Costuma-se dizer que o Brasil tem uma forte tendência em se desfazer de sua história. Realmente, diversos episódios contribuem para confirmar essa crença, principalmente quando vemos o descaso, chegando às raias do desrespeito, com a história e seus personagens. Recentemente, foi demolida a casa onde residiu o médico Mário Rodrigues Pereira, na avenida que leva o seu nome, no centro de Conselheiro Lafaiete. É mais uma referência histórica que se perde. A edificação, pelo seu peculiar estilo arquitetônico, era u’a marca, o registro de uma época em que a cidade se desenvolvia. Aliás, uma particularidade da antiga rua do Carmo, que depois recebeu o nome de avenida Benedito Valadares e, hoje, avenida Prefeito Mário Pereira, era ter em todo o seu percurso, edificações de estilos diversos, desde a Matriz da Conceição até a Igreja do Carmo, como o sobrado onde funcionou a antiga Câmara e que se incendiou, a Cadeia, o Clube Carijós (o segundo prédio), entre muitas casas residenciais. E a casa do Doutor Mário era mais um exemplar naquela vitrina de estilos arquitetônicos vários. Enfim...
Ao referir-se à casa demolida, faz-se necessário reconhecer o mérito de seu antigo proprietário que, muito mais que um político, foi um benfeitor para a cidade. De temperamento reservado, de franqueza, às vezes, mal compreendida, como afirmam alguns contemporâneos seu, contudo, um homem capaz de se dispor a tudo, fosse no exercício da medicina, fosse em prol do bem-estar da população. De família tradicionalmente política na região, honrou os cargos que exerceu, sempre com probidade e atento ao desenvolvimento do município.
Mário Rodrigues Pereira nasceu na Fazenda da Cachoeira, então localidade de Carandaí, a 19 de junho de 1898, filho do major Francisco Rodrigues Pereira e de Maria Alves Pereira. Seu pai, conhecido pela alcunha de Chico Barão, era filho do legendário Barão de Santa Cecília (coronel Francisco Rodrigues Pereira de Queiroz) e de sua prima Luciana Pereira de Queiroz. Apesar da semelhança do sobrenome Rodrigues Pereira, com o do patrono do município, o Barão e o Conselheiro Lafayette não tinham nenhum parentesco, como comprovam pesquisas genealógicas de ambos.
Chico Barão, nascido em 26 de março de 1870, formou-se em Farmácia na tradicional Escola de Ouro Preto, estabelecendo-se seguida em Queluz com a Pharmácia Pereira, tornando-se conhecido como o “médico da pobreza”, tal a atenção com que cuidava da população carente. Exerceu, ainda, o cargo de Juiz de Paz na comarca. Embora não tenha participado ativamente da política local, contam que, por ocasião da deposição de Washington Luiz, em 1930, Chico Barão foi levado preso pelo governo revolucionário que se impôs, como represália a seu filho, o advogado Francisco Rodrigues Pereira Júnior que se elegera deputado federal nas eleições daquele ano. Quando a notícia da prisão do farmacêutico espalhou-se pela cidade, um grupo de senhoras teria se colocado à frente da Cadeia Pública “exigindo” sua soltura. Ao pequeno grupo, outras pessoas foram se juntando e à pressão da massa não restou outra alternativa senão soltá-lo. Na ocasião, outros políticos locais também foram presos. Sua esposa, Maria Alves Pereira, conhecida como Dona Marucas, dizem ter sido uma senhora de lhano trato, muito caridosa, que zelou pela Igreja do Carmo por muitos anos.
Os primeiros estudos, Mário Pereira os fez em Queluz, com o professor Severino Ferreira da Silva, conhecido por Seu Virico, ao lado da Igreja do Carmo, e com a professora Honorina Baêta. Na capital mineira, cursou Humanidades e Medicina, doutorando-se na turma de 1922, na mesma turma do Dr. Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Retornando a Queluz, passou a clinicar na antiga Santa Casa (atual Hospital Queluz), como assistente do Dr. Narciso de Queiroz, que veio a ser seu sogro, por haver contraído núpcias com dona Amélia Nogueira Queiroz. Trabalhou durante toda a sua vida naquele nosocômio, destacando-se na área de ginecologia. À frente da tradicional casa de saúde, empreendeu significativas melhorias naquele estabelecimento, atendendo a pacientes de toda a região.
Após os primeiros anos do governo provisório de Getúlio Vargas, retomada a estabilidade administrativa no país, Mário Pereira foi nomeado prefeito de Conselheiro Lafaiete, em setembro de 1934, empossado no dia 1º de outubro. Um acordo entre as lideranças políticas locais e o governador Benedicto Valladares possibilitou esse engajamento do jovem médico na lida administrativa.
De acordo com o historiador Jair Noronha, Doutor Mário Pereira, “modesto, despretensioso, tudo executou visando única e exclusivamente o bem estar coletivo”. Entre suas obras, destacam-se as construções dos prédios da Prefeitura, do Asilo Agrícola (onde funciona o Larmena), do Colégio Monsenhor Horta (edifício da escola estadual Narciso de Queirós) e a sede do Tiro de Guerra na rua Horácio de Queiroz, doando, ainda, terreno necessário à construção do estande para essa escola de instrução militar. Atento à formação da juventude, colaborou com a implantação do Colégio Monsenhor Horta, da Faculdade de Comércio e, antes, do Ginásio Queluziano, fundado pelo doutor Domingos de Souza Novais, ainda na década de 20.
Naqueles distantes anos 30, de estradas de rodagem muito precárias, sendo intensas as atividades da ferrovia, vislumbrou o progresso, adquiriu um terreno próximo ao distrito de Buarque de Macedo e doou-o ao governo federal, onde foi construído o Campo de Aviação de Lafaiete, para os aviões da rota Rio-Belo Horizonte, o atual Campo das Bandeirinhas. O desporto teve especial atenção do dinâmico prefeito, que estimulou os iniciantes clubes de vôlei e de basquete, além dos clubes de futebol, tendo idealizado e construído o estádio do Meridional Esporte Clube, que, aliás, recebeu o seu nome, e doado o terreno para o Guarany Esporte Clube construir o seu campo, no Alto da Vista Alegre.
Um moderno projeto de urbanização Doutor Mário empreendeu durante sua gestão como prefeito. Realizou o ajardinamento e calçamento das principais praças da cidade, abriu novas ruas, promovendo o desenvolvimento de novos bairros. Na praça Tiradentes, construiu a fonte luminosa, restaurada recentemente, e o abrigo de ônibus, além de artísticas calçadas, desde a Praça Barão de Queluz. Na Praça São Sebastião construiu o prédio denominado Quitandinha e dotou aquele espaço de outros atrativos para o lazer de crianças e adolescentes. Substituiu os antigos calçamentos por paralelepípedos em mais de uma dezena de logradouros e promoveu a abertura e manutenção de estradas na zona rural, interligando os distritos. Seu mandato como prefeito encerrou-se em 1945. Em 1959, foi eleito vereador pelo distrito de Cristiano Otoni. Disputou eleições para prefeito, em 1962, quando venceu o pleito Dr. Orlando Baeta Costa.
O cronista Gilberto Victorino de Souza, em sua vasta obra sobre personalidades lafaietenses, destaca que Doutor Mário foi “dotado de uma personalidade inconfundível, era sinceramente estimado por todos aqueles que sabiam compreendê-lo em todos os seus aspectos. (...) Era completamente avesso a exibições demagógicas e ao farisaísmo político, tão comuns em nossa época. (...) Dotado de boníssimo coração, são sem conta o número de pessoas, em nossa cidade, que por ele foram beneficiadas”. Doutor Mário Rodrigues Pereira faleceu no dia 10 de setembro de 1964.
Ao referir-se à casa demolida, faz-se necessário reconhecer o mérito de seu antigo proprietário que, muito mais que um político, foi um benfeitor para a cidade. De temperamento reservado, de franqueza, às vezes, mal compreendida, como afirmam alguns contemporâneos seu, contudo, um homem capaz de se dispor a tudo, fosse no exercício da medicina, fosse em prol do bem-estar da população. De família tradicionalmente política na região, honrou os cargos que exerceu, sempre com probidade e atento ao desenvolvimento do município.
Mário Rodrigues Pereira nasceu na Fazenda da Cachoeira, então localidade de Carandaí, a 19 de junho de 1898, filho do major Francisco Rodrigues Pereira e de Maria Alves Pereira. Seu pai, conhecido pela alcunha de Chico Barão, era filho do legendário Barão de Santa Cecília (coronel Francisco Rodrigues Pereira de Queiroz) e de sua prima Luciana Pereira de Queiroz. Apesar da semelhança do sobrenome Rodrigues Pereira, com o do patrono do município, o Barão e o Conselheiro Lafayette não tinham nenhum parentesco, como comprovam pesquisas genealógicas de ambos.
Chico Barão, nascido em 26 de março de 1870, formou-se em Farmácia na tradicional Escola de Ouro Preto, estabelecendo-se seguida em Queluz com a Pharmácia Pereira, tornando-se conhecido como o “médico da pobreza”, tal a atenção com que cuidava da população carente. Exerceu, ainda, o cargo de Juiz de Paz na comarca. Embora não tenha participado ativamente da política local, contam que, por ocasião da deposição de Washington Luiz, em 1930, Chico Barão foi levado preso pelo governo revolucionário que se impôs, como represália a seu filho, o advogado Francisco Rodrigues Pereira Júnior que se elegera deputado federal nas eleições daquele ano. Quando a notícia da prisão do farmacêutico espalhou-se pela cidade, um grupo de senhoras teria se colocado à frente da Cadeia Pública “exigindo” sua soltura. Ao pequeno grupo, outras pessoas foram se juntando e à pressão da massa não restou outra alternativa senão soltá-lo. Na ocasião, outros políticos locais também foram presos. Sua esposa, Maria Alves Pereira, conhecida como Dona Marucas, dizem ter sido uma senhora de lhano trato, muito caridosa, que zelou pela Igreja do Carmo por muitos anos.
Os primeiros estudos, Mário Pereira os fez em Queluz, com o professor Severino Ferreira da Silva, conhecido por Seu Virico, ao lado da Igreja do Carmo, e com a professora Honorina Baêta. Na capital mineira, cursou Humanidades e Medicina, doutorando-se na turma de 1922, na mesma turma do Dr. Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Retornando a Queluz, passou a clinicar na antiga Santa Casa (atual Hospital Queluz), como assistente do Dr. Narciso de Queiroz, que veio a ser seu sogro, por haver contraído núpcias com dona Amélia Nogueira Queiroz. Trabalhou durante toda a sua vida naquele nosocômio, destacando-se na área de ginecologia. À frente da tradicional casa de saúde, empreendeu significativas melhorias naquele estabelecimento, atendendo a pacientes de toda a região.
Após os primeiros anos do governo provisório de Getúlio Vargas, retomada a estabilidade administrativa no país, Mário Pereira foi nomeado prefeito de Conselheiro Lafaiete, em setembro de 1934, empossado no dia 1º de outubro. Um acordo entre as lideranças políticas locais e o governador Benedicto Valladares possibilitou esse engajamento do jovem médico na lida administrativa.
De acordo com o historiador Jair Noronha, Doutor Mário Pereira, “modesto, despretensioso, tudo executou visando única e exclusivamente o bem estar coletivo”. Entre suas obras, destacam-se as construções dos prédios da Prefeitura, do Asilo Agrícola (onde funciona o Larmena), do Colégio Monsenhor Horta (edifício da escola estadual Narciso de Queirós) e a sede do Tiro de Guerra na rua Horácio de Queiroz, doando, ainda, terreno necessário à construção do estande para essa escola de instrução militar. Atento à formação da juventude, colaborou com a implantação do Colégio Monsenhor Horta, da Faculdade de Comércio e, antes, do Ginásio Queluziano, fundado pelo doutor Domingos de Souza Novais, ainda na década de 20.
Naqueles distantes anos 30, de estradas de rodagem muito precárias, sendo intensas as atividades da ferrovia, vislumbrou o progresso, adquiriu um terreno próximo ao distrito de Buarque de Macedo e doou-o ao governo federal, onde foi construído o Campo de Aviação de Lafaiete, para os aviões da rota Rio-Belo Horizonte, o atual Campo das Bandeirinhas. O desporto teve especial atenção do dinâmico prefeito, que estimulou os iniciantes clubes de vôlei e de basquete, além dos clubes de futebol, tendo idealizado e construído o estádio do Meridional Esporte Clube, que, aliás, recebeu o seu nome, e doado o terreno para o Guarany Esporte Clube construir o seu campo, no Alto da Vista Alegre.
Um moderno projeto de urbanização Doutor Mário empreendeu durante sua gestão como prefeito. Realizou o ajardinamento e calçamento das principais praças da cidade, abriu novas ruas, promovendo o desenvolvimento de novos bairros. Na praça Tiradentes, construiu a fonte luminosa, restaurada recentemente, e o abrigo de ônibus, além de artísticas calçadas, desde a Praça Barão de Queluz. Na Praça São Sebastião construiu o prédio denominado Quitandinha e dotou aquele espaço de outros atrativos para o lazer de crianças e adolescentes. Substituiu os antigos calçamentos por paralelepípedos em mais de uma dezena de logradouros e promoveu a abertura e manutenção de estradas na zona rural, interligando os distritos. Seu mandato como prefeito encerrou-se em 1945. Em 1959, foi eleito vereador pelo distrito de Cristiano Otoni. Disputou eleições para prefeito, em 1962, quando venceu o pleito Dr. Orlando Baeta Costa.
O cronista Gilberto Victorino de Souza, em sua vasta obra sobre personalidades lafaietenses, destaca que Doutor Mário foi “dotado de uma personalidade inconfundível, era sinceramente estimado por todos aqueles que sabiam compreendê-lo em todos os seus aspectos. (...) Era completamente avesso a exibições demagógicas e ao farisaísmo político, tão comuns em nossa época. (...) Dotado de boníssimo coração, são sem conta o número de pessoas, em nossa cidade, que por ele foram beneficiadas”. Doutor Mário Rodrigues Pereira faleceu no dia 10 de setembro de 1964.