A capela de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água comemora, dia 7 de junho, os 275 de sua ereção, pelo então bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio do Guadalupe. Naquela época, quase todo o território da Capitania das Minas Gerais estava sob a jurisdição eclesiástica do Bispado do Rio de Janeiro; só em 1745 seria criada a Diocese de Mariana. Seu construtor foi Manuel Moraes Coutinho, casado com Margarida Rodrigues, falecida em 20/08/1837 e sepultado dentro da capela daquela paragem, de cujas terras eram proprietários[1].
Manuel Moraes Coutinho, nascido na freguesia de São Sebastião da Vila de Toiro, bispado de Lamego, Concelho de Vila Nova de Paiva, Viseu, Portugal, era filho de Antônio de Moraes e de Ana de Carvalho. Veio para o Brasil nos primórdios do século XVIII, já aparecendo como proprietário da Fazenda Cataguases, na freguesia de Prados, por volta de 1722. Tendo contraído dois casamentos, deixou numerosa prole, cuja descendência espalhou-se pelos Campos das Vertentes, em Minas, e na região de Cantagalo, no Estado do Rio de Janeiro, destacando-se, entre estes, prósperos cafeicultores e líderes políticos, como o Visconde de Imbé e o Dr. Raul de Moraes Veiga, governador daquele Estado entre os anos de
Na capela de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água foi batizado, em 9/5/1782,[3] o padre Gonçalo Ferreira da Fonseca, que se tornou um chefe político na região do Camapuã, tendo sido vereador à Câmara de Queluz entre 1841 e 1848.[4] Por muitos anos, exerceu aquela capelania, onde residia na Fazenda São Gonçalo. Nessa sua propriedade, retirou-se o Cônego Antônio Marinho, historiador da Revolução Liberal de 1842.
Marinho foi um dos intelectuais do Partido Liberal que participaram do movimento que, em Minas, eclodira-se como um eco da rebelião dos paulistas, em retaliação às manobras do partido Conservador, que reassumira o poder no ano anterior, em detrimento às propostas de renovação. Inflamara-se a situação com a lei que criava o Conselho de Estado e a reforma do Código de Processo Criminal.
A marcha iniciou-se em junho de 1842, finda
Marinho foi levado a julgamento na comarca de Piranga, quando surpreendeu o júri dada sua capacidade de auto-defesa, livrando-se da condenação que coube a muitos revolucionários, anistiados posteriormente a 14 de março de 1844, por beneplácito de Sua Majestade Dom Pedro II. O Xenofonte da Revolução, como o cognominou o historiador Moreira de Azevedo, retirou-se, então, na Fazenda São Gonçalo, na aplicação de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água. Naquele recanto, encontrou a tranqüilidade necessária para se refazer moral e intelectualmente. Nesse remanso, segundo a tradição, “no coração das virgens florestas”, segundo sua expressão,[5] teria escrito o livro “História do Movimento Político que no ano de 1842 teve lugar na Província de Minas Gerais”.
A obra, não obstante ter sido redigida ainda sob a inspiração da emoção de um liberal derrotado, não pode ser questionada quanto à falta para com a verdade dos fatos. Porém, é a visão dele apenas. Uma advertência que ele lançou ao fim do tomo segundo desculpa esse deslize, alegando que informações que pedira a outras regiões que se envolveram com o conflito chegaram às suas mãos tardiamente, quando o livro já se encontrava no prelo. Isso foi o suficiente para macular a honra do Exército Imperial, que denodadamente assegurara a integridade do Império e o poder do monarca, tendo à frente o bravo Barão de Caxias. Quanto aos anseios dos liberais, ficou também a lição para o Imperador, que no ano seguinte constatara a justeza do que lhe cobravam os revoltosos e teria afirmado anos mais tarde: “Foi um erro. Talvez o maior de todo o reinado”...
Anistiados os revoltosos, muitos retomaram as lides políticas. Cônego Marinho que, além de ter se dedicado ao magistério
Sobre sua atuação legislativa, o historiador Rodrigues de Almeida observa que “se dedicou-se também à política, não o fez por egoísmo do interesse próprio, e jamais serviu-se dela como meio desonesto. (...) Tomando parte ativa nas questões partidárias, reconheceu o Cônego Marinho as inconveniências e as escabrosidades da política, dedicando-se voluntariamente depois tão somente ao sacerdócio, para o apostolado do bem”. Cônego Marinho, que fora pregador da Casa Imperial nomeado em 1839 e, ano seguinte, feito Cônego Honorário do Cabido da Sé do Rio de Janeiro, foi elevado à dignidade de Monsenhor camareiro secreto do Beato Pio IX, em 1847. De acordo com seus biógrafos, morreu pobre, vítima de febre amarela, no dia 13 de março de 1853, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado no Cemitério São João Batista.[6]
[1] - VALE, Dario Cardoso – MEMÓRIA HISTÓRICA DE PRADS, Belo Horizonte, 1985, pág. 123
[2] - RICHA, Lênio Luiz – FAMÍLIA MORAES COUTINHO, in GENEALOGIA BRASILEIRA – ESTADO DO RIO DE JANEIRO – POVOADORES DA REGIÃO SERRANA - http://br.geocities.com/lenioricha/cantagalo_morcout.htm
[3] - VALE, opus cit. pág. 150
[4] - MILAGRE, Allex – MEMORIAL DA CÃMARA DE CNSELHEIRO LAFAIETE, 2005
[5] - SISSON, S. A. – GALERIA DOS BRASILEIROS ILUSTRES – JOSÉ ANTÔNIO MARINHO, in http://pt.wikisource.org/wiki/Galeria_dos_Brasileiros_Ilustres/Jos%C3%A9_Ant%C3%B4nio_Marinho
[6] - ALMEIDA, Joaquim Rodrigues de Almeida – CÔNEGO JOSÉ ANTÔNIO MARINHO, in HISTÓRIA DO MOVIMENTO POLÍTICO DE 1842, 2ª EDIÇÃO, Typographia Almeida, Conselheiro Lafayette, 1939