sexta-feira, agosto 28, 2009

Instinto de mãe


Dona Isabel, imperatriz de jure do Brasil, foi uma mulher determinada que, não obstante as críticas mordazes que lhe atiram seus desafetos, sempre demonstrou sua capacidade quando regeu o país e sua sensibilidade no trato com as pessoas e no ambiente familiar. Uma das belas páginas de sua vida, em que suas virtudes sempre ilustram edificando a todos, relata o encontro da Redentora dos Cativos com o Pai da Aviação.
O mineiro Santos Dumont, conforme ele mesmo relata em seu livro “Dans L’Air”, teria recebido a visita da Mãe dos brasileiros no exílio, em meados de 1901. O engenhoso brasileiro realizava os primeiros ensaios com o dirigível N-5, com motor de 16 cavalos-vapor, 550 metros de cubagem, 36 de comprimento e 6,5 de diâmetro. Dezenas de pessoas eram atraídas aos parques parisienses para assistirem às evoluções de monsieur Dumont. “Suas evoluções aéreas fazem-me recordar o vôo dos nossos grandes pássaros do Brasil. Oxalá possa o Sr. tirar no seu propulsor o partido que aqueles tiram das próprias asas, e triunfar, para glória da nossa querida Pátria”, teria dito a Condessa d’Eu quando visitada pelo súdito fiel.
Numa das evoluções com o N-5 – aliás, com o qual conquistou posteriormente o “Prêmio Deutsch” -, o motor parou e o dirigível, levado pelo vento, chocou-se com o arvoredo do parque do Barão Edmond de Rothschild. Próxima ao local, Dona Isabel mandou-lhe seus préstimos, enquanto ele tentava recuperar a estrutura do N-5. Passados alguns dias, a generosa Imperatriz dos brasileiros fez chegar às mãos de Santos Dumont uma medalha de São Bento, com os seguintes dizeres:
“1º de agosto de 1901.
Senhor Santos Dumont,
Envio-lhe uma medalha de São Bento, que protege contra acidentes.
Aceite-a e traga-a na sua corrente de relógio, na sua carteira ou presa ao seu pescoço. Ofereço-a pensando na sua bondosa mãe, pedindo a Deus que o socorra sempre e lhe permita trabalhar para a glória da nossa Pátria.
Isabel, Condessa d’Eu.”
Dizem que Santos Dumont doravante sempre trouxe consigo a medalha presa por uma corrente ao pulso. O biógrafo do Pai da Aviação, Henrique Dumont Villares, em seu livro “Santos Dumont - Quem deu asas ao homem” (Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1953), relata, também, que, “por um requinte de delicadeza, Santos Dumont, quando algum membro da antiga Família Imperial do Brasil - como aconteceu várias vezes com a princesa Isabel - assistia às suas ascensões, em vez da bandeira nacional republicana, limitava-se a desfraldar no balão as cores brasileiras, numa arbitrária flâmula verde e amarela”, enquanto Dona Isabel e os demais membros da Casa Imperial do Brasil, retirados na França, vibravam com o êxito de seus patrícios.