sexta-feira, janeiro 25, 2008

Os verdadeiros amigos

“Não é amigo quem busca a utilidade, nem quem se recusa a associar a amizade à ajuda, porque um procura o tráfico da recompensa e o outro destrói o laço de confiança”. Esta sentença de Epicuro, cognominado filósofo da amizade, é oportuna para refletir nestes dias, em que na política local nos detemos com a realidade das amizades ante o interesse pessoal. Parecia a todos, creio, que existia uma amizade entre as pessoas que compõem o governo municipal. Com o tempo, desde que se iniciou o mandato, alguns foram se afastando, o que reforçava mais ainda essa crença. Ora, se se afastaram é porque não correspondem a contento ao programa traçado para a administração pública, ou não comungam das mesmas idéias, ou ainda tinham outros interesses, demonstrando aí nenhum comprometimento com o que propunham.

Quando o ex-procurador municipal se atira em busca de uma vaga na Câmara de Vereadores, num momento em que o município assiste a uma das mais medonhas crises, que é a ameaça de cassação do prefeito (para quem trabalhava, diga-se de passagem, e de quem parecia ser amigo), ele bem se enquadra nas palavras do filósofo ateniense: “Não é amigo quem busca a utilidade, nem quem se recusa a associar a amizade à ajuda”. O ex-procurador municipal buscou seu interesse apenas e recusou ajuda ao “amigo” que dela necessitava; ademais era sua obrigação atuar como tal, pois era sua função.

Mais uma vez, nota-se a desordem entre eles e a vítima deste momento não pode, ainda, experimentar a afirmação de Aristóteles, que “na pobreza, como no infortúnio, os homens encontram o seu único refúgio nos amigos”. Ela viu mais um se afastar e pôde atestar a sinceridade de muitos que ainda a rodeiam e até de alguns outros que, mesmo distantes ideologicamente, ainda lhe voltam um olhar solidário, atestando que a amizade é muito mais do que estar próximo, na pobreza e no infortúnio; é experimentar uma afeição mútua, uma dedicação e lealdade que avançam as raias do altruísmo, muito além da mera cooperação, a ponto de colocar os interesses do outro sobre os seus. “É a aceitação de cada um como realmente ele é”, afirma Carl Rogers. Aí vemos que talvez o prefeito tenha sido realmente amigo do ex-procurador, pois o aceitou como ele sempre foi, a ponto de dar-lhe asas para voar em busca dessa quimera, que é um assento entre os vereadores, que ele tanto criticou (é bom lembrar), talvez por muito ambicioná-los.

Neste momento, não são os subterfúgios do ex-procurador, muito menos a capacidade de compreensão do prefeito, que se levam em contam, mas a pusilanimidade e a ingratidão que revestem os atos daquele e que correm o risco de passar à história como uma marca de sua personalidade e um dos momentos do atual governo municipal. E aí constatamos o que ouvimos, certa vez, de um pregador: “os amigos são como tábuas de salvação que nos fogem da mão na hora do naufrágio”.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

O perigo na comunicação

Quando a verdade, a mentira, a defesa, o ataque, o sim, o não e o talvez passam a compor correntemente o vocabulário daqueles de quem se pede um pronunciamento, parecem ganhar uma autonomia semântica e se podem jogar no tabuleiro das marcações indefinidas, sem preto e branco, sem ângulos definidos ou quadrados perfeitos. São, na verdade, os esquivos de meias verdades, do conveniente, ou, como se diz, do hodiernamente correto, tornando-se temas centrais nas discussões políticas, nas rodas amistosas, na cobertura da mídia.
Não fazemos um jogo de palavras, nem reduzimos as questões importantes à aplicação de estratégias em ordem à conquista ou manutenção do poder, ou às manobras de oposição aos governos legitimamente instituídos pelo povo. Esta sutileza é como uma areia fina, quase líquida, que se infiltra em tudo, influenciando todas as áreas, como a saúde, educação, esporte, artes e até religião, com vistas a assegurar uma "posição" ideológica. Só não se consegue, com isso, a transparência de seus atos e a sinceridade íntima do coração.
Nessa confusão de pensamento, presa fácil para incutir essa desordem, sempre foi o leitor. Daí a necessidade de ele, sempre que tomar uma notícia, um artigo, livros, discursos, aplicar necessária dose do bom senso e cuidar-se para não se influenciar pelo "sedutor" canto de sereia de alguns pseudos formadores de opinião, que se arvoram a patronos do bem comum. Com a facilidade de publicações, em nossos dias, muita cousa tem vindo à lume, antagonicamente, em plenas trevas do discernimento, quando não alterados pelos interesses de alguns "mecenas" sequiosos em meter um cabresto intelectual nas pobres vítimas dos dominadores de idéias, quiçá apedeutas afetados, frustradamente náufragos no oceano da imbecilidade.
Só que neste mundo de avanços, já não bastam dominar apenas os que se ocupam das letras. Os sinais ameaçam mais. A TV, a internet, o telefone, enfim, as formas que possibilitam imediatas trocas de informação e meios de se efetuar a comunicação, principalmente a silente comunicação visual, faz com que o receptor ignore o essencial do que se vê e do que se pensa; os filtros e as lentes matizadas de um pensamento ambíguo tudo alteraram. E a verdade continua a viver na clandestinidade. Será mesmo verdade que as palavras são os meios menos eficazes para se comunicar? As evidências são as tintas mais comuns para iludir a realidade? Por isso, importa sempre indagar-se: o que estará escondido por trás desta mensagem tão clara? Certamente, a desordem social e moral a que assistimos, num constante dizer e desdizer do sim e do seu contrário, se entenda melhor no enquadramento das palavras transformadas em artificiais escudos de proteção e setas de arremesso.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

O mal hodierno

Um mal expande-se por todo o mundo em nossos dias, como se verifica pelas pesquisas que apontam o alto e ainda crescente número de usuários de medicamentos antidepressivos. Até crianças, vítimas inocentes, muitas já se sentem afligidas por esse mal. E a partir daí culpa-se a forma e o ritmo da vida que se leva, agitada, sem tempo para nada, nem para ninguém, levando-se em grande conta o tão falado estresse, levando a uma perda do sentido da vida, desvanecendo-se sonhos e projetos, soçobrando no oceano de problemas que vão se criando ou deles tornando-se vítima. E o vazio que vai se expandindo no íntimo destrói os horizontes pessoais, os familiares e até os comunitários, cortando as asas ao pensamento, a vontade, a beleza, o afeto, secando a fonte interior que alimenta a vida.
Outro fator que contribui para essa desolação é a alteração dos valores morais sem objetividade. As referências que norteavam a existência foram-se pondo de parte, afirmando-se direitos subjetivos que não respeitam relações e compromissos assumidos. A dimensão religiosa também foi relegada para segundo plano, quando não dispensada, porque sentem Deus como um incômodo, pois não admitem demarcações em sua liberdade. A perenidade dos laços que alicerçam as vidas cedeu ao efêmero e ao inconsistente da satisfação pessoal. Enfim, uma sociedade que vai perdendo o rumo, perdendo-se na inevitável depressão.
Sabe-se que a propensão a essa enfermidade correlaciona-se à satisfação e à frustração dos desejos. Há, por exemplo, apelos interiores a que o consumismo nunca responderá. No estado de depressão revelam-se, assim, a seu tempo, as fragilidades humanas, psicológicas e espirituais que se respiram hoje na sociedade. O cortejo dos deprimidos aumenta e as soluções mais fáceis não passam de paliativos. Ora, a fonte de energia vital está dentro da pessoa, não está fora. Há que procurá-la ou reencontrá-la aí. O que vem de fora pode condicionar, não determinar comportamentos. Sem ânimo suficiente para seguir adiante, acomoda-se ao mal, principalmente os fleumáticos, ou entrega-se à farmacodependência, ou rende-se à sedução de pitonisas, ou ao fanatismo religioso. Mas nunca se encontrará, por aí, seguras sendas por onde poderá se desenvolver a personalidade, cultivar a força interior, revigorando sua existência pessoal, com maturidade necessária.
Cada um leva dentro de si a ânsia e a possibilidade do bem e da verdade. No entanto, elas tanto podem ser destruídas, como alimentarem e fortalecerem; porém a opção é livre e pessoal. É mister, contudo, que a humildade esteja sempre no projeto de uma vida sadia, destacando-se com a prudência nos momentos de confronto. A depressão não é um fatalismo. O homem é quem permite as influências que a provocam.

Analisando friamente

Desde a semana passada, Conselheiro Lafaiete vive dias apreensivos; ou melhor, o governo municipal vive dias apreensivos. O motivo é a instalação de uma Comissão Processante na Câmara Municipal, para julgar a defesa do prefeito ante a denúncia apresentada por um cidadão, após a longa e, para a população, ainda inexplicável conclusão dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Interessante essa amostra de globalização até das percepções: o povo brasileiro está tão acostumado com CPIs, que não se interessa em acompanhá-la ou, sequer, saber do que se trata. Em Lafaiete não foi diferente.
Só que o desinteresse das pessoas e o apelo à sua sensibilidade emocional não valerão neste momento, muito menos nenhuma chantagem política. E inculca-nos a preocupação do prefeito e de seu entourage em querer se explicar à população indiferente, sendo que - creio - seria muito mais simples, transparente e até democrático provar sua lisura à Comissão Processante da Câmara. Alguns "mestres-salas" do chefe do executivo têm se mostrado ridiculamente desorientados com a possível cassação do prefeito. Mas por que, se ele é inocente? Reuniões de grupos específicos, correios eletrônicos, cartazes, faixas, passeatas, para que tanto tumulto se as denúncias, conforme eles sustentam, são improcedentes?
Ora, realmente, o grupo que sempre apregoou a honradez, a liberdade e a democracia está se contradizendo, ao desonrar a competência do Legislativo Municipal, que, torna-se oportuno lembrar, neste caso é apenas um instrumento para que se execute o que o Estado Democrático garante a um cidadão. No entanto, tornou-se ocasião propícia para os governistas se declararem hostis àqueles que lhes são desafetos na Câmara.
A liberdade também, com isso, é ferida. Quem diria: a liberdade! Mas todo sistema que tende ao absolutismo a trata como uma fera, mantendo-a ao seu controle. E tanto corromperam o sentido de liberdade que macularam o princípio democrático que diziam defender ardentemente. Em suma, a honra desse grupo é relativa ao quanto lhe convém, assim como a liberdade é a simples tradução de sua medíocre vontade, única norma de suas ações. E a democracia? Ah, essa se a pratica por meio da "ditadura das aparências", ou seja, o que vale não é o fato em si, mas o que se revela dos fatos, o que é dito, escrito e mostrado, sob o controle deles, assumindo uma maior e decisiva relevância em relação à realidade.
Que toda essa celeuma em torno das denúncias seja apenas uma incontrolável reação dos pares do prefeito, decorrente da afinidade que lhe têm. Porém, caso contrário, se forem confirmadas as irregularidades, esses inflamados correligionários poderão estar denotando conivência com o erro.

A virilidade

Por muitos séculos, a virilidade do homem foi demonstrada pela sua força física e pelo poder. Perdeu-se, assim, o sentido sobrenatural, que é a força do espírito, a virilidade cristã, resgatada pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, perdera o homem a força viril, sã e admirável, que emanou de Deus na criação a partir da desobediência dos primeiros pais. Ele, porém, não a restabeleceu, embora pudesse, porque, conforme explica o padre José Meireles Sisnando, "seu poder de amor não se satisfaz em refazer 'como d'antes', mas a 'inventar' (=providenciar) o 'melhor do que antes'" (cf. in Reflexões sobre a virtude da força cristã).
Ainda hoje bafeja aos ouvidos, principalmente dos jovens, a sedução diabólica: "Sereis como deuses" (Gen3,5). E a esse impulso respondem prontamente com a arrogância, a agressividade ao próximo e à ordem natural das coisas. A conseqüência disso tudo é a violência crescente, é o relativismo da ética na sociedade hodierna, a dominação pela deturpação ideológica, a permissividade, enfim, a entrega a todos os vícios capitais. O que pensam ter conquistado pela virilidade, conquistaram, equivocadamente, pela tibieza do espírito.
O Santo Padre Bento XVI, quando de sua viagem a Polônia, numa de suas alocuções, admoestou aos católicos para que "sejam fiéis guardiões do depósito cristão e transmitam-no às gerações futuras. Estejam vigilantes, estejam firmes na fé, sejam fortes, tenham ânimo; e façam todas as obras na caridade". Esses são os exercícios essenciais que permitirão uma robustez espiritual para enfrentar as adversidades com que o mundo, a carne e o demônio desafiam o homem.
A força peculiar de um lídimo cristão é aquela que se nutre na contemplação dos mistérios divinos; é a força vitoriosa do Espírito, que se conquista somente após rebaixar-se e reconhecer sua fragilidade, sua própria impotência, permitindo, então, que a graça invada, sempre e mais, a alma. Assim, ter-se-á a heroicidade dos irmãos Macabeus, na confiança e na coragem no esforço, pois "agradam ao Senhor somente os que O temem e confiam em sua misericórdia" (Ps146,11). Só a partir daí se estará preparado para o Pentecostes pessoal, em que se renascerá, pela graça, com a virilidade cristã. Tal será a vitória do homem fraco sustentado pela força do Espírito.

Erva daninha

Tem sido crescente o surgimento de novas agremiações religiosas evangélicas no Brasil, especificamente. A cada dia, uma portinha se abre, encimada por uma placa cujos indicando mais um "templo" de oração e de pregação. Alguns se sucedem bem, outros, aparentemente, não tanto. A maioria se escora nos mesmos subterfúgios em que se amparou Lutero; a Igreja Católica continua a ser o alvo da sanhas desses neo-protestantes, que buscam ridicularizar a instituição divina que, mesmo composta por homens susceptíveis à fragilidade de sua natureza, mantém-se de pé ao longo de dois mil anos, cumprindo-se, assim, a promessa do Divino Redentor de que "as portas do inferno não prevalecerão contra ela".
O fundador de uma dessas agremiações, em recente entrevista a um jornal da Paulicéia, defendeu a legalização do aborto. Isso demonstra o quanto ele se ocupa em se opor à posição da Igreja Católica. Interessante que, sobre esse tema, já se manifestaram filósofos, materialistas, sociólogos, feministas, cientistas, entre outros, em defesa do aborto, mas exegetas, teólogos, líderes religiosos, são contundentes na posição de respeito à vida, desde o instante da concepção. Mais escândalo causa a má interpretação bíblica desse chefe de uma determinada agremiação, usando dos Livros Sagrados para cometer tamanho desvario.
O equívoco do insano "pastor" parte de uma má interpretação hermenêutica, o que era de se esperar de uma pessoa que se dedicou à pregação apenas com interesses comerciais. Ele lança mão de um versículo do Eclesiastes que diz: "Um homem, embora crie cem filhos, viva numerosos anos e numerosos dias nesses anos, se não pôde fartar-se de felicidade e não tiver tido sepultura, eu digo que um aborto lhe é preferível (cap. 6 vers. 3). E valendo-se da Sola Scriptura, princípio luterano, exime suas seguidores de toda culpa em caso de opção pelo aborto. No entanto, se ele tivesse alguma, mínima que fosse, formação exegética, encontraria, não no texto vernáculo, mas nos que mais se aproximam dos originais, a palavra que foi traduzida por "aborto". O sentido original é: aquele que não chegou a nascer. Em suma, o sentido que o escritor sagrado dá em suas palavras é o de que, uma vida sem Deus é vazia de sentido, a ponto de ser tão inútil quanto a própria inexistência", ou seja, "melhor seria se não tivesse nascido".
Lamenta-se, profundamente, que um apedeuta, como o é o tal chefe de agremiação, seja reconhecido como o "maior evangelizador do século". Mais deplorável ainda é a liberdade de que goza para difundir com, utilizando-se de todos os meios de comunicação que possui, a leviandade, a malícia e a insensatez a uma legião de pobres fiéis honestos. Esses infelizes, a maioria carente de algo que lhe suavize a aspereza da vida e os incômodos de sua consciência, porém de forma oportuna, no entanto, dão muito mais ouvidos ao fundador da agremiação religiosa a que pertencem do que à voz do bom-senso. Para esse tirano que abusa da tíbia fé do povo que o segue só lhe cabe a advertência bíblica: "Bonum erat ei, si natus non fuisset" (MT 26,24).

A pureza do olhar

A cada noticiário de TV ou de rádio, a cada edição de jornal, a cada atualização dos sites de notícia na internete, constata-se ser mais fácil semear o terror que a esperança. E tal a eficiência com que as empresas de notícia o fazem que corremos o risco de chegar à conclusão ser mais sedutor o caos que a harmonia. A dualidade do homem, a aparente cegueira da natureza, a explosão primária de instintos destruidores, a lentidão que se denota no avanço do que é bom e belo, conduz a muitas leituras desencantadas do mundo, da história e do homem, tido muitas vezes como um dependente incurável do instinto.
Para isso, não urge vaguear pelos planetas da abstração. Suficiente é ler os jornais, ver e ouvir os noticiários, quando, não raro, se desprende a náusea da onda opaca e sufocante de um mundo que insiste em não encontrar o rumo. Aos solavancos, a ciência e a técnica vão revelando e reabrindo sulcos. Mas o homem, o ser humano, parece marcar passo num lamaçal de violências, injustiças e desordens, ao peso esmagador de um pecado original de que não consegue se libertar.
Talvez não seja tanto assim. O que vemos, ouvimos e lemos se apresenta num determinado cenário um espetáculo narrativo de atração, porém com um quê de babel ou, mais próximo à nossa realidade, uma feira onde cada qual grita mais alto pelo seu produto. Daí facilmente nos perdemos na medição do que é real e do que é fictício, na construção que fazemos de nós mesmos e do mundo. Somos, a um tempo, autores, atores, encenadores e espectadores desse complexo concerto em que nunca estamos de fora. Em alternâncias de ordem e desordem.
Por isso, facilmente olhamos em volta e vemos em primeiro plano túmulos e lágrimas, como se o mundo começasse e terminasse nesse tom menor que tantas vezes desmobiliza a ação e desfoca o olhar sobre o hoje e o futuro. Tudo nos leva a essa contemplação lúgubre da miséria ou da vista sem fim, como no horizonte que as vagas atlânticas pode nos descortinar: o nada, o vazio, o sem-fim. E não buscamos o alento, não observamos atentos à nossa volta o que a natureza, o que Deus nos reserva.
Noé, quando temia perder-se no abandono, a frágil ave lhe trouxe um ramo de oliveira. E, mais próximo à nossa realidade, o profeta Jeremias, assistindo aos mais trágicos dias da história de sua pátria, numa espécie de fim do mundo que se vislumbrava em Jerusalém, conseguiu distinguir vida em meio à destruição: "Vejo um ramo de amendoeira". A pureza de seu coração e a confiança no Deus a quem devotava todo o seu coração fizeram-no contemplar o bem, o belo, o bom. "Viste bem, Jeremias! Viste bem", é o que lhe responde o Criador. Que saibamos, também, cultivar em nós um olhar de esperança, radicado na fé, vindo do fundo dos tempos. É só isso o que nos resta fazer num mundo em que muitos aspectos parece agonizante. Que tenhamos a limpidez e a inocência do olhar de uma criança.