sexta-feira, julho 24, 2009

O conceito de verdade

“O amor – ‘caritas’ - é uma força extraordinária que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz”. Com esta bela definição, o Papa Bento XVI inicia sua recente encíclica “Caritas in veritate”, apresentada ao orbe no dia 7 de julho. Abordando um tema complexo, surpreendendo a muitos, principalmente aos cépticos e aos mais reticentes com relação à Igreja, o Santo Padre discorre sobre a questão social, apontando os excessos do capitalismo, as diferenças acentuadas entre as classes, a insensibilidade de tantos quanto a essa questão, as crises econômicas. Enfim, Ratzinger se mostra conhecedor profundo da atualidade, em todos os âmbitos.
Nas primeiras linhas o Papa já apresenta o que seria a origem da desordenam do mundo hodierno. Na busca da compreensão da caridade à luz da verdade, Bento XVI volta ao tema da relativização dos valores, especificamente da verdade, “aparecendo muitas vezes negligente, senão mesmo refratário à mesma”. “Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele, a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (Jo 8, 22). Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade”, adverte o Beatíssimo Padre.
A voz do Vigário de Cristo se levanta diante de um mundo ora confuso ante a deturpação dos valores, ora perplexo em meio à violação dos conceitos. É provável que, em nenhum momento da história, a humanidade esteve tão absorta na tentativa de uma auto-afirmação, à custa dos retos direcionamentos e, para os crédulos, de sua própria salvação. Senhor de seu livre-arbítrio, o homem quer justificar seus pusilânimes atos, a fim de repousar neles sua consciência. Julgando-se livre, sem as amarras dos princípios, busca interpretar a verdade ao seu bel prazer.
Ora, se a verdade está corrompida, impossível será a vivência da caridade, pois, como alerta o Sumo Pontífice, “só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida (...) Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada, chegando a significar o oposto do que é realmente”, explica.
Como antídoto para o mal de nosso tempo, o Papa apresenta a prática da caridade na verdade, para que se assimilem os valores do cristianismo, como “elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral”. Este é, pois, o primeiro conselho que Bento XVI nos dá desde as suas letras em “Caritas in veritate”, “princípio à volta do qual gira a doutrina social da Igreja, princípio que ganha forma operativa em critérios orientadores da ação moral”.