sexta-feira, maio 22, 2009

Calúnias ao vento

Outrora, quando os meios de comunicação eram ineficientes e as investigações demoradas, quando não burladas, facilmente se disseminava uma calúnia. Assim aconteceu com os cavaleiros templários, alvo da ambição de Felipe IV da França, cognominado O Belo, que em 1307 conseguiu exterminar a Ordem e confiscar os seus bens, causando sofrimento a tantas pessoas que assistiram, atônitas, as atrocidades cometidas. Entre tantas acusações impetradas contra os monges-guerreiros, incitadas pelo monarca francês, estava a de idolatria a uma “cabeça com barba”.
Recentemente, o L’Osservatore Romano publicou um interessante artigo da pesquisadora Barbara Frale, estudiosa do tão cobiçado Arquivo Secreto do Vaticano, em que ela conclui que a “cabeça com barba” venerada pelos templários nada mais era do que o Santo Sudário. Em “Os templários e o Sudário – Os documentos demonstram que o tecido lençol foi custodiado e venerado pelos cavaleiros da Ordem no século XIII”, a pesquisadora minuciosa discorre sobre a trajetória da instituição, ereta com a finalidade de custodiar os lugares santos. Na consultas dos documentos diversos, Frale encontrou no processo contra os templários a descrição do ingresso de Arnaut Sabbatier, em 1287, no grêmio dos templários.
De acordo com o documento, Sabbatier teria sido conduzido a um local só acessível aos monges-soldados do Templo, onde lhe teria sido apresentado um lençol de linho com a figura de Nosso Senhor impressa. Obedecendo às disposições do cerimonial, ele teria osculado-o três vezes na altura dos pés. Esse lençol de linho Barbara Frale não duvida que fosse o Santo Sudário, inclusive baseando-se nos estudos de Ian Wilson, da Universidade de Oxford, especialista na sagrada relíquia. Wilson afirma que a relíquia teria desaparecido após o saque da capela dos imperadores de Bizâncio, em 1204, reaparecendo no espólio do templário Geoffroy de Charney, que foi queimado juntamente com o grão-mestre da Ordem, Jacques de Molay, por determinação de Felipe IV.
Inúmeras calúnias foram promovidas e disseminadas para ignomínia dos Templários, inclusive fomentando a imaginação de tantas pessoas, construindo fábulas absurdas, antagônicas à realidade dos fatos, diferentes dos sinceros propósitos daqueles cavaleiros. Uma delas é o famigerado “O Código da Vinci”, cujo correr da pena de Dan Brown foi impulsionado pela ânsia de sensacionalismo, sem um sólido embasamento histórico, senão um cruzamento de suposições levianas, depondo contra a verdade dos fatos e a idoneidade das personagens reais e das instituições.
O trabalho da professora Barbara Frale é digno de todos os encômios, pelo bem que proporciona à humanidade, desvendando o passado ofuscado não só pelas brumas do tempo, mas pela tirania de determinados governos que, à custa do sacrifício da honra e da verdade, manchou a si próprio com o sangue inocente dos bons, lançando ao vento as penas da difamação. Aliás, essa mesma pesquisadora, há poucos anos, foi quem encontrou o célebre Pergaminho de Chinon, por meio do qual o Papa Clemente V exonera de culpa os templários. Permita Deus, o trabalho da doutora Frale não seja apenas uma referência, mas um exemplo de dedicação, de seriedade e de comprometimento para com a história e com a verdade.