sábado, maio 03, 2008

Enrico Dante, uma vida a serviço da Casa Pontifícia

Todo amante da Sagrada Liturgia da Igreja Católica, que busca estudá-la e acaba apreciando fotos e vídeos, principalmente anteriores ao Concílio Vaticano II, perceberá nas cerimônias da Basílica Vaticana a presença de Monsenhor Enrico Dante.

De estatura alta, muito magro, parecendo consumir-se em dedicação à liturgia papal e à contemplação dos Sagrados Mistérios, sua imagem não passa despercebida. É o dedicado mestre de cerimônias do Santo Padre, que desde jovem sacerdote ingressou no serviço da Cúria Romana, chegando a Cardeal da Santa Igreja.

Enrico Dante nasceu na cidade de Roma, a 5 de julho de 1884, onde cerrou os olhos para este mundo, abandonando-se completamente à vontade de Nosso Senhor, a quem serviu intensamente em toda a sua vida, no dia 24 de abril de 1967. Era filho de Achille Dante, um dedicado defensor de Giuseppe Garibaldi, e de Zenaide Ingegni. Tinha apenas 8 anos quando ficou órfão de mãe, juntamente com mais duas irmãs e um irmão, que mais tarde veio como missionário para o Brasil.

Após fazer os estudos secundários com os Padres de Sion, em Paris, ingressou no Colégio Capranica, na cidade de Roma, em 1901. Doutorou-se em Filosofia, Teologia, Cânones e Direito Civil, na Pontifícia Universidade Gregoriana, passando a advogar na Sacra Rota Romana.

Ordenou-se padre a 3 de julho de 1910, na Igreja de Santo Apolinário, em Roma, pelo Exmº. Sr. Dom Giuseppe Ceppetelli, Patriarca Latino de Constantinopla. De 1911 a 1928, Enrico Dante lecionou Filosofia no Pontifício Ateneu Urbaniano “De Propaganda Fide”; de 1928 a 1947, passou a reger, também, a cadeira de Teologia. Em 1913, ingressou como oficial da Sagrada Penitenciária Apostólica.

No dia 25 de março de 1914, foi admitido como membro da Pontifícia Academia de Cerimônias. O Santo Padre Pio XI confiou-lhe a reabertura da Nunciatura Apostólica de Paris, em 1923, ao que ele declinou, por ter duas irmãs em Roma que necessitavam dele, por serem órfãs. Continuou suas atividades na Cidade Eterna, sendo nomeado pelo Pai da Cristandade como suplente na Sagrada Congregação para os Ritos, a 26 de outubro daquele ano, passando a substituto a 28 de setembro de 1930.

Elevado à dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade, a 15 de maio de 1943, e, a 27 seguinte, feito sub-secretário da S. C. Cerimonial. A 13 de junho de 1947, foi elevado a Prefeito das Cerimônias Pontifícias. O ponto alto de sua atuação ao lado do Pastor Angelicus foi no Ano Santo de 1950. Em reconhecimento à sua atuação e dedicação à Casa Pontifícia, o Beato João XXIII fê-lo pró-secretário da Sagrada Congregação dos Ritos, a 24 de janeiro de 1959, passando a secretário a 5 de janeiro de 1960.

Exerceu o ministério pastoral, na Diocese de Roma, em Torre Nova e na Basílica Patriarcal de Latrão. Em Santa Maria em Monte, na Piazza del Popolo, foi decano do Cabido. Por mais de 40 anos, ouviu confissões na Igreja do Sacro Cuore al Suffragio, em Roma. Ao mesmo tempo, encontrava oportunidade para práticas esportivas, sendo um atleta entusiasta, que ajudou a fundar o Roma, time de futebol, além de praticar alpinismo.

Como cerimoniário da Casa Pontifícia, participou dos Conclaves de 1914, 1922, 1939, 1958 e 1963, atuando nas cerimônias de coroação dos papas Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Enrico Dante foi o primeiro mestre de cerimônias papal a ajudar o Sumo Pontífice numa sagração de um bispo no Rito Bizantino, a do futuro cardeal Gabriel Acacius Coussa, OSBA.

Em 28 de agosto de 1962, foi eleito arcebispo titular de Carpasia, mais uma forma de reconhecimento do Vigário de Cristo. A 21 de setembro seguinte, foi sagrado pelo Beato João XXIII, na Basílica Lateranense, sendo co-sagrantes o Exmº. Arcebispo Titular de Sardica, assessor da Sagrada Congregação Consistorial, Dom Francesco Carpino, e pelo Exmº. Arcebispo Titular de Teolemaide di Tebaide, assessor do Supremo Santo Ofício, Dom Pietro Parente. Na mesma cerimônia, foram sagrados, também, os futuros cardeais Cesare Zerba, Pietro Palazzini, e Paul-Pierre Philippe – OP.

Participou de todas a ssessões do Concílio Vaticano II (1962-1965). Dom Enrico Duarte teve atuação mis marcante na primeira sessão, inclusive fazendo parte de comissões. Entretanto, a partir da segunda sessão, os rumos incertos que as comissões e os trabalhos começaram a tomar, encontraram nele um determinado opositor.

O Papa Paulo VI elevou-o a Cardeal Presbítero da Santa Igreja, no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, com o título de Santa Ágata dos Godos, em Roma. Durante a cerimônia em que foi-lhe colocado o barrete, o Santo Padre, acidentalmente, pôs-lhe na cabeça o barrete do Cardeal Lawrence Shehan, que era muito maior, ficando a cabeça de Dom Dante enterrada sob o capelo, não sendo contido o esboço de um riso no rosto do Papa e de seus assistentes.

Com idade avançada, apesar de um estado físico sempre bem disposto, encontrou-o a enfermidade, para que se preparasse melhor para o encontro definitivo com o Pai. Hospitalizado, recebeu a visita do Papa Paulo VI, no dia 6 de abril de 1967, que foi levar o conforto espiritual e o protesto de gratidão da Casa Pontifícia àquele que a serviu, com tanta dedicação, por toda a vida.

A primavera avançava pelas primeiras semanas no ano de 1967. Roma amanhecia fria, um vento ainda cortava quem contra ele se lançasse pelas ruas da Cidade Eterna. Num dos quartos do Hospital Gemelli, prostrado num leito de sofrimentos finais, estava o Cardeal Enrico Duarte. Os Santos Sacramentos já lhe haviam sido administrados. O Santo Viático já o tinha em seu coração, aguardando o momento derradeiro. Entre uma invocação e outra da Ladainha dos Agonizantes, o Purpurado entregou sua alma ao Criador; voou ao encontro do Deus que sempre amou e serviu. Era 24 de abril de 1967.

Após solenes exéquias, seu corpo foi enterrado na Igreja de Santa Ágata dos Godos. Em sua memória, A. Fanttinnanzi ergueu-lhe um monumento em sua Sé Cardinalícia, em cuja cripta descansam seus restos mortais, à espera da ressurreição em Cristo Nosso Senhor.

Bibliografia

- "Enrico Dnte" in "I cenni biographici, le attività i meriti dei nuovi porporati" - L'Osservatore Romano, Cidade do Vaticano, nº 44, 22/23 de fevereiro de 1965, p. 5;

- McElwain, A. R. "That man beside Pope John. Monsignor Dante is always in the picture", Catholic Digest. XXVI, 9 de julho de 1962, pp. 14-18;

- Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Enrico_Dante




Busto do Cardeal Dante, sobre o monumento que lhe foi erigido na Igreja de Santa Ágata dos Godos



Ao lado do Beato João XXIII, no dia de sua coroação



Ao lado do Servo de Deus Pio XII, durante um consistório de eleição de novos cardeais



Lápide de seu monumento, na Igreja de Santa Ágata dos Godos



Gaveta mortuária na cripta da Igreja de Santa Ágata, onde jazem os restos mortais do Cardeal Enrico Dante