Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gn1,26). Esta é a afirmação do escritor sagrado ao descrever a criação divina. E o Catecismo Romano ensina-nos que "a pessoa humana é a única criatura na terra que Deus quis por si mesma e é destinada, desde a sua concepção, à bem-aventurança eterna". E mais, "Deus entregou o homem às mãos do seu arbítrio" (Eclo15,14), ou seja, sendo ele capaz de raciocínio, deu-lhe "o direito ao exercício da liberdade, exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo em matéria moral e religiosa".
Ora, capaz de discernir o bem do mal, o certo do errado, logo o homem deverá buscar somente aquilo que concorrerá para o seu crescimento, para sua perfeição, enfim, para sua salvação. No entanto, o relativismo, que infiltrou em todos os meios e vem contaminando todas as instituições e conceitos, está causando uma confusão tamanha na sociedade que se pode compará-lo à Babel de nossos dias. A linguagem única (a moral) que todos falavam, ou ao menos deveriam compreendê-la, já não é única. São muitos os idiomas que se ouvem (a permissividade). Eis, portanto, os dois grandes males contemporâneos: o relativismo e a permissividade.
E na última semana, tivemos mais uma comprovação dessa lamentável realidade. O governo federal autorizou ao Sistema Único de Saúde (SUS) as intervenções cirúrgicas de transgenitalização. Essa transgressão à natureza já vinha sendo consentida há poucos anos, mas agora arregimentou forças que fortaleceu os movimentos de "classe". Uniram-se esses comitês, ao Conselho Federal de Medicina e ao governo federal, com o aval da Justiça. Essa "permissão" - agora generalizada - não é uma simples questão "cultural" ou para assegurar a satisfação pessoal de um ou outro transexual.
A atitude do governo federal é como uma daquelas sacrílegas cusparadas com que ultrajaram Nosso Senhor em sua paixão. A atitude passiva do governo federal ante essas instâncias é o consentimento da profanação da criação divina, que é perfeita, para consolar os baixos sentidos que se afloraram com o pecado original e concordar com a satisfação pessoal de determinados indivíduos gerada por distúrbios psicológicos. A atitude do governo federal, por fim, é tão hedionda quanto o aborto e a eutanásia. É o clímax de sua presunção ao querer "corrigir" ou destinar a criação de Deus, levado pela mesma ambição que, segundo o Doutor Angélico, teriam se submetido os anjos que se decaíram, o desejo de se igualar a Deus. E semelhante orgulho é a causa da decadência moral a que assistimos. Bem se lê nas Sagradas Escrituras que "no orgulho tiveram início todos os males" (Tob4,14).
Quis ut Deus?