sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O direito à vida

Na última quarta-feira, iniciou-se no Brasil a Campanha da Fraternidade, promovida desde 1963 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A cada ano, um tema é apresentado pelo episcopado para a reflexão de todos, atento à realidade e à necessidade do momento. Há dois anos já havia sido definido o tema para 2008: “Fraternidade e defesa da vida”. A vida: graça de Deus para os crentes e um mero existir pelos céticos, mas à qual se apegam uns e outros, numa desconfiança do porvir após a morte ou simples gostar de viver. Com isso, buscam-se recursos muitos para prolongar a presença de cada um neste mundo.

Entretanto, esse desejo de viver, esse apego ao mundo, acaba por conduzir o mundo por sendas em que essa vontade se acentua de tal forma que priva essa graça ou direito de outrem. Assim temos, numa primeira percepção, a polêmica do aborto. Por que praticá-lo? Seria por egoísmo, por não querer dividir-se com alguém? Seria por tamanho amor-próprio que não se permitiria doar a uma parcela sua que também se faz homem? Como detestar a carne de sua carne, o sangue de seu sangue, mesmo que essa concepção tenha sido traumática ou, como dizem, indesejada? Seria tanta soberba a ponto de se julgar senhor da vida? Da mesma forma a eutanásia é defendida, como se a vida dependesse apenas da vontade do homem.

Daí se segue também outra polêmica questão, que é a do uso dos preservativos e contraceptivos. Constatam-se, então, os equívocos que desnorteiam a conduta do homem – em nosso caso dos brasileiros – e querem impor ao mundo e até à natureza a “ordem” que defendem. São sem sentido as críticas que lançam contra a Igreja, como se ela fosse uma mera entidade, regida por estatutos humanamente alteráveis ao bel prazer de seus dirigentes e à necessidade do comodismo que se busca em nossos dias. Ora, a Igreja é uma instituição divina – para os que assim crêem e como ela mesmo se define – e a ortodoxia de sua doutrina é imutável, assimilada em todos os tempos sem interpretações relativistas. Ao se opor ao uso de preservativos ou contraceptivos ela não se mostra insensível aos riscos de se contrair doenças sexualmente transmissíveis ou outras “conseqüências”, como a de gestações indesejadas; ela tanto se preocupa que indica o remédio que possui para isso, que é a prática da castidade segundo o estado de vida. Ridículo? Não. Ridículo é sair por aí gozando a vida feito animais irracionais, atraídos pelo cheiro ou seduzidos pelas formas, desrespeitando-se e aos outros também.

E por aí se seguem outras tantas desordens que colocam em risco a vida humana. O desejo incontrolável do ser, do ter e do poder levam o homem, desestruturado moralmente, buscar a afirmar-se à custa de tudo o que tem ao seu alcance. Assim vemos o domínio que se vai aumentando sobre o sofrimento, seja ele físico ou moral, dos outros. Atualmente, no Brasil, o tráfico de drogas é um dos responsáveis pela desorientação social, a desestruturação das famílias e pelo fracasso de muitos jovens. Para sorver de um prazer momentâneo, efêmero, vão se destruindo. Isso é conseqüência de uma neo-barbárie a que assistimos impor seus limites, definindo seus domínios, é quase como que uma guerra civil que ameaça deflagrar-se - senão já em combate – sem nenhum motivo étnico ou ideológico, simplesmente pelo mostrar-se mais forte, como os bárbaros de antanho.

Por isso, a CNBB propõe a reflexão sobre o direito à vida, orientando a defesa e a promoção da existência humana, desde a sua concepção até à morte natural, “compreendida como dom de Deus e co-responsabilidade de todos na busca da sua plenificação, a partir da beleza e do sentido da vida em todas as circunstâncias, e do compromisso ético do amor fraterno” (cfr. Texto-base da CF 2008).