Bernardo Guimarães, de acordo com seus biógrafos, teria chegado em Queluz em 1873, para reger as cadeiras de Latim e Francês; alguns deles chegaram a afirmar que fora nomeado ara o Liceu de Queluz. Observa-se, entretanto, que nessa época não havia nenhuma escola de curso ginasial na cidade, senão as escolas primárias “uma para meninos e outra para meninas”. Poderia supor-se que residia em Queluz e lecionava no renomado Colégio Matosinhos,
Daí poderia ser porque fora nomeado Juiz Municipal para este termo – uma outra informação de um de seus biógrafos. No entanto, até o momento, não foi encontrada uma prova documental, não obstante ficar-me a impressão de ter visto sentença sua assinada em processos dessa época, no Cartório de Órfãos, podendo ter-me incorrido em equívoco.
Em Queluz, Bernardo Guimarães residiu em uma casa que existia na antiga rua dos Barrancos, no trecho hoje denominado rua Desembargador Dayrell de Lima, onde posteriormente funcionou o Colégio Monsenhor Horta. Essa casa foi residência do padre Cândido Tadeu Pereira Brandão, que foi vigário colado da freguesia de Nossa Senhora da Conceição entre julho de
Durante os anos que residiu em Queluz, até por volta de 1877, aqui nasceram os filhos de Bernardo Guimarães, Isabel, em 1873, e o poeta Afonso da Silva Guimarães, que pertenceu à Academia Mineira de Letras, falecido em 1955. Nesse período, também, foram editadas duas de suas poesias mais conhecidas e consideradas pornográficas, embora não sejam de seu período bestialógico, “O Elixir do Pajé” e “A Origem do Mênstruo”, publicadas clandestinamente em 1875. O seu célebre romance “A Captiva Isaura” (conhecido hoje como “A Escrava Isaura”), também é dessa época, conforme consta de um contrato com a Editora Garnier, cujo original se encontra, hoje, na Editora Itatiaia, de Belo Horizonte, que adquiriu os direitos daquela. Todavia, isso não prova que o romance teria sido escrito aqui, muito menos se inspirado numa realidade específica de alguma família queluzense, até mesmo porque existe a tradição na família de que ele teria escrito o livro quando passava temporada na fazenda da família,
O motivo pelo qual veio parar em Queluz talvez tenha sido influência do conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, com quem trabalhara no Rio de Janeiro, no jornal “Actualidade”. Lafayette, mesmo distante de sua terra natal, sempre ingeria-se na política local, por meio de seu pai, o Barão de Pouso Alegre, e de seu irmão Washington Rodrigues Pereira. A afinidade que tinha com Bernardo Guimarães também se comprova por um bilhete que lhe escreveu pedindo sua opinião sobre um soneto que escrevera:
“Meu caro Bernardo Guimarães,
É este o soneto de que te fallei. Conheces a história. A minha bella noiva perdeu a razão há quatro annos. E eu não sei como diante de tão rude golpe ainda conservo a minha. Pobre moça! Eu me sinto capaz de todos os sacrifícios por ella.
O nosso Flávio, que sujeita tudo à razão fria, acha que eu sou um desequilibrado, Mas tu, que és poeta, não pensas assim.
Teu do c. [coração]
Lafayette
Rio, 28 de março de
A noiva a que se refere Lafayette talvez seja uma de quem comentara com seu irmão Washington numa carta, quando era presidente da Província do Ceará. Flávio Farnese foi companheiro de ambos também no jornal “Actualidade”. O soneto é o seguinte:
“Consagrei-te no alvorecer da vida
O que tinha em meu ser de puro e santo
- ilusões, a alegria, a dor, o pranto,
A esperança de etérea cor tingida.
A voz tua ressoava sentida
Aos meus ouvidos, como ignoto canto;
Tua fronte vertia estranho encanto
De sombras e de mistérios cingida.
Mas a luz que te iluminava a mente
Apagou-a o Aquilão da adversidade
E deixou-me, de mim, de Deus descrente.
Amei outras. Ó, fora uma impiedade!
Pálida, semimorta, inconsciente,
Foste sempre e és a minha divindade!”
O período