domingo, maio 25, 2008

Um revolucionário refugiado no Olhos d'Água

A capela de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água comemora, dia 7 de junho, os 275 de sua ereção, pelo então bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio do Guadalupe. Naquela época, quase todo o território da Capitania das Minas Gerais estava sob a jurisdição eclesiástica do Bispado do Rio de Janeiro; só em 1745 seria criada a Diocese de Mariana. Seu construtor foi Manuel Moraes Coutinho, casado com Margarida Rodrigues, falecida em 20/08/1837 e sepultado dentro da capela daquela paragem, de cujas terras eram proprietários[1].

Manuel Moraes Coutinho, nascido na freguesia de São Sebastião da Vila de Toiro, bispado de Lamego, Concelho de Vila Nova de Paiva, Viseu, Portugal, era filho de Antônio de Moraes e de Ana de Carvalho. Veio para o Brasil nos primórdios do século XVIII, já aparecendo como proprietário da Fazenda Cataguases, na freguesia de Prados, por volta de 1722. Tendo contraído dois casamentos, deixou numerosa prole, cuja descendência espalhou-se pelos Campos das Vertentes, em Minas, e na região de Cantagalo, no Estado do Rio de Janeiro, destacando-se, entre estes, prósperos cafeicultores e líderes políticos, como o Visconde de Imbé e o Dr. Raul de Moraes Veiga, governador daquele Estado entre os anos de 1918 a 1922. Moraes Coutinho morreu em 1777, deixando, além da Fazenda Cataguases, uma outra propriedade denominada São Simão, “ao pé do Rio São Francisco”. Após a morte de sua primeira mulher, casou-se com Ana Nunes da Costa, filha de Caetano da Costa Nunes e de Luzia de Jesus.[2]

Na capela de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água foi batizado, em 9/5/1782,[3] o padre Gonçalo Ferreira da Fonseca, que se tornou um chefe político na região do Camapuã, tendo sido vereador à Câmara de Queluz entre 1841 e 1848.[4] Por muitos anos, exerceu aquela capelania, onde residia na Fazenda São Gonçalo. Nessa sua propriedade, retirou-se o Cônego Antônio Marinho, historiador da Revolução Liberal de 1842.

Marinho foi um dos intelectuais do Partido Liberal que participaram do movimento que, em Minas, eclodira-se como um eco da rebelião dos paulistas, em retaliação às manobras do partido Conservador, que reassumira o poder no ano anterior, em detrimento às propostas de renovação. Inflamara-se a situação com a lei que criava o Conselho de Estado e a reforma do Código de Processo Criminal.

A marcha iniciou-se em junho de 1842, finda em Santa Luzia, após ter passado por Barbacena, Queluz e Sabará, onde os Legalistas prostraram os revoltosos, levados presos. Entre os mineiros detidos, alguns queluzenses, como o padre Francisco Pereira de Assis (tio paterno do Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira). Também foram presos o padre Gonçalo Ferreira da Fonseca e o Cônego Antônio Marinho, este após ter se entregado à Justiça, pois fugira quando os Legalistas venceram em Santa Luzia, o que causou espécie a Teóphilo Ottoni. À incompreensão do líder mineiro, Marinho teria retorquido: “Mais vale ser magro no mato, do que gordo na boca do gato”...

Marinho foi levado a julgamento na comarca de Piranga, quando surpreendeu o júri dada sua capacidade de auto-defesa, livrando-se da condenação que coube a muitos revolucionários, anistiados posteriormente a 14 de março de 1844, por beneplácito de Sua Majestade Dom Pedro II. O Xenofonte da Revolução, como o cognominou o historiador Moreira de Azevedo, retirou-se, então, na Fazenda São Gonçalo, na aplicação de Nossa Senhora da Lapa de Olhos d’Água. Naquele recanto, encontrou a tranqüilidade necessária para se refazer moral e intelectualmente. Nesse remanso, segundo a tradição, “no coração das virgens florestas”, segundo sua expressão,[5] teria escrito o livro “História do Movimento Político que no ano de 1842 teve lugar na Província de Minas Gerais”.

A obra, não obstante ter sido redigida ainda sob a inspiração da emoção de um liberal derrotado, não pode ser questionada quanto à falta para com a verdade dos fatos. Porém, é a visão dele apenas. Uma advertência que ele lançou ao fim do tomo segundo desculpa esse deslize, alegando que informações que pedira a outras regiões que se envolveram com o conflito chegaram às suas mãos tardiamente, quando o livro já se encontrava no prelo. Isso foi o suficiente para macular a honra do Exército Imperial, que denodadamente assegurara a integridade do Império e o poder do monarca, tendo à frente o bravo Barão de Caxias. Quanto aos anseios dos liberais, ficou também a lição para o Imperador, que no ano seguinte constatara a justeza do que lhe cobravam os revoltosos e teria afirmado anos mais tarde: “Foi um erro. Talvez o maior de todo o reinado”...

Anistiados os revoltosos, muitos retomaram as lides políticas. Cônego Marinho que, além de ter se dedicado ao magistério em Ouro Preto, Congonhas e São João del Rei, fora deputado à Assembléia Provincial, de 1835 a 1842, retorna à Corte, onde se elege à Assembléia Geral de 1845 a 1849. Sua atuação brilhante como parlamentar eloqüente na defesa dos interesses públicos reafirmava-o, mais uma vez, como vigoroso político intelectual pelo seu raciocínio e concisão das idéias; seria um sociólogo de seu tempo.

Sobre sua atuação legislativa, o historiador Rodrigues de Almeida observa que “se dedicou-se também à política, não o fez por egoísmo do interesse próprio, e jamais serviu-se dela como meio desonesto. (...) Tomando parte ativa nas questões partidárias, reconheceu o Cônego Marinho as inconveniências e as escabrosidades da política, dedicando-se voluntariamente depois tão somente ao sacerdócio, para o apostolado do bem”. Cônego Marinho, que fora pregador da Casa Imperial nomeado em 1839 e, ano seguinte, feito Cônego Honorário do Cabido da Sé do Rio de Janeiro, foi elevado à dignidade de Monsenhor camareiro secreto do Beato Pio IX, em 1847. De acordo com seus biógrafos, morreu pobre, vítima de febre amarela, no dia 13 de março de 1853, no Rio de Janeiro, onde foi sepultado no Cemitério São João Batista.[6]



[1] - VALE, Dario Cardoso – MEMÓRIA HISTÓRICA DE PRADS, Belo Horizonte, 1985, pág. 123

[2] - RICHA, Lênio Luiz – FAMÍLIA MORAES COUTINHO, in GENEALOGIA BRASILEIRA – ESTADO DO RIO DE JANEIRO – POVOADORES DA REGIÃO SERRANA - http://br.geocities.com/lenioricha/cantagalo_morcout.htm

[3] - VALE, opus cit. pág. 150

[4] - MILAGRE, Allex – MEMORIAL DA CÃMARA DE CNSELHEIRO LAFAIETE, 2005

[5] - SISSON, S. A. – GALERIA DOS BRASILEIROS ILUSTRES – JOSÉ ANTÔNIO MARINHO, in http://pt.wikisource.org/wiki/Galeria_dos_Brasileiros_Ilustres/Jos%C3%A9_Ant%C3%B4nio_Marinho

[6] - ALMEIDA, Joaquim Rodrigues de Almeida – CÔNEGO JOSÉ ANTÔNIO MARINHO, in HISTÓRIA DO MOVIMENTO POLÍTICO DE 1842, 2ª EDIÇÃO, Typographia Almeida, Conselheiro Lafayette, 1939

quinta-feira, maio 15, 2008

O mês de Maria

Há instantes na vida em que o homem parece retirar-se do cenário tumultuado do dia-a-dia e busca um alento para o seu ânimo, muitas vezes fragilizado por uma apostasia que vai se generalizando em todos os meios. E o mês de maio é um desses momentos propícios à interiorização, a partir de simples reminiscências, parecendo ouvir-se, ainda, ao longe, o toque de um sino, sentir um aroma de sacralidade e até o burburinho de crianças alegres e ansiosas parece tomar conta do ambiente de sua imaginação. É o mês de maio, dedicado à Virgem Maria.

É provável que uma das primeiras oportunidades que se tem nesta vida para desenvolver a espiritualidade nos seja dada ainda na infância. E as celebrações do mês de maio são uma delas, seguramente. A princípio, apenas o momento de se prestar homenagens à Medianeira de todas as graças, muitas vezes até cumprindo um capricho dos pais, uma herança que vem passando de geração a geração. Mas, ao meditar a grandeza do momento, ver-se-á que nada mais é do que a expressão sincera do que um católico espera: poder um dia contemplar, no páramo, a doce mãe, advogada dos pecadores. E a nenhuma criança pode ser tirada essa oportunidade terrena, de coroar a Virgem Maria, assim como desejaria coroá-la no céu.

Naquele momento em que todo esse anseio e essa alegria pueril se transluz nas figuras pequeninas que, vestidas a caráter, levam seu tributo a Maria, tudo tem um significado. Desde a procissão que caminha ao altar preparado para o ato, significando a caminhada da humanidade em busca da Perfeição, até as balas e doces distribuídas no fim (tão combatidas), cujo significado, para os pequeninos, nada mais é do que as graças que Deus as concede, por intercessão de sua Mãe Santíssima.

Enquanto o mundo avança em seu curso natural, ainda se pode parar por um momento e mergulhar nesse ambiente, até certo ponto de nostalgia, e relembrar aqueles momentos que só a percepção, ainda que limitada, de uma criança pode descrever, enquanto se ouve ao longe o coro pueril a entoar: “Meninas vimos trazer flores, / cantar hinos de alegria / nesta horas tão solene / saudar a Virgem Maria...”. Maio de tantas recordações...

quinta-feira, maio 08, 2008

Deus, Pátria, Família

A cidade de São Paulo reviveu um dos raros movimentos de lucidez dos movimentos sociais, no dia 1º de maio. Enquanto hostes subversivas, que por muito tempo ameaçaram a ordem nacional, requerem agora absurdas indenizações a ex-terroristas (por ironia do destino, alguns ocupando cargos públicos), um grupo de jovens idealistas reaviva os ideais da gloriosa Ação Integralista Brasileira (AIB). O manifesto chamou a atenção de quem passava pela Estação Pinacoteca, não pela formação dos jovens integralistas, ou pelo lábaro contendo o sigma num círculo central, mas pela maneira como se postavam: ordeiros, graves, silentes, diferente das arruaças a que chamam hoje de protestos ou manifestações.

No momento em que o mundo se perde em meio a ideologias confusas, massacrado pelos interesses de um capitalismo escravagista, numa sociedade laica, distanciando-se mais e mais de Deus, reacende o facho do Integralismo para indicar o rumo à humanidade. Ao contrário do que muitos boçais defendem, ainda que sua formação possa lembrar uma corporação ortodoxa, indo muito além com infelizes comparações com outros movimentos, a FIB não se assemelha aos frustrados Nazismo e Fascismo. Isso porque o Integralismo se submete a uma ordem hierárquica natural de valores espirituais e materiais, “de acordo com as leis que regem os seus movimentos e sob a dependência da realidade primordial, absoluta e suprema, que é Deus” (cf. Manifesto Integralista – 1932).

Aí está o ápice a que tudo se deve destinar: Deus – “...nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada...” (Jo 19,11). Nesse reconhecimento do poder divino desenvolve-se uma cadeia em que se sucede a hierarquia advinda dessa Autoridade, sendo espiritual sobre o moral, este sobre o social, o social sobre nacional e a este procedendo o particular. Plínio Salgado discerniu bem que em Deus está a força unificadora que assegura a convergência e o equilíbrio das vontades individuais e realiza a integração total das energias da Nação em razão do bem coletivo. Aí está a diferença dos outros movimentos.

Acalenta-nos a disposição dos neo-integralistas, reavivando-nos a esperança de uma restauração social com base nos princípios cujo resgate se vislumbra sob a égide da Frente Integralista Brasileira. Com a graça de Deus Nosso Senhor, há-de se resgatar a primazia da família na formação de uma Nação organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica, próspera e feliz.

Anauê!

sábado, maio 03, 2008

Enrico Dante, uma vida a serviço da Casa Pontifícia

Todo amante da Sagrada Liturgia da Igreja Católica, que busca estudá-la e acaba apreciando fotos e vídeos, principalmente anteriores ao Concílio Vaticano II, perceberá nas cerimônias da Basílica Vaticana a presença de Monsenhor Enrico Dante.

De estatura alta, muito magro, parecendo consumir-se em dedicação à liturgia papal e à contemplação dos Sagrados Mistérios, sua imagem não passa despercebida. É o dedicado mestre de cerimônias do Santo Padre, que desde jovem sacerdote ingressou no serviço da Cúria Romana, chegando a Cardeal da Santa Igreja.

Enrico Dante nasceu na cidade de Roma, a 5 de julho de 1884, onde cerrou os olhos para este mundo, abandonando-se completamente à vontade de Nosso Senhor, a quem serviu intensamente em toda a sua vida, no dia 24 de abril de 1967. Era filho de Achille Dante, um dedicado defensor de Giuseppe Garibaldi, e de Zenaide Ingegni. Tinha apenas 8 anos quando ficou órfão de mãe, juntamente com mais duas irmãs e um irmão, que mais tarde veio como missionário para o Brasil.

Após fazer os estudos secundários com os Padres de Sion, em Paris, ingressou no Colégio Capranica, na cidade de Roma, em 1901. Doutorou-se em Filosofia, Teologia, Cânones e Direito Civil, na Pontifícia Universidade Gregoriana, passando a advogar na Sacra Rota Romana.

Ordenou-se padre a 3 de julho de 1910, na Igreja de Santo Apolinário, em Roma, pelo Exmº. Sr. Dom Giuseppe Ceppetelli, Patriarca Latino de Constantinopla. De 1911 a 1928, Enrico Dante lecionou Filosofia no Pontifício Ateneu Urbaniano “De Propaganda Fide”; de 1928 a 1947, passou a reger, também, a cadeira de Teologia. Em 1913, ingressou como oficial da Sagrada Penitenciária Apostólica.

No dia 25 de março de 1914, foi admitido como membro da Pontifícia Academia de Cerimônias. O Santo Padre Pio XI confiou-lhe a reabertura da Nunciatura Apostólica de Paris, em 1923, ao que ele declinou, por ter duas irmãs em Roma que necessitavam dele, por serem órfãs. Continuou suas atividades na Cidade Eterna, sendo nomeado pelo Pai da Cristandade como suplente na Sagrada Congregação para os Ritos, a 26 de outubro daquele ano, passando a substituto a 28 de setembro de 1930.

Elevado à dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade, a 15 de maio de 1943, e, a 27 seguinte, feito sub-secretário da S. C. Cerimonial. A 13 de junho de 1947, foi elevado a Prefeito das Cerimônias Pontifícias. O ponto alto de sua atuação ao lado do Pastor Angelicus foi no Ano Santo de 1950. Em reconhecimento à sua atuação e dedicação à Casa Pontifícia, o Beato João XXIII fê-lo pró-secretário da Sagrada Congregação dos Ritos, a 24 de janeiro de 1959, passando a secretário a 5 de janeiro de 1960.

Exerceu o ministério pastoral, na Diocese de Roma, em Torre Nova e na Basílica Patriarcal de Latrão. Em Santa Maria em Monte, na Piazza del Popolo, foi decano do Cabido. Por mais de 40 anos, ouviu confissões na Igreja do Sacro Cuore al Suffragio, em Roma. Ao mesmo tempo, encontrava oportunidade para práticas esportivas, sendo um atleta entusiasta, que ajudou a fundar o Roma, time de futebol, além de praticar alpinismo.

Como cerimoniário da Casa Pontifícia, participou dos Conclaves de 1914, 1922, 1939, 1958 e 1963, atuando nas cerimônias de coroação dos papas Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Enrico Dante foi o primeiro mestre de cerimônias papal a ajudar o Sumo Pontífice numa sagração de um bispo no Rito Bizantino, a do futuro cardeal Gabriel Acacius Coussa, OSBA.

Em 28 de agosto de 1962, foi eleito arcebispo titular de Carpasia, mais uma forma de reconhecimento do Vigário de Cristo. A 21 de setembro seguinte, foi sagrado pelo Beato João XXIII, na Basílica Lateranense, sendo co-sagrantes o Exmº. Arcebispo Titular de Sardica, assessor da Sagrada Congregação Consistorial, Dom Francesco Carpino, e pelo Exmº. Arcebispo Titular de Teolemaide di Tebaide, assessor do Supremo Santo Ofício, Dom Pietro Parente. Na mesma cerimônia, foram sagrados, também, os futuros cardeais Cesare Zerba, Pietro Palazzini, e Paul-Pierre Philippe – OP.

Participou de todas a ssessões do Concílio Vaticano II (1962-1965). Dom Enrico Duarte teve atuação mis marcante na primeira sessão, inclusive fazendo parte de comissões. Entretanto, a partir da segunda sessão, os rumos incertos que as comissões e os trabalhos começaram a tomar, encontraram nele um determinado opositor.

O Papa Paulo VI elevou-o a Cardeal Presbítero da Santa Igreja, no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, com o título de Santa Ágata dos Godos, em Roma. Durante a cerimônia em que foi-lhe colocado o barrete, o Santo Padre, acidentalmente, pôs-lhe na cabeça o barrete do Cardeal Lawrence Shehan, que era muito maior, ficando a cabeça de Dom Dante enterrada sob o capelo, não sendo contido o esboço de um riso no rosto do Papa e de seus assistentes.

Com idade avançada, apesar de um estado físico sempre bem disposto, encontrou-o a enfermidade, para que se preparasse melhor para o encontro definitivo com o Pai. Hospitalizado, recebeu a visita do Papa Paulo VI, no dia 6 de abril de 1967, que foi levar o conforto espiritual e o protesto de gratidão da Casa Pontifícia àquele que a serviu, com tanta dedicação, por toda a vida.

A primavera avançava pelas primeiras semanas no ano de 1967. Roma amanhecia fria, um vento ainda cortava quem contra ele se lançasse pelas ruas da Cidade Eterna. Num dos quartos do Hospital Gemelli, prostrado num leito de sofrimentos finais, estava o Cardeal Enrico Duarte. Os Santos Sacramentos já lhe haviam sido administrados. O Santo Viático já o tinha em seu coração, aguardando o momento derradeiro. Entre uma invocação e outra da Ladainha dos Agonizantes, o Purpurado entregou sua alma ao Criador; voou ao encontro do Deus que sempre amou e serviu. Era 24 de abril de 1967.

Após solenes exéquias, seu corpo foi enterrado na Igreja de Santa Ágata dos Godos. Em sua memória, A. Fanttinnanzi ergueu-lhe um monumento em sua Sé Cardinalícia, em cuja cripta descansam seus restos mortais, à espera da ressurreição em Cristo Nosso Senhor.

Bibliografia

- "Enrico Dnte" in "I cenni biographici, le attività i meriti dei nuovi porporati" - L'Osservatore Romano, Cidade do Vaticano, nº 44, 22/23 de fevereiro de 1965, p. 5;

- McElwain, A. R. "That man beside Pope John. Monsignor Dante is always in the picture", Catholic Digest. XXVI, 9 de julho de 1962, pp. 14-18;

- Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Enrico_Dante




Busto do Cardeal Dante, sobre o monumento que lhe foi erigido na Igreja de Santa Ágata dos Godos



Ao lado do Beato João XXIII, no dia de sua coroação



Ao lado do Servo de Deus Pio XII, durante um consistório de eleição de novos cardeais



Lápide de seu monumento, na Igreja de Santa Ágata dos Godos



Gaveta mortuária na cripta da Igreja de Santa Ágata, onde jazem os restos mortais do Cardeal Enrico Dante

quinta-feira, maio 01, 2008

Decadência social

Na ânsia de emancipação em relação a Deus e à sua Revelação, o homem cortou as ligações com os princípios da ordem natural, separou a fé e a razão. Ora, ensina o Magistério da Igreja que "a reta razão demonstra as bases da fé e, esclarecida por ela, cultiva a ciência das coisas divinas; e a fé, por sua vê, livra e defende a razão dos erros e lhe proporciona inúmeros conhecimentos" (Const. de Fide Catholica, "Dei Filius", D nº 1.799). Mas isso gerou a Revolução e, esta, promoveu o liberalismo, o naturalismo e o racionalismo. Deificaram a razão, cavando abismos e levantando muralhas; forjaram uma liberdade, sem os fundamentos da verdade. Com este espírito fez-se a Revolução, cujos frutos sazonados a humanidade colhe e saboreia, alimentando a livre interpretação dos valores éticos e morais e dos princípios em que se baseiam.

Essa Revolução é quem advoga a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão, subterfúgio mor para propalar aos quatro ventos os mais absurdos conceitos, contaminando todos os meios sociais, principalmente aqueles sem formação e, pior ainda, sem capacidade de discernimento. E isso pode-se verificar a cada dia, principalmente quando a eficiência dos meios de comunicação cuidam em trazer-nos o máximo de informações possíveis, até as mais hediondas, como o tão explorado cruel assassinato da menina Isabella Nardoni, desrespeitada que está sua memória pela incessante investigação, como se pretendesse exaurir a disposição de todos, até da Justiça, em solucionar o caso.

A confusão de valores que prevalece em meio à sociedade atual, quiçá decorrente um distanciamento, cada vez mais intenso, dos princípios cristãos não pode continuar. Para contê-la, basta buscar nos relatos históricos a exemplo que nos deixaram aqueles que nos antecederam e restaurar, por exemplo, a prioridade da voz da Santa Igreja, que possui os meios para refrear o desvario da humanidade que se perde em desatinos. E deparamo-nos com um sermão proferido pelo cardeal Augusto Álvaro da Silva, em 1927, quando uma igreja, na Bahia, foi profanada e o Santíssimo Sacramento ultrajado - sinal de uma sociedade em decadência - e se atenta para a sua responsabilidade:

"Meus caríssimos irmãos, não é a vós que me dirijo agora; não, não é a vós. É a Ele, a Jesus Sacramentado! Não é a vós, que sentis também sobre a fronte, vergada ao peso do opróbrio, o raio inflamado da justiça de Deus! Não é a vós, que atirais aos ventos os gemidos de uma aflição sem termo! Não é a vós. É a Ele, no Santíssimo Sacramento! - É a Ti, ó Jesus, realmente aqui sobre este altar, nas mesmas espécies sacramentais em que foste vítima adorável de Teu amor para conosco! É a Ti, Senhor, que se elevam os meus brados de aflição... Nós Te sabemos horrivelmente ofendido na profanação de um dos filhos que me deste, que ousou levantar, contra Ti, mão sacrílega! - Não foi um só o criminoso! Foi meu também. Porque Pastor não fiz chegar, até este infeliz, as vozes claras na presença real... 'Ai de mim porque calei!'".