quinta-feira, junho 11, 2009

Uma questão de reconhecimento

Uma tênue diferença distingue o reconhecimento que se deve ter para com os antepassados do “culto” que os orientais, especialmente, sugerem. Esse reconhecimento advém mais do sentimento de gratidão, e não apenas de uma ação benemérita, embora ela seja, quase sempre, o instrumento pelo qual chegamos ao seu autor. Ao deparar-se com a Pietá numa das capelas laterais da Basílica de São Pedro, no Vaticano, logo vem à mente o nome de Michelangelo; na peregrinação à Basílica do Bom Jesus, em Congonhas, é impossível olvidar os mestres do barroco mineiro, Aleijadinho e Athayde; da mesma forma como a arquitetura grandiosa de Brasília evoca Niemeyer. Esses vultos que se celebrizaram, especificamente, pelo dom da arte têm seu nome perpetuado na lembrança de todos aqueles que conhecem e admiram sua obra.
A referência em que muitas pessoas se tornam, cada uma em seu campo de atuação, é um reflexo que, naturalmente, deseja-se espelhar; se não é possível, ao menos passa-se a reverenciar sua memória, num ato de gratidão e de reconhecimento. Desta forma, tornou-se comum dar aos logradouros públicos, aos edifícios, repartições, projetos etc. dar o nome dessas pessoas que, de alguma forma, notabilizaram-se pelos seus feitos ou até mesmo pelo seu simples jeito de ser. Esse reconhecimento que se lhe presta é uma extensão do sentimento de gratidão que, na iniciativa de alguém, se extravasa numa pública manifestação, por mais singela, ou pessoal, que seja essa demonstração.
O modus vivendi que vai se institucionalizando entre os povos torna-se uma medida emergencial, enquanto os valores vão se perdendo, junto com ele os princípios e as indicações que norteiam a formação social. O afã em se recompor, em recuperar o tempo perdido, em reaver os prejuízos pecuniários distraem o homem numa ilusória sensação de estar como que velejando em águas tranqüilas, distanciando-se mais e mais de seu mundo real, de seu torrão surrealista, da identidade genética impressa na sua formação, em seus hábitos, nas suas idéias. Com isso, perdem-se, também, o conhecimento e o reconhecimento de sua cultura e dos promotores dela.
“As relações entre as gerações alteraram-se de tal maneira que já não favorecem, como antes, a transmissão dos conhecimentos antigos e da sabedoria herdada dos antepassados”, destacou o Santo Padre Bento XVI numa de suas alocuções em recente viagem à África. Um abismo vai se abrindo, cada vez maior, entre as gerações, dificultando a compreensão de suas atitudes e de seu pensamento. Vai-se rompendo o elo que as une, e as referências vão se desaparecendo no oceano do esquecimento humano, por entre as brumas do passado. Há de chegar o dia em que o sol da fraternidade aqueça as relações enrijecidas dos homens, evapore a névoa da indiferença e traga à nitidez todo esse horizonte da história que tão facilmente se o deixa de contemplar.