Insigne filho do fundador da dinastia de Avis, em Portugal, o Infante Dom Henrique (1394-1460) é considerado um dos heróis das terras lusitanas. O Navegador, como ficou cognominado na história, parece ter nascido com essa missão, de expandir os domínios daquele Reino por “mares nunca dantes navegados”, como cantou Camões, projetando sua sombra pelas centúrias que se seguiriam à que viveu. Desde jovem, impelindo seu pai, Dom João I, a atitudes ousadas, como a conquista de Ceuta e o combate aos mouros, o fundador da escola de Sagres já se mostrava um empreendedor de feitos que engrandeceriam sua pátria.
Esse ilustre ornamento das nobres casas portugueses é o tema de mais uma exposição que o comerciante Fernando Emílio Pereira, seu patrício, faz na vitrina de sua loja “Lusitana”, em Conselheiro Lafaiete. Há mais de cinquenta anos no Brasil, onde se estabeleceu, casou-se e constituiu família, além de contribuir enormemente para o desenvolvimento comercial da cidade, senhor Fernando está cá, provavelmente com o coração dividido entre a terra que o viu nascer e esta que o acolheu como seu também. E vai amenizando sua saudade, enquanto nos proporciona um espetáculo de cultura, na vitrina de seu estabelecimento, onde já expôs a Família Real, Juscelino Kubitscheck, Santos Dumont, e outros fatos, vultos e lugares que se enlaçam numa só manifestação de um povo cujas origens são as mesmas, assim como o idioma com que cantam a vida e seus feitos.
Ousaria comparar, com as devidas proporções, a coragem do Infante Navegador com a do senhor Fernando Emílio. Ambos não se contentaram com os limites que sua naturalidade lhes impusera, entre o mar e La Raya. Quiseram conquistar o mundo, acreditavam na potência do Portugal altivo de sua história, de suas tradições, de sua cultura: haveria de expandir pelo mundo a nacionalidade daquele povo predestinado a altear o símbolo da cristandade, não sob seu domínio apenas, mas sob o signo da fé. Dom Henrique conquistou o mar com sua fé e determinação; senhor Fernando conquistou o mundo, além mar, com sua fé e carisma peculiar; fé num Brasil pujante e carisma com o qual conquistou não apenas sua senhora, dona Wanda, mas todos os lafaietenses que o têm como caro conterrâneo. Na meditação dos versos de Fernando Pessoa, talvez compreendamos melhor essa missão deles.
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já não separasse. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até ao fim do mundo, E viu-se a terra inteira, de repente, Surgir, redonda, do azul profundo.