A laicização do Estado e de toda a organização governamental é perniciosa à ordem social. Esse processo que vem se arrastando há mais de dois séculos, suscitado no Velho Mundo, conquistou simpatizantes no Brasil na segunda metade do século XIX. Disseminando-se por entre os meios intelectual e político, esse sistema ateu granjeia adeptos, impedindo o aprofundamento da fé, desorientando a conduta ética e moral. O ensino foi o principal alvo, privando as crianças do que o Papa Pio XII indicou ser a “pedagogia da fé” (encíclica “Mystici Corporis Christi”, 1943). No momento oportuno em que as condições da natureza humana são mais acessíveis para a assimilação da fé, por meio da participação da inteligência e da vontade de permitir a ação desse dom, tolhem os dotes naturais da necessidade imanente da busca de Deus.
A pedagogia moderna da educação não admite a observância de uma disciplina, seja ela física ou intelectual, com o pretexto de ser traumatizante para as crianças. Não vêem o mal que pode causar a flexibilização do ensino. Observa o biólogo Christian de Duve, Prêmio Nobel em 1974, que “não se pode aprender a pensar sem certo esforço, sem alguma medida coercitiva, imposta inicialmente pelo exterior, até que se tenha aprendido a ter a iniciativa do bem por si mesmo. (...) A meu ver, é daí que vem o irracional, essa fraqueza na utilização crítica da razão e a ausência de rigor no pensamento” (SALOMON, Michel, “L’Avenir de
Para se chegar a Deus, além da graça, necessita-se da compreensão racional de sua existência. Isso somente o ensino religioso nas escolas poderá proporcionar de forma explícita e sistemática, como adverte o papa Paulo VI num de seus Documentos: “O ensino religioso, embora não se esgote nos cursos de religião integrados nos programas escolares, deve ser ministrado na escola de modo explícito e sistemático, a fim de que não se venha a criar na mente dos alunos um desequilíbrio entre a cultura geral e a cultura religiosa” (“Escola Apostólica”, 19/3/1977, cap. IV).
Interessantes essas duas condições indispensáveis que o Papa Montini aponta. O ensino explícito, ou seja, o ensino da religião com o intuito de se formar cristãos convictos, não uma reflexão das experiências de vida, ou sobre temas atuais e polêmicas questões sociais, muito menos introspecções filosóficas ou rudimentos morais e éticos. O ensino sistemático é para assegurar o seu desenvolvimento, uma seqüência pelos anos escolares que possibilitará o aprofundamento da compreensão sobre a existência de Deus e de Sua revelação, enquanto se vai avançando pela via espiritual.
“A escola sem Deus é um caminhar como o de alguém que perdeu o endereço da casa paterna. Será uma escola que não sabe responder a uma pergunta fundamental sobre si mesma: para que educar?”, assegura o pedagogo cristão Dom Lourenço de Almeida Prado – OSB. Esse é o vazio a que chega a pedagogia moderna, cujos acertos ainda são insuficientes para reparar o dano que o ateísmo sugerido tem causado às crianças e aos jovens.