placa cujos indicando mais um "templo" de oração e de pregação. Alguns se sucedem bem, outros, aparentemente, não tanto. A maioria se escora nos mesmos subterfúgios em que se amparou Lutero; a Igreja Católica continua a ser o alvo da sanhas desses neo-protestantes, que buscam ridicularizar a instituição divina que, mesmo composta por homens susceptíveis à fragilidade de sua natureza, mantém-se de pé ao longo de dois mil anos, cumprindo-se, assim, a promessa do Divino Redentor de que "as portas do inferno não prevalecerão contra ela".
O fundador de uma dessas agremiações, em recente entrevista a um jornal da Paulicéia, defendeu a legalização do aborto. Isso demonstra o quanto ele se ocupa em se opor à posição da Igreja Católica. Interessante que, sobre esse tema, já se manifestaram filósofos, materialistas, sociólogos, feministas, cientistas, entre outros, em defesa do aborto, mas exegetas, teólogos, líderes religiosos, são contundentes na posição de respeito à vida, desde o instante da concepção. Mais escândalo causa a má interpretação bíblica desse chefe de uma determinada agremiação, usando dos Livros Sagrados para cometer tamanho desvario.
O equívoco do insano "pastor" parte de uma má interpretação hermenêutica, o que era de se esperar de uma pessoa que se dedicou à pregação apenas com interesses comerciais. Ele lança mão de um versículo do Eclesiastes que diz: "Um homem, embora crie cem filhos, viva numerosos anos e numerosos dias nesses anos, se não pôde fartar-se de felicidade e não tiver tido sepultura, eu digo que um aborto lhe é preferível (cap. 6 vers. 3). E valendo-se da Sola Scriptura, princípio luterano, exime suas seguidores de toda culpa em caso de opção pelo aborto. No entanto, se ele tivesse alguma, mínima que fosse, formação exegética, encontraria, não no texto vernáculo, mas nos que mais se aproximam dos originais, a palavra que foi traduzida por "aborto". O sentido original é: aquele que não chegou a nascer. Em suma, o sentido que o escritor sagrado dá em suas palavras é o de que, uma vida sem Deus é vazia de sentido, a ponto de ser tão inútil quanto a própria inexistência", ou seja, "melhor seria se não tivesse nascido".
Lamenta-se, profundamente, que um apedeuta, como o é o tal chefe de agremiação, seja reconhecido como o "maior evangelizador do século". Mais deplorável ainda é a liberdade de que goza para difundir com, utilizando-se de todos os meios de comunicação que possui, a leviandade, a malícia e a insensatez a uma legião de pobres fiéis honestos. Esses infelizes, a maioria carente de algo que lhe suavize a aspereza da vida e os incômodos de sua consciência, porém de forma oportuna, no entanto, dão muito mais ouvidos ao fundador da agremiação religiosa a que pertencem do que à voz do bom-senso. Para esse tirano que abusa da tíbia fé do povo que o segue só lhe cabe a advertência bíblica: "Bonum erat ei, si natus non fuisset" (MT 26,24).