quinta-feira, janeiro 03, 2008

Analisando friamente

Desde a semana passada, Conselheiro Lafaiete vive dias apreensivos; ou melhor, o governo municipal vive dias apreensivos. O motivo é a instalação de uma Comissão Processante na Câmara Municipal, para julgar a defesa do prefeito ante a denúncia apresentada por um cidadão, após a longa e, para a população, ainda inexplicável conclusão dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Interessante essa amostra de globalização até das percepções: o povo brasileiro está tão acostumado com CPIs, que não se interessa em acompanhá-la ou, sequer, saber do que se trata. Em Lafaiete não foi diferente.
Só que o desinteresse das pessoas e o apelo à sua sensibilidade emocional não valerão neste momento, muito menos nenhuma chantagem política. E inculca-nos a preocupação do prefeito e de seu entourage em querer se explicar à população indiferente, sendo que - creio - seria muito mais simples, transparente e até democrático provar sua lisura à Comissão Processante da Câmara. Alguns "mestres-salas" do chefe do executivo têm se mostrado ridiculamente desorientados com a possível cassação do prefeito. Mas por que, se ele é inocente? Reuniões de grupos específicos, correios eletrônicos, cartazes, faixas, passeatas, para que tanto tumulto se as denúncias, conforme eles sustentam, são improcedentes?
Ora, realmente, o grupo que sempre apregoou a honradez, a liberdade e a democracia está se contradizendo, ao desonrar a competência do Legislativo Municipal, que, torna-se oportuno lembrar, neste caso é apenas um instrumento para que se execute o que o Estado Democrático garante a um cidadão. No entanto, tornou-se ocasião propícia para os governistas se declararem hostis àqueles que lhes são desafetos na Câmara.
A liberdade também, com isso, é ferida. Quem diria: a liberdade! Mas todo sistema que tende ao absolutismo a trata como uma fera, mantendo-a ao seu controle. E tanto corromperam o sentido de liberdade que macularam o princípio democrático que diziam defender ardentemente. Em suma, a honra desse grupo é relativa ao quanto lhe convém, assim como a liberdade é a simples tradução de sua medíocre vontade, única norma de suas ações. E a democracia? Ah, essa se a pratica por meio da "ditadura das aparências", ou seja, o que vale não é o fato em si, mas o que se revela dos fatos, o que é dito, escrito e mostrado, sob o controle deles, assumindo uma maior e decisiva relevância em relação à realidade.
Que toda essa celeuma em torno das denúncias seja apenas uma incontrolável reação dos pares do prefeito, decorrente da afinidade que lhe têm. Porém, caso contrário, se forem confirmadas as irregularidades, esses inflamados correligionários poderão estar denotando conivência com o erro.