Um certo desconforto causou a ativistas de movimentos indígenas, a determinados setores da sociedade nos países da América Latina, principalmente, e até a alguns membros da Igreja a declaração do Papa Bento XVI acerca da relação entre os missionários colonizadores e os aborígenes. O Bispo de Roma referiu-se à receptividade dos missionários pelos nativos, visto que "Cristo era o salvador que esperavam silenciosamente". Uma análise mística de seu comentário é possível, pois todo ser sempre espera algo que o complete, que lhe conceda uma plenitude existencial de tal forma que nada mais desejará. Ora, somente o Cristo pode satisfazer dessa forma, quando se alcança o grau da contemplação na vida espiritual.
Mas nem todas as pessoas conseguem compreender esse processo de crescimento, a passagem pelas moradas tão bem discorridas por Santa Teresa d'Ávila. Preferem o agrilhoamento das paixões mundanas e, por eles, conceituarem e julgarem os fatos, as coisas e as pessoas. Se assim o querem, por que, principalmente os ativistas histriônicos, não refletem sobre as verdades históricas e as reações dos nativos, em toda a América? Propalam uma lenda negra, cujo intento é caluniar a Igreja e aqueles que regaram este solo com seu sangue; Deus louvado, talvez tantos martírios foram necessários para que a fé católica florescesse na Terra de Santa Cruz e nos demais países que hoje, mesmo com a intentona do comércio da fé por inúmeras seitas evangélicas, ainda erguem sobranceiro o estandarte de Cristo Rei do Universo.
Quantos missionários deixaram sua pátria, cruzaram o oceano e vieram testemunhar o Evangelho nestas terras, embrenhando-se nas florestas, acrescentando (sim, acrescentando) à cultura indígena a européia, com a medicina, engenharia, música, literatura - como exemplo as Missões Guaraníticas. Longe de destruir as culturais locais, eles as preservaram, estimularam e as desenvolveram, desde que não fossem de encontro ao direito natural e ao Evangelho. Aí é que está o campo da discórdia, porque, certamente, esses ativistas charlatães e alguns outros imbecis mal informados estejam de acordo com o canibalismo dos Goitacazes, a promiscuidade de tantas tribos tupiniquins, os horrendos sacrifícios de dezenas de milhares de seres humanos pelos Maias, Incas e Astecas, que arrancavam o coração das vítimas e ofereciam-nos às suas divindades.
Nestes dias em que a violência é crescente, a imoralidade em todas as áreas se dissemina com tanta fluidez, em que os valores se apresentam invertidos, talvez o Papa esteja "errado" e, antes, o Evangelho. O repúdio às palavras do Vigário de Cristo, mais uma vez, confirmam a globalização da barbárie em que vivemos.
"Tupanrekê".