Um mal expande-se por todo o mundo em nossos dias, como se verifica pelas pesquisas que apontam o alto e ainda crescente número de usuários de medicamentos antidepressivos. Até crianças, vítimas inocentes, muitas já se sentem afligidas por esse mal. E a partir daí culpa-se a forma e o ritmo da vida que se leva, agitada, sem tempo para nada, nem para ninguém, levando-se em grande conta o tão falado estresse, levando a uma perda do sentido da vida, desvanecendo-se sonhos e projetos, soçobrando no oceano de problemas que vão se criando ou deles tornando-se vítima. E o vazio que vai se expandindo no íntimo destrói os horizontes pessoais, os familiares e até os comunitários, cortando as asas ao pensamento, a vontade, a beleza, o afeto, secando a fonte interior que alimenta a vida.
Outro fator que contribui para essa desolação é a alteração dos valores morais sem objetividade. As referências que norteavam a existência foram-se pondo de parte, afirmando-se direitos subjetivos que não respeitam relações e compromissos assumidos. A dimensão religiosa também foi relegada para segundo plano, quando não dispensada, porque sentem Deus como um incômodo, pois não admitem demarcações em sua liberdade. A perenidade dos laços que alicerçam as vidas cedeu ao efêmero e ao inconsistente da satisfação pessoal. Enfim, uma sociedade que vai perdendo o rumo, perdendo-se na inevitável depressão.
Sabe-se que a propensão a essa enfermidade correlaciona-se à satisfação e à frustração dos desejos. Há, por exemplo, apelos interiores a que o consumismo nunca responderá. No estado de depressão revelam-se, assim, a seu tempo, as fragilidades humanas, psicológicas e espirituais que se respiram hoje na sociedade. O cortejo dos deprimidos aumenta e as soluções mais fáceis não passam de paliativos. Ora, a fonte de energia vital está dentro da pessoa, não está fora. Há que procurá-la ou reencontrá-la aí. O que vem de fora pode condicionar, não determinar comportamentos. Sem ânimo suficiente para seguir adiante, acomoda-se ao mal, principalmente os fleumáticos, ou entrega-se à farmacodependência, ou rende-se à sedução de pitonisas, ou ao fanatismo religioso. Mas nunca se encontrará, por aí, seguras sendas por onde poderá se desenvolver a personalidade, cultivar a força interior, revigorando sua existência pessoal, com maturidade necessária.
Cada um leva dentro de si a ânsia e a possibilidade do bem e da verdade. No entanto, elas tanto podem ser destruídas, como alimentarem e fortalecerem; porém a opção é livre e pessoal. É mister, contudo, que a humildade esteja sempre no projeto de uma vida sadia, destacando-se com a prudência nos momentos de confronto. A depressão não é um fatalismo. O homem é quem permite as influências que a provocam.