sexta-feira, abril 03, 2009

Dissenção religiosa

Desde que iniciou o seu pontificado, há quase quatro anos, o Papa Bento XVI tem sido alvo de críticas decorrentes de uma aparente proposital má interpretação de suas palavras. Alguns vaticanistas atribuem esses equívocos a uma inoperância da assessoria de imprensa da Santa Sé; outros, a mais uma investida de anticlericais endemoninhados, o que em determinadas épocas acontece desde os tempos apostólicos. As palavras de Bento XVI, no entanto, não revelam nenhuma novidade. O que ele diz é o que a Igreja sempre ensinou; ele reafirma apenas o que vinha sendo esquecido em meio à confusão de um mundo conturbado por um progresso desordenado em todos os sentidos, que vai se paganizando, a ponto de influenciar uma secularização dos meios religiosos.
A voz que se ecoa desde a colina vaticana é o Magistério Petrino apontando para todo o orbe as sendas da salvação. Impossível buscar atribuir a essa firmeza do ensinamento dogmático uma outra finalidade, senão a de nos resguardar da perdição do mundo, da carne e do demônio. Que outro interesse teria o Santo Padre em incitar todo o mundo a uma elevação espiritual, aspirando as cousas do alto, como nos exorta São Paulo: “Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra” (Col 3,2)? E é no versículo seguinte dessa epístola que o Apóstolo nos lembra que estamos mortos, “e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”; mortos para este mundo, livres em Deus – “inter mortuos liber”. O mundo, porém, não mais consegue ouvir o ensinamento da Igreja, ou melhor, não mais o quer ouvir. O comodismo, os atrativos, a irresponsabilidade são mais condizentes com o hedonismo, professado por todos aqueles que, pela sua ideologia, pelo seu posicionamento político, pela imoralidade, pela falta de caridade, por mera desfaçatez, intentam contra o Corpo Místico de Cristo.
Causa-me estranheza quando se levantam contra a Igreja, mais especificamente contra o Santo Padre, como que lhe cobrando uma retratação. Ora, não se cobram explicações, senão quando se deseja uma compreensão clara, movida pelo anseio de aprender, de assimilar, de professar. Como podem os muçulmanos ouvirem o Papa, se não o reconhecem como Vigário de Cristo? Com que direito os judeus cobram explicações da Igreja, se “a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a Luz, pois as suas obras eram más” (Jo 3,19)? Como se levantarão os ociosos morais e buscarão a emenda, se preferem a satisfação que o mundo lhes oferece? Jesus diz a Nicodemos que “quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado” (Jo 3,18).
A voz do Papa é tão simplesmente a reafirmação da doutrina cristã. “Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,17). Sim! Seja salvo por Ele, pelo seu ensinamento, pelo seu sacrifício, “para dar testemunho da verdade”. Esse mundo que hostiliza o Cristo é o mesmo que, desde a Criação, intenta contra o homem, flagela a humanidade contra a sua dignidade, atraindo sempre mais asseclas, reunidos hoje em movimentos, instituições, ongs, seitas religiosas, grupos ideológicos, enfim todos aqueles que, surdos diante do Magistério da Igreja, cegos diante da Cruz, preferem, talvez, ser contados entre aqueles que já foram condenados: “Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25,41).